São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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ASIÁTICOS

Ferrovia "high-tech" liga China ao Tibete e gera controvérsia

Passageiros passam mal em altas altitudes; críticos acusam Pequim de querer arrasar a cultura tibetana

DA ASSOCIATED PRESS

A China inaugurou na semana passada sua ferrovia "high-tech", a primeira a ligar Pequim ao Tibete, em uma viagem direta à região do Himalaia. Com 1.140 quilômetros de extensão, o chamado trem do Céu atinge as maiores altitudes do mundo, alcançando 5.072 metros.
Para percorrer as terras altas, os engenheiros tiveram de montar um trem com um sistema de alta tecnologia capaz de estabilizar os trilhos sobre superfícies congeladas e cabines enriquecidas de oxigênio para ajudar os viajantes a lidar com as altas altitudes.
Na viagem, tinteiros de caneta estouraram, laptops e computadores falharam, e muitos passageiros passaram o dia lidando com os males da altitude. Tiveram de respirar por tubos de oxigênio para agüentar o ponto mais alto, em Tanggula.
Três viajantes vomitaram, enquanto outros tiveram dores de cabeça -sintomas comuns do mal de altitude. Do lado de fora, entretanto, a vida era outra. Podiam-se observar antílopes tibetanos, mulas quase cobertas pela neve das montanhas e um céu muito azul.
A linha férrea, que custou US$ 4,2 bilhões (R$ 9,1 bilhões) e levou quatro anos para ser construída, é também motivo de muitas controvérsias.
O Tibete foi anexado pela China em 1951 e após uma rebelião separatista reprimida pelo Exército chinês, o dalai-lama deixou o Tibete em 1959.
Críticos, incluindo tibetanos e o dalai-lama, dizem que os gastos despendidos na ferrovia fazem parte de uma campanha de Pequim para arrasar a cultura tibetana -por encorajar o afluxo de migrantes chineses, que ameaçarão o ambiente e diluirão a cultura budista. Ambientalistas também lamentam o impacto da ferrovia sobre as terras altas do Tibete.
O trem "significará mais destruição ambiental para o Tibete, mais desemprego para os tibetanos e, claro, nossa cultura será devastada", disse Ngawang Woeber, um membro do Gu Chu Sum, um grupo de apoio para presos políticos tibetanos baseado na Índia.
Apesar da promessa pública do governo de Pequim em preservar o frágil platô tibetano atravessado pelo trem, após a viagem, com partida no sábado e chegada na segunda-feira, havia sacos plásticos, garrafas e caixas de papelão espalhados ao longo dos trilhos.
Zhu Zhensheng, vice-diretor da ferrovia, afirmou que a linha é uma "conquista importante". Para ele, o projeto irá estimular a economia tibetana e ajudar as pessoas a aprenderem sobre essa cultura. Zhu diz que poucos tibetanos trabalharão no trem no início, embora espere "aumentar as oportunidades".
A ferrovia foi projetada para ajudar a dobrar a receita do turismo até 2010 e reduzir o custo de transporte de mercadorias em até 75%, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua.


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