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ÁFRICA
Hotel estatal no deserto é primeiro passo; tensão com a Etiópia e fraca infra-estrutura são apontadas como dificuldades
Eritréia batalha para ter mais visitantes
ED HARRIS
DA REUTERS
Erguido no coração do deserto
da Eritréia, o hotel Gelalo oferece
um refúgio para o sol escaldante.
Em um dos cantos mais quentes
da África, o mais novo projeto de
turismo da Eritréia recebeu poucos hóspedes até agora. "Esperávamos ter mais clientes do que temos", disse um dos funcionários
do luxuoso empreendimento, onde apenas um punhado dos 25
quartos estava ocupado.
Os pilares de pedra cor de creme
do Gelalo, que, segundo o governo, foram erguidos com mão-de-obra militar, se voltam para a rochosa costa do mar Vermelho.
Adornado com modernas esculturas e antigos canhões italianos, o hotel -em uma estrada
entre o porto de Massawa e a cidade costeira de Assab, ao sul- cobra apenas US$ 20 pela diária. Remoto, é alcançado após horas de
rodovia esburacada.
Segundo o governo eritreu, o
país atrai cerca de 150 mil turistas
por ano. O plano é aumentar o
número para mais de 600 mil até
2020. A ministra do Turismo,
Amina Nurhussien, diz que o hotel é apenas o primeiro passo.
"Estamos convidando grandes
investidores para virem", diz
Nurhussien, adicionando que
uma estrada que percorrerá a costa deve ficar pronta "logo mais",
melhorando o acesso ao hotel.
Outra melhoria será a abertura
do aeroporto internacional de
Massawa, em janeiro.
Tensões
Desde que o hotel Gelalo, uma
empresa estatal, teve suas portas
abertas em meados deste ano, ele
se tornou uma espécie de ilha de
conforto na árida paisagem.
"É um lugar muito esquisito para um hotel, pois não há mais nada em um raio de quilômetros",
diz um norte-americano que ficou hospedado ali.
O interesse de investidores privados no turismo eritreu é comedido: alguns estão preocupados
com o fato de que o setor se manterá retraído por conta da burocracia do governo e do receio dos
viajantes de que a região siga instável com a continuação das tensões após a guerra entre a Eritréia
e a Etiópia, de 1998 a 2000.
O conflito entre os vizinhos que
dividem o Chifre da África matou
70 mil pessoas e tem sido um entrave político desde 2002, quando
a Etiópia se recusou a aceitar a
proposta de demarcação da fronteira feita por uma comissão independente. Cerca de 165 mil turistas iam à Eritréia por ano antes da
guerra. O conflito e seus desdobramentos prejudicaram a campanha do país de conquistar uma
fatia maior do lucrativo turismo
no leste africano.
Nas últimas semanas, a tensão
aumentou quando a Eritréia baniu os helicópteros da ONU de
seu espaço aéreo, impedindo a
missão da organização de monitorar movimentações militares.
Diplomatas também se mostram céticos quanto ao compromisso do governo de apoiar o setor. "Eu acredito no potencial turístico da Eritréia, mas ele não será explorado enquanto o país se
mantiver tão contrário ao setor
privado", diz um diplomata.
Neste ano, o FMI afirmou que a
falta de transparência nas regras
que regem as atividades comerciais e a crescente interferência do
Estado nesse setor estão minando
a confiança de investidores.
Infra-estrutura pobre
O ítalo-eritreu Primo Giovanni
voltou ao país após 42 anos na Itália. Ele é dono de hotéis em Asmara, Massawa e nas ilhas Dahlak.
Recentemente, a abertura de
um de seus hotéis foi atrasada por
falta de água. Giovanni afirma
que a falta de infra-estrutura o
deixa sem produtos. "Gim eles
têm, mas e tônica? Os britânicos
ficam loucos", diz. Como muitos
eritreus, ele vê o inacabado conflito com a Etiópia como um dos
maiores impedimentos para o
crescimento do turismo no país.
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