São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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BAÍA DE ANGRA

Rotas cortam as matas e margeiam o litoral

Caminhadas de vários níveis de dificuldade levam a praias distantes, cachoeiras e ruínas dos sécs. 17 e 18

DO ENVIADO ESPECIAL A ILHA GRANDE

O carioca César Rocha anunciou, enfático no café da manhã: "Hoje nós vamos a pé". Era o terceiro dia da estada da família na ilha. "Chega de barco, vamos fazer uma trilha."
Boa parte de Ilha Grande é recortada por trilhas que serpenteiam por matas e montanhas ou margeiam a costa em direção a praias a que nem todos conseguem chegar.
Para os menos preparados fisicamente, as trilhas que partem da vila Abraão são as mais indicadas, por serem as mais curtas. Elas têm, em média, 1,5 km de extensão, pouco mais do que a metade da avenida Paulista, em São Paulo.
Esses caminhos levam a praias próximas. A passos lentos, podem ser feitos em 1h30min, mas há quem leve muito mais tempo, parando para um banho nas cachoeiras e nos córregos, para ver mirantes e ruínas dos séculos 17 e 18 ou para se esparramar na areia das praias do caminho.

Praias e ruínas
O circuito Abraão, popularmente conhecido como trilha 1, é o mais procurado pelos turistas que não estão acostumados a longas caminhadas. Localizado no parque estadual da Ilha Grande, percorre uma área que antes pertencia a uma fazenda de cana-de-açúcar.
No caminho existem ruínas, como a do lazareto que antes era uma das casas da fazenda. Após ser comprado pelo Império, em 1884, o imóvel foi transformado em hospital de quarentena para recolher imigrantes europeus vítimas de surtos de doenças contagiosas, em especial a cólera.
O lazareto funcionou de 1886 até 1913 e atendeu pacientes de mais de 4.000 embarcações. Foi desativado após mudanças na política de controle sanitário e avanços da medicina.
Em 1940, Getúlio Vargas o transformou em prisão federal, que recebeu o nome de Colônia Penal Cândido Mendes, desativada em 1954. Em 1963, os prédios foram demolidos por ordem do governador Carlos Lacerda.
A mesma trilha leva à praia Preta. "Uma obra-prima da natureza", como define a placa fincada na entrada da praia.
O vaivém das ondas na praia Preta produz uma alternância de camadas de areia com cores diferentes e espessura de cerca de um centímetro.
A areia é uma mistura de minérios claros, como o quartzo e o feldspato, e minerais escuros e pesados, como a magnetita e a ilumenita. Essa é a única praia na ilha com essa combinação de minerais na areia.
Bem perto dali há um antigo aqueduto do século 18, onde é recomendável uma pausa para um banho na piscina natural formada pelas águas que correm de uma cachoeira.
O local, chamado de poção, era usado para o banho dos escravos, que ficavam amarrados uns aos outros e presos, em conjunto, às pedras.

Pela costa
Aos que estão acostumados a caminhadas mais longas recomenda-se a trilha 10. O começo também é na vila Abraão, e o fim é na praia do Pouso. São 6 km de extensão, percorridos em até três horas de caminhada. Se não desistir no meio do caminho, o turista passa pelas praias da Julia, da Biquinha, da Crena, do Abrãozinho, de Palmas e de Mangues.
Uma vez no Pouso, outra trilha leva à praia Mendes Lopes.
Muitos esportistas procuram a ilha para caminhadas mais complexas. Depois de 3h30min e 6 km, quem tem experiência em caminhadas alcança o pico do Papagaio, o ponto mais alto da ilha, a 990 metros acima do nível do mar. A subida é bastante íngreme, e o passeio é de alto grau de dificuldade, mas a vista privilegiada de boa parte da ilha recompensa o esforço.

Guia local
A sinalização é intensa nas trilhas mais populares, mas escassa nas de alto grau de dificuldade. Em alguns pontos, a mata fechada e as inúmeras bifurcações podem desorientar o trilheiro inexperiente.
Vale lembrar que caminhar por trilhas não é a mesma coisa que andar pela cidade. São inúmeros os obstáculos. Caminhos cheios de pedras, raízes, subidas e descidas. Por isso, esses passeios devem ser feitos com a companhia de um guia local, algo nada difícil de encontrar na vila Abraão.
No início da noite, a família que havia sido intimada pelo pai a largar o barco e percorrer trilhas descansava de volta ao hotel. Lucas, o filho de 9 anos, exausto, queria dormir cedo. Disse que precisava descansar para seguir outra trilha no dia seguinte. (FABIO MARRA)


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