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ÁRIDOS ANDINOS
Chão de Uyuni reflete paisagem surreal
Rota de San Pedro de Atacama até salar na Bolívia guarda gêiseres e bichos como flamingos e vicunhas
EM UYUNI (BOLÍVIA)
Quando você for ao salar de
Uyuni, na Bolívia, torça para
que chova na noite anterior. A
chuva que se acumula na superfície de sal reflete o céu, criando
a ilusão de que a paisagem é
uma só. Emoção, deslumbre e
surpresa são apenas algumas
das palavras que cabem para
descrever a sensação de chegar
ao deserto de sal após três longos dias de viagem.
Partindo de San Pedro de
Atacama, no Chile, o trajeto até
o salar de Uyuni dura três dias
-mais um para voltar. A distância percorrida entre San Pedro de Atacama e o salar boliviano é pequena, mas a viagem
se prolonga porque é feita aos
poucos, com paradas nas atrações naturais da reserva nacional de fauna andina Eduardo
Avaroa, na região de Potosí.
Apenas agências de turismo
bolivianas têm autorização para fazer a viagem até o salar. O
pacote, que inclui transporte,
alimentação e hospedagem, sai
por cerca US$ 135. De San Pedro, pega-se uma van até a fronteira com a Bolívia. Após passar
pela imigração -basta apresentar identidade ou passaporte-, jipes 4x4 acomodam grupos de seis pessoas. Também é
possível fazer o trajeto no sentido contrário, partindo da Bolívia rumo ao Chile.
É preciso levar roupas tanto
para frio quanto para calor, traje de banho (para aproveitar o
mergulho em uma terma com
água a cerca de 30C), além de
protetor solar, óculos escuros e
um saco de dormir -útil e higiênico para passar a noite em
lugares simples.
Durante a viagem, o turista
se depara com lagoas, gêiseres,
pedras vulcânicas esculpidas
pelo vento e diversos animais,
como flamingos, vicunhas e
lhamas -esses últimos costumam ser adornados com fitas
coloridas, que servem para
identificar a qual família de
agricultores pertencem e simbolizam os elementos que eles
tiram da natureza.
A primeira parada é na laguna Verde, que fica a 4.400 metros de altitude. Em seguida
vem a laguna Branca, de onde
se avista o vulcão Licancabur,
cujo território é dividido entre
Chile, Argentina e Bolívia.
Depois, o visitante entra numa área geotérmica chamada
Sol de Mañana, que fica a cerca
de 5.000 m. A área possui gêiseres ativos, que borbulham freneticamente, alcançando até
50 metros de altura. A região é
uma verdadeira aula de geografia, com lavas de cores cinza e
laranja em plena atividade. Parece que o visitante acompanha
o começo da formação da Terra. Não é recomendável passar
muito tempo no local, pois a
inalação dos gases pode causar
náuseas e enjoos.
Cerca de 50 quilômetros
adiante, é possível ver a laguna
Colorada, uma das paisagens
mais impressionantes do trajeto. Povoada por muitos flamingos e algumas lhamas e vicunhas, a lagoa tem sua coloração
determinada pela luz solar, pelas algas e pelos sedimentos
que ficam em sua borda -em
determinado trecho, apresenta
tons de rosa, em outros, nuances verde-azuladas.
Algumas refeições são preparadas pelos motoristas do jipe.
Contente-se em só saber na hora o que vai cair no seu estômago. Arroz com tomate e atum é
uma opção, assim como salsicha com purê. Tudo bem simples. Vegetarianos podem ter
dificuldades. Para se prevenir,
faça um kit com comidas que
podem ser conservadas em
temperatura ambiente, como
castanhas e barras de cereal.
O primeiro dia de viagem
costuma ser mais complicado,
por conta da mudança brusca
de altitude e, também, de temperatura. Enjoo, náusea e dor
de cabeça são companheiros
inseparáveis dos mais sensíveis. Seguindo a tradição local,
os guias costumam recomendar chá de coca para aliviar os
sintomas -outro chá, menos
conhecido, é o de chachacoma,
ainda mais forte e eficiente.
No fim do dia, após mais de
oito horas de passeio, é chegada
a hora da primeira parada -um
alojamento simples, com quartos compartilhados, onde é servido um jantar frugal. Primeiro
problema: a hospedagem não
inclui banho...
No dia seguinte, bem cedo, é
hora de dar continuidade ao
trajeto pela reserva. A primeira
parada é no deserto de Siloli,
que conta com formações vulcânicas esculpidas pelo vento.
A mais famosa é o Arbol de Piedra, ou árvore de pedra.
Uma parada no povoado de
Julaca impressiona e, por vezes, deprime. A cidade, cortada
por uma linha de trem desativada, é semidesabitada -vê-se
uma família ou outra, além de
um cemitério repleto de cruzes.
Na segunda noite, o ponto de
parada é um hotel de sal -chão
coberto de sal, mesa formada
por sal, comida nem sempre
com muito sal. Nessa noite, é
possível tomar banho -a água
quente é garantida no recibo,
mas basta chegar ao local para
se contentar por ter banho.
Ver paisagens deslumbrantes por dois dias seguidos pode
fazer o viajante pensar que nada mais vai surpreender. Mas
basta chegar ao salar de Uyuni
para deixar qualquer pensamento racional de lado. Com 12
mil km2 de extensão, o salar é o
tipo de paisagem que você nem
imaginava que existia. A sessão
de fotos é garantida. Principalmente para fazer ensaios com
ilusão de ótica.
O salar de Uyuni ocupa as
profundezas de um lago que
existiu há 12 mil anos. Ao longo
de sua extensão, há trechos
com apenas 80 cm de profundidade; outros chegam a 80 metros. O local também é conhecido por ser o maior depósito
de lítio do mundo (leia ao lado).
A chuva que transforma a
paisagem numa só imagem impede a visita à isla de Pescado,
uma ilhota cuja superfície é recoberta por cactos gigantes,
que chegam a dez metros de altura.
(DANIELA ARRAIS)
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