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Caraíva deve receber energia elétrica neste ano
DA ENVIADA ESPECIAL
A primeira sensação que se tem
em Caraíva é que o tempo parou
por ali. Para chegar lá, só de barco
-a travessia do rio Caraíva custa
R$ 1 por pessoa- ou, para os
mais atléticos, a nado.
Sem asfalto nem energia elétrica
(só solar e geradores), a vila é famosa por ser um excelente ponto
de observação de estrelas à noite e
por seus animados forrós. Mas os
ímpetos da modernidade avançam sobre a região e a chegada de
energia elétrica, que pode desagradar aos visitantes mais puristas, é o primeiro sinal.
Segundo Sebastião Ferreira, secretário de Obras e Infra-Estrutura de Porto Seguro, acaba de ser
aprovada, inclusive por um conselho ambiental, a instalação de
postes e fiação em Nova Caraíva
(o trecho localizado antes da travessia do rio) já para janeiro.
Ainda está em discussão a introdução da energia elétrica na aldeia
pataxó de Barra Velha e na Velha
Caraíva, o povoado turístico, local
onde a novidade causa mais polêmica. "A comunidade de Caraíva
hoje está procurando uma alternativa para o sistema de iluminação tradicional", diz o secretário.
"Eles querem fiação subterrânea,
só para gerar energia para casas e
estabelecimentos comerciais." Segundo ele, o maior problema desse sistema é a viabilidade financeira, já que o custo pode ser até
100% mais alto que o tradicional.
Para Andréa Trizoto, 42, carioca
que mora em Caraíva há 13 anos e
pertence ao grupo PróEco, espécie de conselho gestor que defende os interesses dos habitantes, a
energia será recebida com festa.
"Para nós, comerciantes [ela é dona de uma pizzaria], representará
uma melhora de 100%."
Hoje, moradores, pousadas e
restaurantes têm geradores individuais a diesel para a produção
de energia. Além de causar barulheira, eles poluem bastante. "Os
resíduos dos geradores são despejados na areia e comprometem o
lençol freático", lembra Edgard
Rua, 52 anos, dos quais 15 em Caraíva, outro membro da PróEco.
Entre os habitantes, a maioria
não tem geladeira nem TV, e é comum ver grupos de crianças assistindo a um só aparelho. Dito
Sirnandes, 39, lavrador e canoeiro
nascido no vilarejo, diz que a luz é
prometida desde que era menino.
"Se lá fora todos podem ter acesso
ao conforto, por que aqui a gente
fica abandonado?"
Outra notícia que causará certo
impacto na região é a chegada do
asfalto até a beira do rio. Segundo
o secretário, o trecho ligando
Trancoso a Caraíva começará a
ser asfaltado ainda em julho.
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