São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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DUNAS E AZULEJOS

Casarões do século 18 e corredor de bares estimulam visitante a se comportar como ludovicense

São Luís enfeixa elevadas doses de ares portugueses

DO ENVIADO ESPECIAL AO MARANHÃO

A capital do reggae e do boi-bumbá foi fundada pelos franceses, mas é a mais portuguesa das capitais brasileiras. As cerca de 870 mil pessoas que vivem ali se orgulham de ter um dos mais representativos acervos da arquitetura colonial portuguesa do país. Azulejos enfeitam 3.500 casarões tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional.
O Projeto Reviver, que ganhou força nos anos 90, recuperou mais de 300 casarões e sobrados, a maioria erguida a partir da segunda metade do século 18.
A moda dos azulejos veio para adaptar as construções a uma das marcas do Estado: o sol abrasador. O material reflete a luz e diminui o calor nas casas. Por lá, qualquer casa que não seja adaptada corre o risco de se transformar em um impiedoso forno.
A melhor maneira de conhecer a cidade é usar dos mesmos expedientes de que se valiam os ludovicenses -nativos de São Luís- que ali habitavam há mais de século e meio: caminhar a pé.
Não se iluda com a brisa fresca que sopra do mar: o sol já está forte às 8h e fica assim até pouco antes de se pôr, por volta das 18h.
O Palácio dos Leões, atual sede do governo, é o ponto de partida do passeio. Foi construído em 1766 sobre uma antiga fortaleza francesa. A fundação do antigo forte, toda em pedra, existe até hoje e serve de base para o palacete neoclássico. Nos salões, abertos à visitação, chamam a atenção os lustres de cristal e o mobiliário. Tudo francês. Apenas uma sala de jantar e os jardins reservados têm móveis portugueses.
Descendo a colina que abriga o palácio está a parte mais nova do Projeto Reviver, entre as ruas do Trapiche, Cândido Mendes e da Alfândega. Esse é o bairro de Praia Grande, coração do centro histórico. Ao longo da Cândido Mendes há bares e restaurantes que ficam abertos todos os dias até tarde, ideais para quem quer se divertir como um ludovicense.
Às quintas-feiras, a pedida é o beco Catarina Mina, batizado em homenagem à escrava alforriada que, protegida dos figurões, comprava liberdade de outros negros com o dinheiro de seus amantes.
Nos bares do beco, o ritmo é o reggae, que chegou à cidade nos anos 70 por acaso: difundido por rádios de ondas curtas, o som jamaicano era captado em São Luís e caiu no gosto popular.
(RAFAEL ALVES PEREIRA)


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