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Em Buenos Aires, dispense o vinho e faça como os locais

Bebida foi inventada em 1845 e chegou à Argentina nas malas de imigrantes italianos como remédio para enjoo

Portenhos mais velhos conservam a garrafa no banheiro; nas gerações seguintes, elas foram às prateleiras da despensa

DO ENVIADO A BUENOS AIRES

O estrangeiro que se senta em um bar em Puerto Madero ou na Recoleta provavelmente vai pedir um vinho ou uma cerveja argentina e se levantar da mesa se sentindo muito portenho.

Mas o drinque nacional da Argentina, uma espécie de caipirinha dos "hermanos", é outro: o "fernet con coca", ou com "cola" -mas os mais íntimos também o chamam de "fernando", "fernucho" ou "cabezón" (este último, para uma dose mais forte).

Vendida por até 40 pesos (R$ 18) na vida noturna da capital, a bebida tem como ingrediente-base, como o próprio nome diz, o fernet.

Criado em 1845 pelo boticário Bernardino Branca, em Milão, o "amaro" chegou à Argentina nas malas dos imigrantes italianos, como remédio -recomendado para curar os eventuais enjoos que poderiam acometer aqueles que cruzavam o Atlântico.

Embora os mais velhos ainda guardem suas garrafas no banheiro, nas gerações seguintes elas passaram às prateleiras da despensa.

A bebida de sabor amargo, frequentemente comparada ao Campari ou à Jägermeister (embora com menos açúcar -e sim, o primeiro gole pode não ser dos mais agradáveis), caiu no gosto local e hoje só fica atrás do vinho e da cerveja em vendas -com cerca de 20 milhões de litros consumidos por ano no país.

Diversas marcas vendem a bebida, mas a mais comum em bares chiques, e também a mais cara, é a da destilaria criadora do produto, a Fratelli Branca. Sua receita, secreta, inclui mais de 40 ervas na composição, entre elas o caríssimo açafrão -a empresa responde por 75% do consumo mundial do produto.

Já em 1925, a companhia instalou uma fábrica próxima a Buenos Aires. Hoje em dia, sua planta argentina é a única em atividade fora de Milão. O processo de fabricação envolve o descanso do líquido por até um ano em barris de carvalho.

Se Buenos Aires responde pelo maior consumo geral da bebida, com 35% do total na Argentina, Córdoba detém a liderança do consumo "per capita". É desta que vem a receita mais famosa de "fernet con coca", o "90210": 90% de fernet, duas pedras de gelo e 10% de Coca-Cola.

O mais comum na capital argentina, porém, é que a dosagem seja mais fraca, com mais gelo e menos álcool. Em muitos lugares, o copo vem somente com fernet e gelo,

e o cliente, com a garrafa de Coca (ou Pepsi, dependendo do bar, embora os puristas não a recomendem), ministra a dosagem.

Integrado ao imaginário do país, "fernet con coca" também se tornou um hit da banda de rock Vilma Palma e Vampiros em 1993. E, ao contrário do que pensa Alfred Pennyworth (Michael Caine), o mordomo de Bruce Wayne, em "Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge", é muito mais fácil encontrar um trago de fernet numa esquina de Palermo Soho do que na Itália.

(DANIEL MÉDICI)

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