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CAMINHOS CEARENSES
Multicultural, Canoa Quebrada se organiza no turismo
Com festival gastronômico e musical, estrangeiros e nativos dão nova cara a praia a 150 km da capital
DA ENVIADA ESPECIAL AO CEARÁ
Mais do que aquele lugar de
bicho-grilo, Canoa Quebrada, a
150 km de Fortaleza, é praia de
quem sabe apreciar a rusticidade nativa, que vive do turismo,
da pesca e de rendeiras. Também agrada a quem está a fim
de se entrosar com o modus
operandi do vilarejo.
E não apenas turistas brasileiros viajam horas e se dispõem a estar perto daquele estilo; agosto é o mês em que os
visitantes de além-mar chegam
em peso. Portanto, Canoa está
ficando cada vez mais multicultural e menos riponga.
Embora o destino cearense
seja bem conhecido desde a
chegada dos hippies nos anos
70, não faz muito tempo que
Canoa decidiu se organizar melhor turisticamente.
Em 2003, foi criada uma associação com oito integrantes,
e hoje 32 estabelecimentos
participam da Asdecq (Associação dos Empreendedores de
Canoa Quebrada). O vilarejo do
município de Aracati já monta
seus próprios festivais de gastronomia e música.
Nessa vila de gente que se conhece muito bem, convivem os
estrangeiros que fincaram os
pés para tocar seus negócios
-principalmente holandeses,
portugueses, espanhóis e italianos, além de argentinos-, a
maioria dando conta de restaurantes e pousadas. Aliás, é bom
lembrar que os hotéis e pousadas de Canoa, que totalizam 43,
são pequenos.
A mescla de forasteiros tem
dado certo. A rua do agito noturno emplacou um nome gringo. A Broadway, que fica apinhada na alta temporada, reúne culinária italiana, espanhola
e argentina, sem deixar de fora
o tempero regional. Servem tapioca, sorvete com sabor regional e até um prato que mistura
os paladares cearense e catalão,
com lulinhas e feijão-branco ao
cheiro de caju.
No fim da Broadway, em direção à praia, vê-se uma falésia
com uma lua e uma estrela, famoso símbolo de Canoa estampado em camisetas de suvenir.
As ruas labirínticas e estreitas do pequeno centro sempre
abrem uma brecha para desembocar num outro beco. Ao final
de três dias em Canoa Quebrada, quase não se erra mais a entrada para a sua pousada.
Um buggy e um carro pequeno em direções opostas quase
não passam pela mesma rua de
chão batido, também ocupada
por pedestres. Um bugueiro sobe de um lado da calçada, se
ajeita e pronto.
Dá para espichar os olhos e
ver as redes enfeitando a sala
das casas simples dos pescadores. Sem precisar invadir com
os olhos, Canoa mostra as rendeiras na porta de casa, com os
labirintos pendurados nas janelas, e as casas de pescadores
feitas de palha e taipa em frente
ao mar se equilibram sobre as
areias, que parecem invadir a
morada. Também esconde a rezadeira na vila dos Estevão, que
cura mau-olhado e quebrante
com um maço de pinhão roxo.
Para conhecer essa Canoa,
cumpra as etapas: desvendá-la
passeando de buggy e depois a pé, andando pelo
centro e pela própria praia.
(MARGARETE MAGALHÃES)
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