São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÁFRICA

Hotel estatal no deserto é primeiro passo; tensão com a Etiópia e fraca infra-estrutura são apontadas como dificuldades

Eritréia batalha para ter mais visitantes

ED HARRIS
DA REUTERS

Erguido no coração do deserto da Eritréia, o hotel Gelalo oferece um refúgio para o sol escaldante. Em um dos cantos mais quentes da África, o mais novo projeto de turismo da Eritréia recebeu poucos hóspedes até agora. "Esperávamos ter mais clientes do que temos", disse um dos funcionários do luxuoso empreendimento, onde apenas um punhado dos 25 quartos estava ocupado.
Os pilares de pedra cor de creme do Gelalo, que, segundo o governo, foram erguidos com mão-de-obra militar, se voltam para a rochosa costa do mar Vermelho.
Adornado com modernas esculturas e antigos canhões italianos, o hotel -em uma estrada entre o porto de Massawa e a cidade costeira de Assab, ao sul- cobra apenas US$ 20 pela diária. Remoto, é alcançado após horas de rodovia esburacada.
Segundo o governo eritreu, o país atrai cerca de 150 mil turistas por ano. O plano é aumentar o número para mais de 600 mil até 2020. A ministra do Turismo, Amina Nurhussien, diz que o hotel é apenas o primeiro passo.
"Estamos convidando grandes investidores para virem", diz Nurhussien, adicionando que uma estrada que percorrerá a costa deve ficar pronta "logo mais", melhorando o acesso ao hotel.
Outra melhoria será a abertura do aeroporto internacional de Massawa, em janeiro.

Tensões
Desde que o hotel Gelalo, uma empresa estatal, teve suas portas abertas em meados deste ano, ele se tornou uma espécie de ilha de conforto na árida paisagem.
"É um lugar muito esquisito para um hotel, pois não há mais nada em um raio de quilômetros", diz um norte-americano que ficou hospedado ali.
O interesse de investidores privados no turismo eritreu é comedido: alguns estão preocupados com o fato de que o setor se manterá retraído por conta da burocracia do governo e do receio dos viajantes de que a região siga instável com a continuação das tensões após a guerra entre a Eritréia e a Etiópia, de 1998 a 2000.
O conflito entre os vizinhos que dividem o Chifre da África matou 70 mil pessoas e tem sido um entrave político desde 2002, quando a Etiópia se recusou a aceitar a proposta de demarcação da fronteira feita por uma comissão independente. Cerca de 165 mil turistas iam à Eritréia por ano antes da guerra. O conflito e seus desdobramentos prejudicaram a campanha do país de conquistar uma fatia maior do lucrativo turismo no leste africano.
Nas últimas semanas, a tensão aumentou quando a Eritréia baniu os helicópteros da ONU de seu espaço aéreo, impedindo a missão da organização de monitorar movimentações militares.
Diplomatas também se mostram céticos quanto ao compromisso do governo de apoiar o setor. "Eu acredito no potencial turístico da Eritréia, mas ele não será explorado enquanto o país se mantiver tão contrário ao setor privado", diz um diplomata.
Neste ano, o FMI afirmou que a falta de transparência nas regras que regem as atividades comerciais e a crescente interferência do Estado nesse setor estão minando a confiança de investidores.

Infra-estrutura pobre
O ítalo-eritreu Primo Giovanni voltou ao país após 42 anos na Itália. Ele é dono de hotéis em Asmara, Massawa e nas ilhas Dahlak.
Recentemente, a abertura de um de seus hotéis foi atrasada por falta de água. Giovanni afirma que a falta de infra-estrutura o deixa sem produtos. "Gim eles têm, mas e tônica? Os britânicos ficam loucos", diz. Como muitos eritreus, ele vê o inacabado conflito com a Etiópia como um dos maiores impedimentos para o crescimento do turismo no país.


Texto Anterior: Freeway: Operadora inicia programa de voluntariado
Próximo Texto: EUA: Ferry para Staten Island propõe tour para família
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.