São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TERRA DE LAGOAS

Artesanato típico de Pontal da Barra é passatempo e garante dinheiro extra para as mulheres do bairro

Filé conserva arte ao longo das gerações

DA ENVIADA ESPECIAL A ALAGOAS

Já há muitas gerações, a prática do filé tem sido passada de mãe para filha. Artesanato típico de Pontal da Barra, bairro de pescadores e artesãs e um dos mais antigos de Maceió, o filé resulta do trabalho manual de agulha e linha em rede feita à mão. O traçado inicial é semelhante ao da rede de pesca, e os pontos formam desenhos que adquirem o formato de centros de mesa, barras de toalhas, xales, saias, colchas etc.
A origem do nome, segundo contam algumas rendeiras, vem do filó, bordado holandês bastante semelhante ao alagoano. Há quem acredite também numa outra versão, a de que o batismo do bordado vem de filet, outro tipo de bordado, este francês, cujos desenhos assemelhavam-se muito aos nossos brasileiros.

Herança
Por tradição e por gosto, mulheres como Angélica de Oliveira Andrade, 23, aprendem o filé desde meninas e fazem da arte, além de passatempo, rendimento extra para a família.
O trabalho é muito, mas o dinheiro é relativamente pouco. Quando tem uma encomenda que precisa ser terminada, Angélica fica das oito da manhã às oito da noite sobre a rede do filé, parando apenas na hora do almoço, às vezes nem para isso. "É preciso ser persistente. Quando a gente tem um objetivo, vai até o fim."
Num trabalho minucioso, a rendeira tece cada um dos diferentes pontos que aprendeu com sua mãe, desde os sete anos de idade. Se algum ponto estiver errado, é preciso parar e recomeçar do ponto em que errou.
"Às vezes você pede um preço e as pessoas reclamam, acham caro", diz Angélica, que costuma cobrar R$ 10 por um filé de 82 cm. Um novelo de 500 m custa de R$ 3 a R$ 4, e muitas vezes o que se paga pelos novelos não cobre o valor da encomenda. "Uma vez uma cliente me encomendou uma saia. O trabalho não compensou para mim, mas ela foi tão legal que por amizade eu fiz um precinho bom para ela", completa.

Desgaste
Assim como a neta, a vó de Angélica também era rendeira de filé. Hoje, aos 78 anos de idade, não pode mais exercer a atividade. Provavelmente por causa do bordado, tem problemas de circulação, reumatismo e dificuldade para enxergar -antigamente as mulheres bordavam à luz do candeeiro ou à luz de velas.
Angélica, por sua vez, já se queixa de dores nas costas e diz que sempre teve problemas de visão. Além de cuidar da família e do filho, trabalha como vendedora numa loja de artesanato e ainda aceita encomendas de todo país.
Seu filé já chegou a ser mandado até para o exterior. "Não tenho um preço fixo, depende muito de quem vem comprar. Mas, quando estou precisando de dinheiro, digo: "Me dá qualquer R$ 5 ou R$ 6, que já está muito bom"."
(CAROL FREDERICO)


Texto Anterior: Mar alagoano é verde do norte ao sul
Próximo Texto: Pacotes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.