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Candombe pulsa no lar do tango
Carnaval afro-uruguaio ocupa ruas em fevereiro; grupos saem especialmente dos bairros Sur e Palermo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MONTEVIDÉU
Não tem nada a ver com candomblé, a não ser a mesma origem: a cultura dos escravos negros que se desenvolveu sob a
sombra das chibatas no continente americano. Um virou religião, o outro, música.
O candombe é o ritmo popular por excelência do Carnaval
afro-uruguaio, paixão que lembra o samba e que ocupa as ruas
e os teatros da capital ao lado
das murgas -agrupações que
satirizam acontecimentos e
personalidades, sobretudo políticas, em espetáculos que
unem atuação e música.
As apresentações duram 40
dias -dos fins de janeiro ao início de março-, o que faz os uruguaios se gabarem, não sem
uma boa parcela de auto-zombaria, de ter "o maior Carnaval
do mundo".
O melhor do candombe vem
logo no início dos festejos: nas
primeiras semanas de fevereiro, Montevidéu pára para ver e
ouvir as "Llamadas", noite em
que os mais de 30 grupos de
candombe da cidade dançam
pelas ruas dos bairros Sur e Palermo, perto do centro, com
seus tambores e estandartes.
As calçadas e casas que conformam o perímetro do desfile
ficam lotadas de admiradores e
turistas. Para conseguir um lugar de onde seja realmente visível a passagem dos grupos, é
necessário alugar uma das varandas com antecedência.
As "Llamadas" reproduzem e
recordam um ritual herdado da
escravidão negra, quando os cativos, na falta de outras possibilidades mais diretas de comunicação, chamavam e alertavam seus companheiros com o
toque dos tambores.
No Carnaval uruguaio, as sonoridades de três deles permaneceram como baluartes: o "repique", o "chico" e o "piano",
base sonora sobre a qual dançam as "vedetes" -mulheres
nem sempre esculturais, mas
com a mesma energia e orgulho
das passistas brasileiras-, a
"mama vieja" (personagem que
simboliza as velhas escravas e
que porta saia rodada, leque e
pano na cabeça), o "gramillero"
(companheiro da "mama vieja", figura encurvada que dança
de chapéu e com a ajuda de uma
bengala) e o "escobero" (bailarino que faz malabarismos com
uma haste enquanto executa
ágeis passos de dança).
Se para sambar bem o segredo está em conseguir coordenar, com graça, naturalidade e
ritmo, o gingado dos quadris e o
movimento de pernas e pés, no
candombe a ordem é manter
cintura e pés em segundo plano, enquanto os braços ganham
destaque, alternando-se suave
e sincopadamente.
Aprender não custa, literalmente, nada. Durante todo o
ano, grupos saem às ruas para
ensaios ou por pura diversão
-especialmente nos bairros
Sur e Palermo, redutos históricos da população negra de
Montevidéu-, e então é possível entender melhor como é
que funciona essa história de
ouvir um batuque e sair balançando os braços, e não as cadeiras, por aí.
(DENISE MOTA)
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