|
Próximo Texto | Índice
JAPÃO/EUA
Filme de Sofia Coppola em cartaz narra dificuldade de ocidentais em decifrar o Oriente
Tóquio e LA são esquinas do mundo
SILVIO CIOFFI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO E LA
O título do filme "Lost in Translation", de Sofia Coppola, que recém-chegou aos cinemas brasileiros como "Encontros e Desencontros", tem tradução discutível,
mas nele dá para compreender
um pouco da sensação de estranhamento, solidão e cumplicidade que os ocidentais têm ao vivenciar a brutalidade da distância
voada, o emaranhado de signos
estranhos e a monumentalidade
ultracontemporânea de Tóquio.
Em esquinas diferentes do
mundo, o Japão e os EUA têm em
comum tanto um mar de afinidades quanto um mundo de diferenças -e isso transparece na
comparação de Los Angeles (codinome LA), na Califórnia, onde
moram os protagonistas do filme,
e Tóquio, aliás, unidas semanalmente por quatro vôos diretos a
partir do Brasil, da Varig, e por
vôos que as companhias americanas, como American, Delta e United, fazem entre os dois destinos,
com uma escala a mais nos EUA.
Curiosamente, o site da CIA
(www.cia.gov), a agência de inteligência dos EUA, afirma que a
área do Japão é "ligeiramente menor do que a do Estado da Califórnia". E, se Tóquio tem em Ginza
seu bairro chique e ocidentalizado, Los Angeles compra em Beverly Hills, em lojas que se equivalem, falam as mesmas língua e comerciam nas mesmas moedas.
Verso e anverso
Hoje, a soma do comércio bilateral EUA/Japão está na casa dos
US$ 172 bilhões (de acordo com
estatísticas de 2002) e a presença
norte-americana é tão intensa no
Japão quanto é significativo o número de nipo-descendentes nos
EUA, onde produtos japoneses
imperam, dos automóveis aos
eletroeletrônicos, passando por
artigos da moda e cosméticos.
Mas os mares intensamente navegados entre o arquipélago do
Japão e os EUA -notadamente
na costa da Califórnia- nem
sempre foram símbolo de relacionamento pacífico entre essas potências mundiais.
Embora tenham recebido um
substantivo número de imigrantes japoneses no início do século
20, os EUA guerrearam com o Japão. Na Califórnia, a população
de origem nipônica foi segregada
depois de 1941, quando a aviação
militar japonesa bombardeou
Pearl Harbor. Por sua vez, os EUA
jogaram bombas atômicas em
Hiroshima e Nagasaki em 1945,
enquanto pilotos suicidas japoneses, os camicases, eram treinados
para lançar seus aviões sobre navios de guerra norte-americanos.
O resto é história entre esses
dois grandes países que chegaram
à guerra e forjaram grandes alianças empresariais com igual voracidade. A imigração japonesa para os EUA é contemporânea à vinda de nipônicos ao Brasil.
Mas, como no Brasil a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945) foi
feita mais de tinta e de papel jornal do que de batalhas e de sangue, aqui não houve campos de
confinamento tão severos para japoneses como nos EUA, onde os
nipo-descendentes foram isolados no Jerome Camp, em Manzanar e em Tule Lake.
No Estado da Califórnia, onde
os japoneses eram ainda mais numerosos que no Havaí, os "isseis"
(primeira geração) e os "sanseis"
(terceira), emblematicamente retratados pelas lentes de Dorothea
Lange (1895-1965), foram mandados ao interior.
Já cerca de 2.600 "nisseis" (segunda geração, chamados de
"American's of Japanese Ancestry/AJA's") foram selecionados e engajados no regimento
442, com sede no Havaí, para
combater nas frentes de batalha,
seja na Europa, seja no Pacífico.
O tempo apagou as feridas, japoneses viraram americanos, os
EUA se orientalizaram quase na
mesma proporção que, no pós-Guerra, o Japão se ocidentalizou.
O legado, este, sim, muito parecido com o que os nipo-descendentes deixaram no Brasil, se traduz numa das mais belas páginas
da história mundial, em indústrias pujantes, em artes plásticas e
até nas artes da culinária, como se
vê na receita que ensina a fazer o
Califórnia roll.
Silvio Cioffi, editor de Turismo, viajou a
convite da Star Alliance e da Varig.
Próximo Texto: Sol nascente: Ginza se agita desde que a capital era Edo Índice
|