São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006

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Aos 91, labirinteira mantém sua rotina

DA ENVIADA ESPECIAL

O artesanato carro-chefe de Aracati é o labirinto. Em Canoa Quebrada, se você passar em frente à casa de Clara Farias, 91, conhecida por "dona" Teté, às 8h, irá vê-la na varanda com uma grade no colo "labirintando". Se passar às 18h, lá estará ela, na mesma posição, terminando a lida diária: desfia, vaza, enche, torce, perfila, caseia.
O labirinto chegou ao Brasil graças ao povoador português e, embora Aracati seja um dos municípios mais fortes nesse artesanato no Ceará, há um fio quase solto nessa história, que poderia acabar com a tradição. Os jovens "não querem saber disso", e a tradição pode desfiar.
"Não querem aprender mais. Querem ficar na praia. Nós estudávamos, trabalhávamos e íamos para a grade fazer o labirinto", conta Teté, que aprendeu a arte aos sete anos.
Fazer aquele bordado delicado requer paciência e bom gosto. São muitos os termos usados para explicar os pontos e como os caminhos do labirinto são traçados. Paleitão, por exemplo, é o preenchimento dos vazios do tecido com a linha. As labirinteiras compram linho "bom", e o primeiro passo é desfiá-lo. Tarefa mais simples, mas "um castigo para os meninos" no tempo em que Teté era criança. Hoje, ela paga R$ 5 para desfiarem 40 linhas.
O pano vai parar na grade - uma tábua vazada em que repousa o linho. E, sobre ela, a labirinteira faz os enlaces e entrelaces. Teté não divide a grade. A octogenária Maria Julia Pereira, vizinha e irmã, compartilha a conversa durante o dia. Em peças grandes como uma colcha, que demora meses para ser feita, vale bordar junto.
Teté é pura tradição. Só faz labirinto em linho branco ou bege. Para mostrar tudo o que tem, pede para trazerem de dentro de sua casa um saco com seu estoque.
Saltam muitas rendas engomadas, em forma de toalhas, colchas e caminhos-de-mesa, com desenhos lindos e diferentes. Uma toalha de bandeja, por exemplo, custa R$ 20, e um centro de mesa pode sair por R$ 200. Mas, olhando bem o trabalho que dá para tecer o labirinto, pode-se afirmar: aquilo não tem preço. (MM)


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