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CAMINHOS CEARENSES
Jovens do Cumbe retomam sua tradição
Vilarejo de Aracati luta pela preservação do local, afetado pela carcinicultura, e da memória do labirinto
DA ENVIADA ESPECIAL AO CEARÁ
O vilarejo do Cumbe parece
viver na marola. A comunidade
de cerca de 1.400 habitantes,
entretanto, sabe provocar
grandes ondas. Se na bonança
guarda a tradição de cerca de
cem anos de rendeiras e hoje
consegue transmiti-la às novas
gerações, em águas revoltas, a
comunidade não se acanha em
fazer frente aos criadores de camarão, que mantêm suas fazendas perto do leito do rio Jaguaribe, e à estação de abastecimento de água, que ameaçam
essa APA (Área de Proteção
Ambiental), entre o mangue do
rio e as dunas de Aracati.
"O problema do camarão é
seriíssimo, e a Cagece [Companhia de Água e Esgoto do Ceará] suga o veio doce do Jaguaribe. Estamos imprensados por
duas forças econômicas", conta
José Correia Lima, morador do
Cumbe, na quarta geração.
Segundo Lima, recentemente houve a identificação de um
sítio arqueológico dentro da
Área de Proteção Ambiental e o
pedido de reconhecimento.
Portanto, os bugueiros que passam muito próximo do sítio que
se cuidem, pois o Cumbe, que,
aliás, quer dizer quilombo, pretende propor um caminho que
não afete o local.
Essa vila do município de
Aracati gosta de sua memória e
herança. É fácil encontrar ali
meninas, como Sueni de Souza
Gonzaga, 11, e Maiara Rosário
Souza, 15, sentadas ao lado de
mulheres mais velhas, dividindo a grade e cosendo o labirinto, diferentemente do que
ocorre em Canoa.
"O labirinto é a simbologia da
região", diz Lima, que ajuda as
mulheres da Associação das Labirinteiras do Cumbe a se organizar. Há seis anos, o trabalho
das artesãs, que andava meio
desestimulado e até esquecido,
foi retomado, e iniciou-se o
processo de valorização.
As peças -principalmente
toalhas-, que antes eram usadas somente em banquetes e
nas igrejas, se "modernizaram", ganharam cor -as labirinteiras tradicionais só tecem
em linho branco ou bege- e deram forma a indumentárias. Ali
se compram camisas femininas
e masculinas e blusas com labirinto, além de toalhinhas de
mesa e de bandeja para café.
Outro sinal do passado são os
Calungas do Cumbe, uma trupe
de adolescentes que vez ou outra se apresenta num teatro de
calungas (bonecos) feitos de
coco. Encantador, especialmente para as crianças, que
querem ver atrás do biombo
quem dá vida a Zé Pelé e ao
brincalhão Obá.
(MM)
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