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Guararema cultua até são Longuinho
Cidade festeja Nossa Senhora da Escada com procissão no dia 14, que sai da matriz e segue para capela onde está imagem do santo
AMARÍLIS LAGE
ENVIADA ESPECIAL A GUARAREMA (SP)
Guararema é uma cidade pequena, com pouco mais de 20 mil
habitantes, perto de Mogi das
Cruzes, a 76 km de São Paulo. Mas
uma relíquia religiosa a destaca
das tantas outras cidades pacatas
do interior: ali está a única imagem de são Longuinho do país,
segundo seus moradores.
A imagem do santo, conhecido
por encontrar objetos desaparecidos em troca de três pulinhos, fica
numa capela branca, tombada como patrimônio histórico nacional, num povoado conhecido como Freguesia da Escada (onde, ao
contrário do que o nome sugere,
não há nenhuma escada especial).
A capela passa a maior parte do
tempo fechada, pois o povoado é
tão pequeno que a missa, ali, só é
realizada uma vez por mês: geralmente, na segunda sexta-feira.
Mas no dia 14 deste mês, um domingo, a tranqüilidade dará lugar
a uma festa para milhares de pessoas: trata-se da procissão de Nossa Senhora da Escada, que "divide" a capela com são Longuinho.
A cerimônia começa na igreja
matriz, no centro de Guararema.
De lá a imagem da santa vai de
barco, pelo rio Paraíba, até a capela do povoado, em torno da qual
há uma quermesse com bingo,
barraquinhas de jogos e de comidas típicas, como o afogado (um
cozido de carne com batatas).
Depois da festa, a capela volta a
ser fechada e a próxima missa só
será realizada em dezembro.
Guardiã
Para visitar a imagem de são
Longuinho nos dias em que não
há missa (ou seja, em quase todos), basta procurar por Luiza Leme de Almeida, 81, que há 38 anos
ocupa o posto de administradora,
faxineira e "guia turística" da capela. Encontrá-la não é tarefa difícil. A maioria dos moradores do
povoado sabem onde Luiza mora,
a dois quarteirões da capela.
Solícita, a beata pede "só um
minutinho, para desligar o fogão", e volta, de avental, com as
chaves da capela na mão.
"Sempre que chega um turista,
eu levo até a capela. Não importa
o horário", diz. Apesar do sol escaldante que banha a praça, dentro da capela, feita de taipa de pilão, a escuridão é total. Luiza segue na frente, acendendo todas as
luzes, até chegar ao altar.
A imagem de são Longuinho
surpreende por não ser em nada
parecida com as que se costumam
encontrar nas igrejas.
Feita por índios, em madeira, a
estátua só possui a parte superior
do corpo e seu rosto é pintado
sem muitos detalhes, com poucos
traços firmes.
Outra diferença: em vez de
"roupas" pintadas sobre a madeira, ele possui um guarda-roupa
completo, de tecido, feito sob medida, no qual consta até uma indumentária de veludo para os
dias de festa. Além disso, vários
anéis, colares e pulseiras adornam
as mãos e o pescoço da imagem.
"É tudo pagamento de promessa", explica a beata.
Mas o pagamento mais surpreendente, para Luiza, veio mesmo em forma dos tradicionais pulinhos. E antes de contar a história, ela aponta para a imagem: "As
pessoas não acreditam, mas são
Longuinho é minha testemunha".
Segundo Luiza, um grupo de
três bolivianos e três brasileiras
chegou à casa dela, no início deste
ano para visitar a capela. Eles haviam pedido ao santo para ganhar
um "jogo". Pedido atendido, promessa paga: 3.000 pulos.
Diz que se cansou de tanto ver
os seis pulando. "Pena que não tinha uma filmadora para gravar."
Amarílis Lage hospedou-se a convite da
pousada Campestre Vale dos Sonhos
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