São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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Caraíva deve receber energia elétrica neste ano

DA ENVIADA ESPECIAL

A primeira sensação que se tem em Caraíva é que o tempo parou por ali. Para chegar lá, só de barco -a travessia do rio Caraíva custa R$ 1 por pessoa- ou, para os mais atléticos, a nado.
Sem asfalto nem energia elétrica (só solar e geradores), a vila é famosa por ser um excelente ponto de observação de estrelas à noite e por seus animados forrós. Mas os ímpetos da modernidade avançam sobre a região e a chegada de energia elétrica, que pode desagradar aos visitantes mais puristas, é o primeiro sinal.
Segundo Sebastião Ferreira, secretário de Obras e Infra-Estrutura de Porto Seguro, acaba de ser aprovada, inclusive por um conselho ambiental, a instalação de postes e fiação em Nova Caraíva (o trecho localizado antes da travessia do rio) já para janeiro.
Ainda está em discussão a introdução da energia elétrica na aldeia pataxó de Barra Velha e na Velha Caraíva, o povoado turístico, local onde a novidade causa mais polêmica. "A comunidade de Caraíva hoje está procurando uma alternativa para o sistema de iluminação tradicional", diz o secretário. "Eles querem fiação subterrânea, só para gerar energia para casas e estabelecimentos comerciais." Segundo ele, o maior problema desse sistema é a viabilidade financeira, já que o custo pode ser até 100% mais alto que o tradicional.
Para Andréa Trizoto, 42, carioca que mora em Caraíva há 13 anos e pertence ao grupo PróEco, espécie de conselho gestor que defende os interesses dos habitantes, a energia será recebida com festa. "Para nós, comerciantes [ela é dona de uma pizzaria], representará uma melhora de 100%."
Hoje, moradores, pousadas e restaurantes têm geradores individuais a diesel para a produção de energia. Além de causar barulheira, eles poluem bastante. "Os resíduos dos geradores são despejados na areia e comprometem o lençol freático", lembra Edgard Rua, 52 anos, dos quais 15 em Caraíva, outro membro da PróEco.
Entre os habitantes, a maioria não tem geladeira nem TV, e é comum ver grupos de crianças assistindo a um só aparelho. Dito Sirnandes, 39, lavrador e canoeiro nascido no vilarejo, diz que a luz é prometida desde que era menino. "Se lá fora todos podem ter acesso ao conforto, por que aqui a gente fica abandonado?"
Outra notícia que causará certo impacto na região é a chegada do asfalto até a beira do rio. Segundo o secretário, o trecho ligando Trancoso a Caraíva começará a ser asfaltado ainda em julho.


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