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CARIBE COM C
Condições físicas desfavoráveis não impedem prosperidade local
Ilha tenta cumprir lições de economia do colonizador
DA ENVIADA ESPECIAL A CURAÇAO
E FREE-LANCE PARA A FOLHA
Como é possível Curaçao, uma
pequena ilha árida, montanhosa,
com terreno vulcânico impróprio
para agricultura, poucas fontes
naturais de água potável e antigo
centro de comércio escravo, ser
hoje um lugar próspero, com alta
renda per capita e baixa inflação?
A resposta está em usar da melhor
maneira possível os poucos recursos que lhe foram dados.
A ilha fica numa posição estratégica, entre as Américas e perto
do canal do Panamá. Isso facilita o
recebimento de carregamentos
vindos da Ásia a serem distribuídos nas Américas e na Europa. Esses navios são imensos e precisam
de portos seguros com águas profundas. Curaçao os possui.
Potencial é condição necessária,
mas não suficiente. Para transformar a ilha num centro de negócios, é preciso ainda experiência
administrativa, fluência em línguas estrangeiras e abertura econômica. Todas essas características foram adquiridas durante os
longos anos de convivência com o
colonizador holandês, mestre dos
mares e dos negócios.
Curaçao foi povoada por volta
do ano 600 por índios arahuacs
vindos da América do Sul. Descoberta pelos espanhóis em 1499, foi
tomada por holandeses em 1634.
Nessa época, mais precisamente
entre 1624 e 1654, a Holanda mantinha uma colônia em Pernambuco. Ao contrário da colonização
portuguesa, que era estatal, a empreitada holandesa era privada.
Tratava-se da Companhia das
Índias Ocidentais, uma sociedade
anônima de burgueses holandeses enriquecidos pelo comércio
com o Oriente e que viam na
América a oportunidade de expandir os seus negócios. Critérios
de eficiência econômica e pragmatismo, portanto, falavam mais
alto do que reverências à corte.
No Brasil, a produção canavieira em Pernambuco demandava
mão-de-obra, assim como no Suriname, no Caribe e na América
do Norte. Curaçao tornou-se essencial na rota do tráfico negreiro.
Em 1863, com o fim da escravidão, a ilha entrou em decadência.
A descoberta de petróleo na Venezuela, em 1914, lhe trouxe nova
oportunidade: o grupo anglo-holandês Shell instalou ali uma refinaria de óleo.
Autonomia
Em 1955, a ilha obteve autonomia. Decisões sobre questões internas passaram a ser tomadas
pelos seus habitantes. Defesa e relações externas ainda estão a cargo do reino da Holanda.
Nas últimas décadas, a ilha
abriu-se para bancos "off-shore"
e passou a investir em turismo.
Seguindo a tradição dos colonizadores, Curaçao busca diversificar
sua economia para compensar o
território exíguo e a falta de recursos naturais. O resultado da aposta é uma inflação de 2,2% e uma
renda per capita de US$ 15 mil.
Nem tudo, porém, é uma maravilha: a taxa de desemprego está
na faixa de 15%, e a relação entre
dívida e PIB (Produto Interno
Bruto) chegou a perigosos 60%.
De fato, é possível perceber alguns
sinais de pobreza nas ruas. Apesar
disso, a economia voltou a crescer
no ano passado: consumo e exportações aumentaram.
Os habitantes da ilha são em sua
maioria negros (85%), cidadãos
holandeses e, portanto, da União
Européia. Desfilam em carros japoneses e trabalham principalmente no setor de serviços. Falam
espanhol, inglês e holandês, e 96%
da população é alfabetizada.
Com parcas fontes de água doce, dessalinizam do mar toda água
que consomem. No processo,
aproveitam para gerar energia
elétrica. Hospitaleiros, os nativos
mostram-se confortáveis na era
da globalização.
(NOELI MENEZES SOARES e LUCIANO GRÜDTNER BURATTO)
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