São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006

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CAMINHOS CEARENSES

Multicultural, Canoa Quebrada se organiza no turismo

Com festival gastronômico e musical, estrangeiros e nativos dão nova cara a praia a 150 km da capital

DA ENVIADA ESPECIAL AO CEARÁ

Mais do que aquele lugar de bicho-grilo, Canoa Quebrada, a 150 km de Fortaleza, é praia de quem sabe apreciar a rusticidade nativa, que vive do turismo, da pesca e de rendeiras. Também agrada a quem está a fim de se entrosar com o modus operandi do vilarejo.
E não apenas turistas brasileiros viajam horas e se dispõem a estar perto daquele estilo; agosto é o mês em que os visitantes de além-mar chegam em peso. Portanto, Canoa está ficando cada vez mais multicultural e menos riponga.
Embora o destino cearense seja bem conhecido desde a chegada dos hippies nos anos 70, não faz muito tempo que Canoa decidiu se organizar melhor turisticamente.
Em 2003, foi criada uma associação com oito integrantes, e hoje 32 estabelecimentos participam da Asdecq (Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada). O vilarejo do município de Aracati já monta seus próprios festivais de gastronomia e música.
Nessa vila de gente que se conhece muito bem, convivem os estrangeiros que fincaram os pés para tocar seus negócios -principalmente holandeses, portugueses, espanhóis e italianos, além de argentinos-, a maioria dando conta de restaurantes e pousadas. Aliás, é bom lembrar que os hotéis e pousadas de Canoa, que totalizam 43, são pequenos.
A mescla de forasteiros tem dado certo. A rua do agito noturno emplacou um nome gringo. A Broadway, que fica apinhada na alta temporada, reúne culinária italiana, espanhola e argentina, sem deixar de fora o tempero regional. Servem tapioca, sorvete com sabor regional e até um prato que mistura os paladares cearense e catalão, com lulinhas e feijão-branco ao cheiro de caju.
No fim da Broadway, em direção à praia, vê-se uma falésia com uma lua e uma estrela, famoso símbolo de Canoa estampado em camisetas de suvenir.
As ruas labirínticas e estreitas do pequeno centro sempre abrem uma brecha para desembocar num outro beco. Ao final de três dias em Canoa Quebrada, quase não se erra mais a entrada para a sua pousada.
Um buggy e um carro pequeno em direções opostas quase não passam pela mesma rua de chão batido, também ocupada por pedestres. Um bugueiro sobe de um lado da calçada, se ajeita e pronto.
Dá para espichar os olhos e ver as redes enfeitando a sala das casas simples dos pescadores. Sem precisar invadir com os olhos, Canoa mostra as rendeiras na porta de casa, com os labirintos pendurados nas janelas, e as casas de pescadores feitas de palha e taipa em frente ao mar se equilibram sobre as areias, que parecem invadir a morada. Também esconde a rezadeira na vila dos Estevão, que cura mau-olhado e quebrante com um maço de pinhão roxo.
Para conhecer essa Canoa, cumpra as etapas: desvendá-la passeando de buggy e depois a pé, andando pelo centro e pela própria praia.
(MARGARETE MAGALHÃES)


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