São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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História traz luz a um passado que é presente

Tombamentos do Iphan foram cruciais

FERNANDA PALUMBO
ESPECIAL PARA A FOLHA

São Sebastião possui remanescentes dos séculos 17, 18 e 19, uma arquitetura histórica feita de pedra e cal, ruas e praças implantadas pela força das ordenações lusas, como o adro da Matriz e a praça defronte à cadeia velha.
Os primeiros sesmeiros portugueses vieram da Vila de Santos, doaram terras para a igreja e, por volta de 1600, formou-se, no entorno dela, o aglomerado urbano. O povoado virou vila em 16 de março de 1636.
Afonso de E. Taunay descobriu uma descrição da vila em "História da Expedição de Três Navios Enviados pela Companhia das Índias Ocidentais, das Províncias Unidas às Terras Austrais, em 1721", de autoria de C. F. de Behrens, alemão embarcado no navio corsário holandês.
Escreve: "Descrevendo São Sebastião, narra Behrens que a cidade dispunha de medíocre extensão. Pouco fortificada, era circumscripta por uma estacada, provida de alguns canhões. Possuía egreja assás bella e um palácio magnífico de governo. Quanto as casas dos moradores, a construção era a dos índios".
Os portugueses chegando aqui se adaptaram. Usaram pedras cortadas das costeiras e conchas dos sambaquis (ou ostreiras) para fazer a vez da cal, da areia e do barro. Construíram grossas paredes de pedra e cal e, nas paredes internas, usaram o pau a pique, símbolo da cultura caiçara.

PATRIMÔNIOS CULTURAIS
Situada entre o sul produtor e Paraty, porto escoador das minas e de onde partiam trilhas entre a faixa de marinha e as vilas mineiras, São Sebastião, uma vila modesta, começou a se desenvolver.
Com uma nova ferrovia facilitando o escoamento dos produtos pelo porto de Santos (1817) e a abolição da escravatura, a cidade declinou.
A situação se modificou nos anos 1960, com a instalação da Petrobras. O centro histórico foi mantido mais pela falta de recursos do que pela conscientização de sua importância. Em 1955, o Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tombou a Casa Esperança, do século 18.
Em 1969, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) tombou sete quadras do centro, a Casa das Janelas, a Casa de Câmara e Cadeia, a igreja matriz, a capela de São Gonçalo e residências contíguas, o Praia Hotel, e, em 1972, o convento franciscano (1658) e a fazenda Santana (1743). Desde então, 50% do centro histórico foi descaracterizado, e a área, erroneamente considerada símbolo do atraso.
O quadro começou a mudar nos anos 1990, com a criação do órgão municipal de preservação e reformas como a da igreja matriz, em 2001, quando foram achadas imagens de barro do século 17.
Num provável novo período de crescimento, caso as ampliações de porto e estradas aconteçam, a preservação do centro histórico será importante numa comunidade que valoriza suas manifestações folclóricas, como a procissão de são Sebastião (20 de janeiro), a congada e muitas outras, que se aliam à arquitetura histórica.

FERNANDA PALUMBO, arquiteta e pedagoga, trabalhou no departamento de Patrimônio Cultural da Prefeitura de São Sebastião entre 1993 e 2008.



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