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Bar Naval, 100, abrigou de Lupicínio a Getúlio
"Poeta do mercado" trabalha e declama poemas ali
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
As cadeiras e ventiladores
centenários do Bar Naval testemunharam muito da política,
da literatura e da música gaúcha. Os ex-presidentes Getúlio
Vargas e João Goulart eram
freqüentadores assíduos, nos
anos 50, como o ainda desconhecido Lupicínio Rodrigues,
que consumia, além de "uma
cachacinha, por favor, camaradinha", folhas e folhas de papel
para rabiscar composições.
As paredes de azulejos amarelos, ainda originais da inauguração do Naval, em 1907, estampam fotos de clientes misturadas a poesias escritas por
quem guarda a memória viva
do bar: "o poeta do mercado",
Paulo Naval, 71.
Darcy Souza Oliveira começou a trabalhar como garçom
ali em 1957. Incorporou o nome
do botequim como sobrenome
e trocou Darcy por Paulo.
Simples assim, como é sua
rotina há 50 anos entre mesas,
clientes, barris de chope e a
produção da cachaça Barroldinha, uma tradição da casa.
Feita de uma exótica semente importada da Alemanha,
chamada barrolda, é vendida
somente em doses aos clientes
que insistem, sem sucesso, em
levar uma garrafa para casa.
Enquanto trabalha, observa a
clientela. Se vê alguém triste e
sozinho, declama seus poemas,
que, irresistíveis, geram pelo
menos um pequeno sorriso.
"Havia alguns dias, estava
sentado um homem com sotaque diferente. Era de Recife.
Perguntei o que tinha e respondeu que era saudade de casa",
conta Naval. E emenda, reproduzindo o diálogo com o cliente: "Saudade é como espinho à
procura da flor, é o martírio do
amante a viver sozinho, distante de seu amor (...)".
Hoje, ele administra o bar e
serve chope e especialidades da
casa, como o carreteiro de charque, o bolinho de bacalhau e a
traíra gaúcha.
(SIMONE IGLESIAS)
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