São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOL NASCENTE

Distrito toquiota com ares de Ocidente tem imensas lojas de departamento, como a Mitsukoshi e a Matsuya

Ginza se agita desde que a capital era Edo

Silvio Cioffi/Folha Imagem
Detalhe do poste de luz em Ginza no quarteirão Ginza 8-Chome


DO ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO E LA

Tradicionalmente o bairro mais ocidentalizado de Tóquio, Ginza se renovou quando a metrópole hospedou os Jogos Olímpicos de 1964, mostrando ao mundo sua face mais contemporânea.
Mas Ginza remonta aos anos 1800, quando o local, algo pantanoso, abrigou uma casa da moeda, por ser relativamente próximo ao Palácio Imperial. Já em 1868, quando Edo se transformou em Tóquio, guindada assim à condição de capital, Ginza era um distrito de diversões e de comércio.
Nos 40 anos que nos separam dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a cidade, hoje com 12 milhões de habitantes, se agiornou ainda mais e ganhou aspectos "high-tech", mudando o perfil também de bairros comerciais sofisticados, como Shinjuku e Harajuku.
Mas Ginza, que significa "lugar da prata", onde o preço do aluguel gira em trono de US$ 400 por pé quadrado (30 cm2) de área construída, parece rivalizar com o poderio comercial de Los Angeles.
Suas imensas lojas de departamento de oito andares cada uma, a Mitsukoshi e a Matsuya, vendem de alta-costura a elástico de cabelo. No subsolo, há um andar só de comidas japonesas (prontas ou não) e outro apenas com produtos alimentares de grife, como as francesas Fauchon e Rougier.
O outro magazine gigantesco de Ginza, a loja Wako, encimado por um relógio, foi reconstruído após um incêndio em 1872 -e fica do lado oposto ao painel eletrônico bem anos 1970, pousado no alto do edifício San'ai, de forma cilíndrica, na esquina da avenida Chuo-Dori, principal, com a transversal Harumi-Dori.
Além da parafernália de néons e da iluminação tradicional, algo inglesa, o cruzamento dessas avenida é ainda mais reluzente (em cifrões e vitrines por metro quadrado) que o cruzamento, em Los Angeles, da avenida Beverly Wil- shire com a Rodeo Drive.
Essa é a esquina dos três telões urbanos que passam desfiles de moda, do showroom da Nissan e das galerias de arte. Ela reflete uma indústria japonesa que se modernizou aceleradamente no pós-Segunda Guerra (1939-45), quando o país, impedido de investir em defesa, voltou-se para a economia como um samurai, criando corporações que produzem uma infinidade de produtos a preços menores que os tradicionais europeus, voltada ainda para a exportação para os EUA.
Com altos e baixos da economia japonesa, o PIB, que anda na casa dos US$ 3,5 trilhões, fala mais alto num momento em que o país quer se traduzir para atrair mais turistas estrangeiros (planeja chegar a 2010 recebendo cerca de 10 milhões de turistas de fora).
O showroom da Sony também fica em Ginza, como que contrapondo dois magos da indústria no Japão em tempos diversos, Akio Morita e Carlos Ghosn.
Autor de "Made in Japan", best-seller que no início dos anos 80 mesclou doses de biografia e história viva da indústria nipônica no pós-Guerra, Morita foi o autor da reengenharia da economia ao fundar a Sony, em 1946.
"O consumidor deve dizer o que a fábrica tem que produzir", disse no livro, que narra a escalada da pequena empresa que virou multinacional e que produzia inicialmente panelas elétricas para arroz e, nos anos 1970, o walkman.
Já Carlos Ghosn, o presidente da Nissan, eleito o homem de sucesso da indústria nipônica de 2004, é ele mesmo um caso de sucesso internacional, pois nasceu no Brasil e, a certa altura, conduziu a marca ao êxito.
Voltando a Ginza, ela não teria a mesma ginga se não hospedasse todas as lojas de grife à cada época. Hoje há na avenida Chuo-Dori lojas imensas de marcas como Cartier, Salvatore Ferragamo, Prada, Gucci, Burberry's, Bvlgari, Fendi, Armani, Tiffany e Adidas.
À noite, além da parafernália de néons e de painéis, há uma iluminação urbana retrô, com luminárias que evocam aquela Ginza que renasceu ocidentalizada.
Numa das pontas, o hotel Seiyo Ginza é um cinco estrelas de onde se pode fazer um circuito de jogging de uma hora até o Palácio Imperial.
Esse hotel espelha a tendência "europeizada" de Ginza na decoração clássica e ao abrigar entre seus três restaurantes um de comida francesa reinventada por um chef japonês, Hirota. Na própria avenida Chuo-Dori há muitos restaurantes, mas eles parecem excessivamente turísticos, além de meio caros.
Os cafés com nomes abrasileirados, como Paulista, são enfiados demais, ficam em subsolos, de modo que as ruas paralelas oferecem locais mais atraentes. Há ainda lojas mais japonesas nesse entorno, que tem calçadas estreitas, mas convida à caminhada.
(SILVIO CIOFFI)


Texto Anterior: Japão/EUA: Tóquio e LA são esquinas do mundo
Próximo Texto: No meio do caminho, tinha um Havaí
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.