São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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Cotidiano de Berlim Oriental carece de história em museus

Exceção é o Hohenschoenhausen, onde ficava a prisão principal da Stasi, masmorra para os padrões europeus

Metrópole é hoje uma das mais divertidas cidades da Europa, um atrativo de artistas contemporâneos

EM BERLIM

O muro foi derrubado há 21 anos e até hoje não há um museu decente sobre o cotidiano em Berlim Oriental, sobre as fugas, sobre o que era o comunismo, enfim. O que há são arremedos de museus.
Quase todos tão mambembes que nem parecem estar na Alemanha, um país que cultiva padrões de museologia desde o final do século 18.
O mais patético deles é sobre o checkpoint Charlie, o posto de fronteira que existia entre Berlim Oriental e a parte ocidental ocupada pelos norte-americanos. Foi o primeiro museu do gênero, com ênfase nas fugas. O seu rigor histórico, porém, tende a zero. Um museu sobre o cotidiano na Alemanha Oriental trata o comunismo como uma atração vintage da Disney.
A honrosa exceção é o museu Hohenschoenhausen. É ali que ficava a principal prisão da Stasi, uma masmorra para os padrões europeus, mas melhor do que qualquer presídio brasileiro.

POBRE, MAS SEXY
Hoje, Berlim é uma das cidades mais divertidas da Europa, senão do mundo. Os rios de sangue da Segunda Guerra e do período comunista não mudaram seu DNA. "Berlim é uma cidade proletária, desencanada", define o escritor Bernardo Carvalho, que vive lá por conta de uma bolsa.
É a pobreza de Berlim que garante que a cidade seja o maior polo de atração de artistas contemporâneos. Levas de pintores, designers, músicos e cineastas de toda a Europa e até dos EUA mudaram-se para lá por uma razão simples: o preço. Dá para viver com a metade exigida por Paris ou um terço de Londres.
Berlim tornou-se barata por causa de sua localização. Com a divisão da Alemanha após a Segunda Guerra, ficou encravada na Alemanha Oriental. Era uma ilha cercada por comunistas por todos os lados. Por mais incentivo fiscal que as empresas recebessem para se instalar lá, quase nenhuma das grandes corporações alemãs mudou-se para a cidade.
Com a queda do muro, houve uma nova tentativa de atrair grandes corporações, também fracassada. Só a Sony abriu seu QG na cidade.
O fracasso como capital europeia garantiu a liberdade a Berlim. Um quipá mantido no museu Judaico, um dos prédios mais impressionantes da nova leva de Berlim, mostra que em 1905 a cidade já tinha essas características. "Pobre mas sexy", diz a inscrição no quipá, ao lado de um mapa do metrô.
Duas guerras e um muro depois, o prazo de validade dessa máxima ainda não expirou. (MARIO CESAR CARVALHO)


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