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"Sou bastante poços-caldense, com raiz antiga"
ANTONIO CANDIDO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Poços de Caldas é uma cidade
encantadora. Minha mãe, nascida lá e depois residente lá por
muitos anos, dizia que é a melhor do mundo. Exagero à parte, vale a pena ir verificar se é ou
não. Sou bastante poços-caldense, com raízes antigas, porque meu avô materno, médico
no Rio, foi um dos diretores da
empresa que, nos anos de 1880
e 1890, transformou o pequeno
povoado em estância hidromineral. Muito mais tarde, meu
pai, também médico, foi contratado para ser o primeiro diretor dos Serviços Termais na
cidade transformada profundamente pelo Governo de Minas entre 1926 e 1930.
Fomos para Poços nesta última data, quando eu tinha onze
anos e meio, e apesar de ter vindo cursar a Universidade em
São Paulo em 1936 e ter acabado por morar aqui, sempre vivi
muito lá até 1989, configurando
quase um duplo domicílio.
Conheci a pequena cidade de
12 mil habitantes, que vi crescer até ficar a cidade grande de
hoje, e acho que foi sempre um
lugar ideal. Basta pensar nas
suas "manhãs de azul e prata" e
no "célebre luar de Poços, de
uma doçura de lírios diluídos",
como escreveu João do Rio no
romance "A Correspondência
de uma Estação de Cura".
Antonio Candido de Mello e Souza, 87, é crítico
literário e professor emérito da USP
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