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Vivos e mortos 'se divertem' no dia de Finados mexicano

Famílias cobrem túmulos com toalhas de mesa e fazem ceias com bebidas; momento é de festa e expansividade

Povos pré-colombianos tinham em comum a relativização da morte; cristianismo teve que se adaptar ao misticismo

DO ENVIADO AO MÉXICO

Finados é, no Brasil, um dia de recolhimento. No México, é um dia expansivo, numa comemoração em que os vivos evocam os mortos como se eles também participassem de uma grande festa.
Famílias cobrem os túmulos com toalhas de mesa, preparam ceias com muita bebida, cantam e dançam à luz das velas. Os cemitérios não fecham nas duas noites que precedem o 2 de novembro.
Os familiares ainda neste mundo se misturam mentalmente aos que já se foram. E todos aparentemente se divertem um bocado.
Há um atavismo curioso na cultura mexicana. As civilizações pré-colombianas tinham em comum a relativização da morte. Com a chegada dos espanhóis, no século 16, o cristianismo passou a ser vivenciado com misticismo e muita evocação do além.
O escritor mexicano Juan Rulfo (1917-1986) publicou em 1955 "Pedro Páramo", um dos mais fabulosos romances latino-americanos, em que os personagens transitam entre a vida e a morte sem a mínima cerimônia.

DO CEMITÉRIO ÀS RUAS
Em termos práticos, Finados deixa a comemoração dos cemitérios para cair nas ruas e no cotidiano de lares e empresas. Armam-se pequenos altares com oferendas. São alimentos e bebidas apreciados pelos mortos da família ou da firma.
Caveirinhas de cerâmica trazem em etiquetas coladas à testa os nomes dos presentes e daqueles que se ausentaram pela eternidade.
Uma lanchonete de nome americano na Cidade do México trazia do lado de fora um cartaz em homenagem a um funcionário recém-falecido. "Jamais te esqueceremos, Juan." A poucos metros dali, no centro histórico da cidade, crianças com menos de dez anos circulavam de mãos dadas com os pais.
Detalhe: todas elas vestidas com mortalhas (véu negro encobrindo o rosto) e uma maquiagem que imitava a palidez dos defuntos.
No Zócalo, a praça diante da catedral, pequenos carros alegóricos com seres fantásticos em papel-machê -dragões alados, porcos cobertos de penas- faziam a ponte entre vivos e mortos.
A morte traz de certo modo um pouco do realismo fantástico. Tudo o que se possa imaginar cabe direitinho dentro dela. (JOÃO BATISTA NATALI)

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