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TERRA DE LAGOAS
Artesanato típico de Pontal da Barra é passatempo e garante dinheiro extra para as mulheres do bairro
Filé conserva arte ao longo das gerações
DA ENVIADA ESPECIAL A ALAGOAS
Já há muitas gerações, a prática
do filé tem sido passada de mãe
para filha. Artesanato típico de
Pontal da Barra, bairro de pescadores e artesãs e um dos mais antigos de Maceió, o filé resulta do
trabalho manual de agulha e linha
em rede feita à mão. O traçado
inicial é semelhante ao da rede de
pesca, e os pontos formam desenhos que adquirem o formato de
centros de mesa, barras de toalhas, xales, saias, colchas etc.
A origem do nome, segundo
contam algumas rendeiras, vem
do filó, bordado holandês bastante semelhante ao alagoano. Há
quem acredite também numa outra versão, a de que o batismo do
bordado vem de filet, outro tipo
de bordado, este francês, cujos
desenhos assemelhavam-se muito aos nossos brasileiros.
Herança
Por tradição e por gosto, mulheres como Angélica de Oliveira Andrade, 23, aprendem o filé desde
meninas e fazem da arte, além de
passatempo, rendimento extra
para a família.
O trabalho é muito, mas o dinheiro é relativamente pouco.
Quando tem uma encomenda
que precisa ser terminada, Angélica fica das oito da manhã às oito
da noite sobre a rede do filé, parando apenas na hora do almoço,
às vezes nem para isso. "É preciso
ser persistente. Quando a gente
tem um objetivo, vai até o fim."
Num trabalho minucioso, a rendeira tece cada um dos diferentes
pontos que aprendeu com sua
mãe, desde os sete anos de idade.
Se algum ponto estiver errado, é
preciso parar e recomeçar do
ponto em que errou.
"Às vezes você pede um preço e
as pessoas reclamam, acham caro", diz Angélica, que costuma cobrar R$ 10 por um filé de 82 cm.
Um novelo de 500 m custa de R$ 3
a R$ 4, e muitas vezes o que se paga pelos novelos não cobre o valor
da encomenda. "Uma vez uma
cliente me encomendou uma saia.
O trabalho não compensou para
mim, mas ela foi tão legal que por
amizade eu fiz um precinho bom
para ela", completa.
Desgaste
Assim como a neta, a vó de Angélica também era rendeira de filé. Hoje, aos 78 anos de idade, não
pode mais exercer a atividade.
Provavelmente por causa do bordado, tem problemas de circulação, reumatismo e dificuldade para enxergar -antigamente as
mulheres bordavam à luz do candeeiro ou à luz de velas.
Angélica, por sua vez, já se queixa de dores nas costas e diz que
sempre teve problemas de visão.
Além de cuidar da família e do filho, trabalha como vendedora
numa loja de artesanato e ainda
aceita encomendas de todo país.
Seu filé já chegou a ser mandado
até para o exterior. "Não tenho
um preço fixo, depende muito de
quem vem comprar. Mas, quando
estou precisando de dinheiro, digo: "Me dá qualquer R$ 5 ou R$ 6,
que já está muito bom"."
(CAROL FREDERICO)
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