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ACESSIBILIDADE
Londres tenta se adequar a turista cadeirante
Acesso é quase total, mas a dimensão de algumas estações de metrô mais antigas impediu a adaptação
Divulgação/VisitLondon
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Grande pátio do British Museum reformado pelo arquiteto inglês Norman Foster em 2000 |
MAURICIO PARONI
ESPECIAL PARA A FOLHA,
EM LONDRES
Se não fosse dramaticamente
desrespeitoso, deveria ser vendido um pacote de viagem a
Londres em uma cadeira de rodas ao público em geral.
É uma aventura cinematográfica, um longo plano-seqüência em um dolly (a cadeirinha de filmagem).
Sonho impossível do que
pretendia Paris, emana hoje de
Londres uma energia cultural
palpável em todos os cantos.
Não há cidade no mundo que
proporcione essa acumulação
real de imagens: os monumentos são muitos -e acessíveis.
Paris, com seus obstáculos
urbanos, o mundo excessivamente virtual de Tóquio, ou
Roma e sua falta de preparo para acolher cadeirantes -comparável à de São Paulo- ficam
atrás, apesar dos monumentos.
Londres oferece a cadeirantes chave para banheiros reservados. Há acesso para barcos
turísticos pelo Tâmisa. Facilidades assim são a expressão da
mentalidade que promoveu a
invenção da privacidade, operada na Revolução Industrial.
A Inglaterra continua a ser
pioneira na inclusão de deficientes. O "Disability Discrimination Act", uma espécie de estatuto para equipamentos e
preferência a deficientes, opera
desde 1995. Isso merece ser
conferido na legislação. Está
escrito: "É ilícito que um fornecedor de serviços discrimine o
portador de deficiência física".
Mas verificar na prática o estatuto é melhor ainda. A aventura começa a ser planejada
com a ajuda do site que busca
resolver problemas de acesso:
www.visitlondon.com/city_guide/accessible_london.
Inclusão
A começar pelos transportes
públicos, não há ônibus sem
acesso para cadeiras de rodas.
Todas as linhas de metrô que
permitiam modificações foram
adaptadas. Muitas continuam
inacessíveis, por causa da idade
e da dimensão de seus túneis.
O projeto é chegar a pelo menos 90% de acessibilidade. O site do metrô (www.tfl.gov.uk/tube) diz quais linhas e estações têm acesso universal.
Não há uma casa de espetáculos sem acessibilidade. No
Globe Theatre (www.shakespeares-globe.org/theatre), o
lugar mais barato é o melhor
para o cadeirante. Na Royal
Opera House (info.royaloperahouse.org), há espaços para deficientes em quase todas
as galerias. Banheiros são impecáveis. Dica: aproveite ao
máximo os banheiros, pois eles
nem sempre estão próximos.
Museus
Visite várias vezes a National
Gallery, em Trafalgar Square,
gratuita como a maioria dos
museus londrinos. Isso permite que se aprecie singularmente o seu acervo, livre da neurose
de ter que ver tudo de uma vez.
Admire as salas dos pintores
pré-rafaelitas -integrantes de
movimento do século 19 que
buscava retomar valores dos
primeiros renascentistas, antes
de Rafael- e de William Turner (1775-1851) para se educar
nas cores que fizeram o céu da
cidade ficar famoso.
Em seguida, vá à vizinha National Portrait Gallery (www.npg.org.uk; em St. Martin's place) para acostumar o olhar
às nuances dos tipos humanos.
A céu aberto
Depois, para começar o passeio lá fora, suba pela Leicester
square, caminhe pelo Soho, saboreie "fish and chips", cruze o
Covent Garden Market -há ali
o London Transport Museum
(www.ltmuseum.co.uk) e o Theatre Museum
(www.vam.ac.uk/ tco)- e
desça de volta à Trafalgar square pela Charing Cross road.
Vá aos sebos da Charing
Cross road. Para entrar é preciso tocar a campainha. O dono
abre a porta e coloca uma rampa sobre os degraus. E assim é
travado o contato com o livreiro, antes do contato com os livros -o melhor caminho para
não se perder por prateleiras.
Mais museus
A Tate Modern (www.tate.org.uk; em Bankside, ao sul do
Tâmisa), além do espetacular
acervo de arte moderna e contemporânea, possui a melhor
livraria sobre o gênero que se
pode encontrar na Europa, a
Turbine Hall. Já a Tate Britain
(em Milbank) tem o melhor
acervo de obras de Turner.
Visitar várias vezes o British
Museum (www.thebritishmuseum.ac.uk; Russel street)
ou o Victoria and Albert
(www.vam.ac.uk; Cromwell
road) traz vantagens imensas:
monumentos e objetos cotidianos da história estão ao alcance
de uma cadeira de rodas.
Eles não substituem uma ida
ao Partenon, na Grécia, mas o
melhor de suas esculturas está
ali, organizado de forma didática e literalmente acessível.
Uma cadeira de rodas na
Acrópole é tratada como um
trambolho. Nas galerias lisas
do British Museum, ela se torna o mais eficiente meio para
admirar a obra do escultor Fídias (c.500 a.C. - c.432 a.C).
O museu consente que o visitante segure obras do acervo
nas mãos, sob a orientação de
um arqueólogo. Basta procurar, do lado do acervo de arte
romana, a placa "Hands On",
todos os dias, das 11h às 16h.
Há a polêmica sobre grande
parte do acervo do British Museum ser fruto da pilhagem feita pelo Império Britânico no
século 19.
A posição oficial do governo
britânico é a de que ele está ao
alcance de todos. O tratamento
dado aos deficientes ali ajuda a
legitimar essa posição. Dificilmente a Acrópole poderia garantir essa acessibilidade.
Torre
Um bom descanso no restaurante situado no grande pátio
do British Museum introduz o
visitante à sede da eternização
monumental da era Tony Blair,
por mãos de seu mais famoso
arquiteto, Norman Foster -o
escritório Foster+Partners
(www.fosterandpartners.com) reformou, em 2000, o
grande pátio do museu.
Foster também projetou o
Gherkin, estranho edifício de
50 andares no coração da City,
que causou grande impacto na
paisagem do centro da cidade.
Não é novo o fato de construções serem instrumento de exibição de poder, mas isso levou a
prefeitura a autorizar edificações do tipo só no extremo leste, lugar então decadente, hoje
cheio de arranha-céus de vidro
e alumínio: Canary Wharf. O
acesso pela linha cinza do metrô, a Jubilee Line, incentiva
um passeio por ali.
A mesma linha de metrô nos
leva a encerrar o imenso plano-seqüência com a visita ao Parlamento e à abadia de Westminster, num percurso inverso
do centro do poder financeiro
ao centro do poder político e
religioso do Reino Unido.
Maurício Paroni de Castro , 46, diretor de teatro,
é graduado pela Faculdade de Direito da USP e
em arte dramática pela escola Paolo Grassi/Piccolo Teatro, de Milão (Itália)
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