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BAÍA DE ANGRA
Rotas cortam as matas e margeiam o litoral
Caminhadas de vários níveis de dificuldade levam a praias distantes, cachoeiras e ruínas dos sécs. 17 e 18
DO ENVIADO ESPECIAL A ILHA GRANDE
O carioca César Rocha anunciou, enfático no café da manhã: "Hoje nós vamos a pé". Era
o terceiro dia da estada da família na ilha. "Chega de barco, vamos fazer uma trilha."
Boa parte de Ilha Grande é
recortada por trilhas que serpenteiam por matas e montanhas ou margeiam a costa em
direção a praias a que nem todos conseguem chegar.
Para os menos preparados fisicamente, as trilhas que partem da vila Abraão são as mais
indicadas, por serem as mais
curtas. Elas têm, em média, 1,5
km de extensão, pouco mais do
que a metade da avenida Paulista, em São Paulo.
Esses caminhos levam a
praias próximas. A passos lentos, podem ser feitos em
1h30min, mas há quem leve
muito mais tempo, parando para um banho nas cachoeiras e
nos córregos, para ver mirantes
e ruínas dos séculos 17 e 18 ou
para se esparramar na areia das
praias do caminho.
Praias e ruínas
O circuito Abraão, popularmente conhecido como trilha 1,
é o mais procurado pelos turistas que não estão acostumados
a longas caminhadas. Localizado no parque estadual da Ilha
Grande, percorre uma área que
antes pertencia a uma fazenda
de cana-de-açúcar.
No caminho existem ruínas,
como a do lazareto que antes
era uma das casas da fazenda.
Após ser comprado pelo Império, em 1884, o imóvel foi transformado em hospital de quarentena para recolher imigrantes europeus vítimas de surtos
de doenças contagiosas, em especial a cólera.
O lazareto funcionou de 1886
até 1913 e atendeu pacientes de
mais de 4.000 embarcações.
Foi desativado após mudanças
na política de controle sanitário e avanços da medicina.
Em 1940, Getúlio Vargas o
transformou em prisão federal,
que recebeu o nome de Colônia
Penal Cândido Mendes, desativada em 1954.
Em 1963, os prédios foram demolidos por ordem do governador Carlos Lacerda.
A mesma trilha leva à praia
Preta. "Uma obra-prima da natureza", como define a placa
fincada na entrada da praia.
O vaivém das ondas na praia
Preta produz uma alternância
de camadas de areia com cores
diferentes e espessura de cerca
de um centímetro.
A areia é uma mistura de minérios claros, como o quartzo e
o feldspato, e minerais escuros
e pesados, como a magnetita e a
ilumenita. Essa é a única praia
na ilha com essa combinação de
minerais na areia.
Bem perto dali há um antigo
aqueduto do século 18, onde é
recomendável uma pausa para
um banho na piscina natural
formada pelas águas que correm de uma cachoeira.
O local, chamado de poção,
era usado para o banho dos escravos, que ficavam amarrados
uns aos outros e presos, em
conjunto, às pedras.
Pela costa
Aos que estão acostumados a
caminhadas mais longas recomenda-se a trilha 10. O começo
também é na vila Abraão, e o
fim é na praia do Pouso. São 6
km de extensão, percorridos
em até três horas de caminhada. Se não desistir no meio do
caminho, o turista passa pelas
praias da Julia, da Biquinha, da
Crena, do Abrãozinho, de Palmas e de Mangues.
Uma vez no Pouso, outra trilha leva à praia Mendes Lopes.
Muitos esportistas procuram
a ilha para caminhadas mais
complexas. Depois de 3h30min
e 6 km, quem tem experiência
em caminhadas alcança o pico
do Papagaio, o ponto mais alto
da ilha, a 990 metros acima do
nível do mar. A subida é bastante íngreme, e o passeio é de alto
grau de dificuldade, mas a vista
privilegiada de boa parte da ilha
recompensa o esforço.
Guia local
A sinalização é intensa nas
trilhas mais populares, mas escassa nas de alto grau de dificuldade. Em alguns pontos, a
mata fechada e as inúmeras bifurcações podem desorientar o
trilheiro inexperiente.
Vale lembrar que caminhar
por trilhas não é a mesma coisa
que andar pela cidade. São inúmeros os obstáculos. Caminhos
cheios de pedras, raízes, subidas e descidas. Por isso, esses
passeios devem ser feitos com a
companhia de um guia local, algo nada difícil de encontrar na
vila Abraão.
No início da noite, a família
que havia sido intimada pelo
pai a largar o barco e percorrer
trilhas descansava de volta ao
hotel. Lucas, o filho de 9 anos,
exausto, queria dormir cedo.
Disse que precisava descansar
para seguir outra trilha no dia
seguinte.
(FABIO MARRA)
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