São Paulo, quinta-feira, 06 de agosto de 2009

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MIAMI 2 EM 1/ KEY BISCAYNE

Ilha conserva estrutura mais antiga da Flórida

Nixon foi 50 vezes à ilha enquanto presidente dos EUA e, ao renunciar, em 1973, morou em Key Biscayne

Silvio Cioffi/Folha Imagem
MONUMENTO
O farol em meio ao parque Bill Baggs, onde há aéreas de lazer e recreação, além de sinalização histórica, geográfica e ecológica

DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Sim, há uma ilha ao sul de Miami Beach/South Beach onde a atmosfera é natural. Ela se chama Key Biscayne e, ali -e na ilha vizinha, Virginia Key-, nada remete ao agito e à badalação do distrito Art Déco.
Cercada por praias de águas rasas e conectada pela via expressa Rickenbacker Causeway, de 6 km de extensão, a downtown Miami, Key Biscayne tem uma área à beira-mar no entorno do parque Crandon, na parte superior da ilha.
Na extremidade sul, tem outra praia que, emoldurada pelo parque Bill Baggs, conserva bem sinalizados seus inúmeros ninhos que guardam ovos de tartarugas marinhas.
Nessa praia, há uma parte mais movimentada, mas, à medida que se chega perto do histórico farol -chamado de Cape Florida Lighthouse (www.capefloridalighthouse.com)-, a paisagem fica mais selvagem e os prédios dão lugar a dunas.
Construído em 1825 e restaurado algumas vezes, esse farol é a estrutura mais antiga do sul da Flórida. Marco da arquitetura naval, já serviu para sinalizar a rota dos navios que iam de Nova York a Key West, a última das ilhas da Flórida, há 150 km de Cuba.
Eclética, a ilha Key Biscayne tem, além desse lado mais selvagem, um resort Ritz-Carlton no número 455 de Grand Bay Drive, além de condomínios.
Richard Nixon (1913-1994), 37º presidente dos EUA, foi presença frequente em Key Biscayne. Proprietário de uma casa na região, esteve pelo menos 50 vezes por ali entre 1969 e 1973- e, depois de renunciar, no bojo do escândalo do Watergate, lá se refugiou, em 1974.
Logo na entrada da ilha de Key Biscayne, a vista de downtown Miami é, a qualquer hora, digna de uma parada.

Aquário
À direita após o pedágio, na altura do 4.400 Rickenbacker Causeway, fica o Miami Seaquarium (www.miamiseaquarium.com), onde há shows de baleias e golfinhos.
Além dos aquários e tanques que podem ser visitados pelos turistas, esse parque aquático, que se reivindica protetor dos animais marinhos, cuida de manatis, uma espécie gigante de peixe-boi. Trata-se de um mamífero aquático que habita os manguezais da Flórida.

Luz ao sul da ilha
Mas voltando ao farol, numa área de parque estadual conhecida como Bill Baggs Cape Florida State Recreation Area, no extremo sul da ilha, prepare-se para um passeio de aventura por Key Biscayne -e, até, para um bom piquenique.
Indo pela praia, à direita de quem olha o mar do resort Ritz-Carlton Key Biscayne, a areia é dura, boa para caminhada de uma hora. Conforme o farol se avizinha, aparece a vegetação original, com cactos e palmeirinhas sobre as pequenas dunas.
Na praia, os ninhos de ovos de tartarugas são demarcados, há gente remando caiaques, passeando de lancha, voando de ultraleve e até tentando caçar "tesouros" com equipamento detector de metal.
Mas planeje bem sua andança no rumo sul da ilha, levando protetor solar, água e repelente de insetos para quando chegar à área do farol propriamente dita. No fim da praia, onde, na mata, no entorno do farol, há mosquitos vorazes. No fim da praia, há aves, como o pelicano e a gaivota, e a íbis branca, espécie que usa seu bico arqueado para encontrar alimento nos alagados e pântanos.
Também dá chegar à área de recreação do parque Bill Baggs de carro, pela avenida, levando um farnel para passar o dia.
O parque tem churrasqueiras e mesas onde é possível comer sob as árvores. Há ainda sinalização explicativa que descreve os hábitos das tartarugas, dos pássaros e de outros bichos.
Há guardas florestais e banheiros e, na área, é permitido acampar, pescar, andar de bicicleta em trilhas, nadar e colocar jet-ski ou lancha na água.
Ao lado do farol -cujo nome oficial é o Cape Florida Lighthouse-, fica a casa do faroleiro, que funciona como museu desde 1972. No mesmo ano, o organismo que preserva parques na Flórida (www.parkvisitors.com/fl/capeflorida) investiu US$ 1,5 milhão em obras de restauro que incluíram a fabricação de 30 mil tijolos iguais aos originais feitos no Tennessee e usados na edificação no início do século 19.
Além da casa do faroleiro, há placas que, decerradas em 1996, contam a história dos negros que ali achavam refúgio da escravidão e, eventualmente, conseguiam transporte até Bahamas, Cuba e Haiti, onde, com sorte, se tornavam homens livres. O curioso é que tudo isso está tão perto -e tão longe!- da Miami que os turistas se habituaram a visitar.
Ali, reza a história, nesse território onde nos primórdios viviam índios seminoles, os escravos fugidos chamavam a si próprios de "black seminoles".
Assim, a edificação do farol, em 1825, também serviu para aumentar o controle da região.

Preservar é preciso
Interessado nesse monumento único, o jornalista Bill Baggs estimou em 300 os ex-escravos negros que teriam conseguido escapar para o Caribe levados, a troco de dinheiro, por capitães britânicos.
Baggs foi editor do jornal "The Miami News" de 1957 a 1969, ano em que morreu de ataque cardíaco, aos 48 anos. Ativista pelos direitos humanos, ele lutou pelos afro-descendentes nos EUA, se opôs à Guerra do Vietnã e defendeu o tombamento dessa área que alia natureza e história em Key Biscayne: um legado vivo e impressionante. (SILVIO CIOFFI).


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