São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2006

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CAMINHOS CEARENSES

Jovens do Cumbe retomam sua tradição

Vilarejo de Aracati luta pela preservação do local, afetado pela carcinicultura, e da memória do labirinto

DA ENVIADA ESPECIAL AO CEARÁ

O vilarejo do Cumbe parece viver na marola. A comunidade de cerca de 1.400 habitantes, entretanto, sabe provocar grandes ondas. Se na bonança guarda a tradição de cerca de cem anos de rendeiras e hoje consegue transmiti-la às novas gerações, em águas revoltas, a comunidade não se acanha em fazer frente aos criadores de camarão, que mantêm suas fazendas perto do leito do rio Jaguaribe, e à estação de abastecimento de água, que ameaçam essa APA (Área de Proteção Ambiental), entre o mangue do rio e as dunas de Aracati.
"O problema do camarão é seriíssimo, e a Cagece [Companhia de Água e Esgoto do Ceará] suga o veio doce do Jaguaribe. Estamos imprensados por duas forças econômicas", conta José Correia Lima, morador do Cumbe, na quarta geração.
Segundo Lima, recentemente houve a identificação de um sítio arqueológico dentro da Área de Proteção Ambiental e o pedido de reconhecimento. Portanto, os bugueiros que passam muito próximo do sítio que se cuidem, pois o Cumbe, que, aliás, quer dizer quilombo, pretende propor um caminho que não afete o local.
Essa vila do município de Aracati gosta de sua memória e herança. É fácil encontrar ali meninas, como Sueni de Souza Gonzaga, 11, e Maiara Rosário Souza, 15, sentadas ao lado de mulheres mais velhas, dividindo a grade e cosendo o labirinto, diferentemente do que ocorre em Canoa.
"O labirinto é a simbologia da região", diz Lima, que ajuda as mulheres da Associação das Labirinteiras do Cumbe a se organizar. Há seis anos, o trabalho das artesãs, que andava meio desestimulado e até esquecido, foi retomado, e iniciou-se o processo de valorização.
As peças -principalmente toalhas-, que antes eram usadas somente em banquetes e nas igrejas, se "modernizaram", ganharam cor -as labirinteiras tradicionais só tecem em linho branco ou bege- e deram forma a indumentárias. Ali se compram camisas femininas e masculinas e blusas com labirinto, além de toalhinhas de mesa e de bandeja para café.
Outro sinal do passado são os Calungas do Cumbe, uma trupe de adolescentes que vez ou outra se apresenta num teatro de calungas (bonecos) feitos de coco. Encantador, especialmente para as crianças, que querem ver atrás do biombo quem dá vida a Zé Pelé e ao brincalhão Obá. (MM)


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