São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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Botsuana restringe número de turistas

Aparentemente contraditória, a política do país é incrementar o turismo local diminuindo visitação nos parques

País foi reconhecido neste ano com prêmio internacional sobre turismo sustentável por zona protegida


ANDRÉ ZARA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para um país acostumado ao turismo de massa e à natureza invejável, o que é mais importante: atrair turistas ou preservar seu ambiente?
Os governantes da Botsuana se fizeram a pergunta no começo da década de 90 e tentaram unir as duas coisas, desenvolvendo um modelo de turismo sustentável que neste ano foi considerado exemplo para o mundo.
Uma das regiões naturais que ganhou atenção especial pela sua importância foi o delta do Okavanga, uma área de 55 mil km2 -região de proteção ambiental um pouco maior que o Estado do Rio Grande do Norte.
E foi pelo destaque na administração dessa zona de alagados e com grande concentração de animais selvagens que Botsuana ganhou em maio deste ano o prêmio "Turismo para o Amanhã", do Conselho Mundial de Turismo e Viagem (WTTC, na sigla em inglês).

RECONHECIMENTO
Segundo o presidente dos jurados da premiação, Costas Christ, Botsuana foi escolhida pelo trabalho inovador de proteção à região do delta do Okavango.
"Os jurados sentiram que a conservação da área, junto ao sucesso do modelo turístico de pouco volume e alto rendimento, é um exemplo de administração para todo o mundo", diz.
De acordo com ele, o grande mérito dos governantes de Botsuana foi perceber que poderiam gerar grandes lucros e, ainda assim, preservar o ambiente para as futuras gerações.
Muitas medidas de proteção foram implantadas na década de 1990, mas a mudança só foi consolidada em 2002, com uma estratégia nacional de ecoturismo -no mesmo ano, os esforços do país rumo à sustentabilidade também foram reconhecidos pela OMT, a Organização Mundial de Turismo.

MANUAL DE ECOTURISMO
A ação acabou levando à criação de um manual de boas práticas do ecoturismo e a um sistema de permissões para empresas e operadores.
O sistema determina que é preciso capacitar os moradores, apoiar os esforços de preservação e monitorar os impactos ambientais causados pelos visitantes.
Foram criados limites para o número de turistas que podem ir aos parques nacionais, e as taxas de entrada ficaram mais caras.
Apesar das restrições, a ação ajudou a distribuir melhor a quantidade de turistas pelas diversas atrações de Botsuana, e alavancou o turismo - a segunda atividade econômica do país, perdendo apenas para a exploração de diamantes. A atividade emprega 54 mil pessoas.
Com as novas medidas, a quantidade de turistas visitando cada um dos parques nacionais teve de ser limitada, mas, curiosamente, o número total de gente visitando o país aumentou. Em 2009, o Botsuana recebeu perto de 2,5 milhões de turistas -no ano 2000 esse número era de cerca de 1 milhão.
Hoje, só no delta do Okavango, 34% da população adulta da região trabalha na conservação natural ou no turismo. "Botsuana criou um importante exemplo que até o Brasil poderia seguir", diz.


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