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NACIONAL E POPULAR
BH se apresta para eleição de melhores botecos
Festival Comida di Buteco começa em 9 de abril com 41 estabelecimentos que criam petiscos especiais
THIAGO MOMM
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Como uma feijoada começando a borbulhar na cumbuca,
Belo Horizonte vive a espera do
Comida di Buteco 2007 (www.comidadibuteco.com.br), de
9 de abril a 9 de maio. O festival
acontece todos os anos.
Nesta edição do evento, participarão 41 botecos, cinco a
mais do que em 2006 e 35 a
mais do que na primeira edição
do festival, em 2000. Eles representam apenas 0,3% dos 12
mil bares da capital, mas fica
difícil acusar o evento de não
promover a "botecocracia": a
maioria dos competidores não
é de estirpe.
Originalmente simples, não
precisam de falsas sujeiras nas
paredes para ganhar a cada vez
mais comercialmente desejável pecha de sujinhos.
O bicampeão Bar do Zezé ensinou a muitos moradores que
o bairro onde fica, o Barreiro de
Baixo, não está além dos limites da cidade. Antes de participar do evento, aberto apenas
como mercearia, nunca deve
ter visto espera de uma hora
em sua porta. Ou um ônibus da
Gaviões da Fiel, que um dia estacionou lá às 8h30, antes de
um jogo, e obrigou a abertura
das portas. Para quê? Para conferir a fama do Zezé.
"Botecocracia" mineira é
coisa séria. Eduardo Maia, 49,
idealizador do festival, é conhecido, mas os jurados do
concurso, não, ele afirma.
Outra medida para evitar
distorções é o peso dos votos
desses jurados, que aumentará
de 20% para 30%, enquanto o
dos freqüentadores cairá de
80% para 70%. A medida foi tomada para evitar bairrismos, já
que bares da periferia têm muitos moradores locais entre os
votantes, enquanto, em outros
bairros, o público varia. Por isso, muitos marcam indistintos
"dez" para prestigiar o bairro e
o dono do bar -que, invariavelmente, conhecem.
Na BH de cerca de 2,5 milhões de pessoas, o Comida di
Buteco 2006 teve 110 mil votos
válidos. Válidos, sim, porque os
mais desalinhados, incapazes
de conciliar as cachaças mineiras com o preenchimento correto de cédulas, têm o voto invalidado. Também vota quem é
de fora. Os turistas dão cada
vez mais pitaco nas avaliações.
Os bares enchem, as mesas
tomam as calçadas, as cervejas
gelam às pilhas e na cidade não
se fala em outra coisa. Para a
discussão continuar durante
todo o ano, os estabelecimentos colocam a lista dos pratos
inscritos nas edições anteriores nos menus.
Desconstrução
Os últimos dez colocados de
um ano não participam no seguinte, dando vez a novos convidados. Como 2007 terá aqueles cinco participantes a mais,
há 15 estabelecimentos ainda
não divulgados pelos organizadores. Especular quais são eles
e que novo prato oferecerão é,
para os belo-horizontinos, algo
como discutir os temas de escolas de samba para os cariocas.
Os donos dos botecos comemoram que os mineiros, intolerantes com filas, já topam esperar para comer e votar. E até
mesmo já andam com paciência para subir escadas, brinca o
dono do Via Cristina, que funciona em um segundo andar.
Vota-se com documento de
identidade, uma vez em cada
boteco. Qualifica-se a higiene, o
atendimento, a temperatura da
cerveja e o tira-gosto que o local
preparou para o evento.
Para não deturpar o conceito
de petisco, em 2007 serão avaliados tira-gostos que possam
ser comidos somente com garfo ou com palito.
O Bar do Kobes deve inscrever um prato que contém, entre
outras coisas, um bolinho de
arroz, com feijão dentro. Ao observar o tira-gosto, Eduardo
Maia, também professor de
gastronomia, empolga-se: "Isso
é Ferran Adriá puro. Isso que é
desconstrução", diz, referindo-se ao famoso chef catalão e a
uma técnica da sua cozinha.
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