São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

DEPOIMENTO JULIO MEIRON, 29

É belíssimo, mas eu gostaria de ter um encontro solitário com Machu Picchu

Tinha acabado de fazer o vestibular da USP em 2001, e é sempre um tempo de angústia. Não queria muito esperar isso, então resolvi fazer essa viagem para o Peru. Parte do caminho foi de ônibus, por terra, chegávamos e víamos o que era mais fácil de fazer.
Cruzamos a fronteira com a Bolívia em um táxi clandestino. Nesse caminho, o Brasil do Pantanal vai virando os Andes -é um trajeto muito bonito. Seguimos para o [lago] Titicaca. Fala-se que a origem do povo inca é ali.
Fomos para Cusco, um imenso quebra-cabeça, com as pedras incas que se encaixam perfeitamente, que são a base da cidade. São igrejas coloniais só de nome, porque aquelas pedras são incas. Foram apenas desmontadas, nos encaixes perfeitos, e remontadas, para construir catedrais barrocas.
É impressionante essa desconstrução da cidade, como peças de Lego com formas diferentes mas encaixes perfeitos, e reconstrução de uma cidade cristã. Histórias que contam como tudo aquilo era coberto de ouro, que representava o Sol. Uma cidade completamente pirateada pelos espanhóis.
Dali já parte o trem para a base da montanha de Machu Picchu para Aguas Calientes. Era caro para nós, à época, então pegamos um trecho até Ollataytambo, depois fomos andando pelas trilhas. É um povoado no caminho entre Cusco e Machu Picchu no vale sagrado inca e é uma cidade talvez mais impressionante, até, do que Machu Picchu. É uma cidade inca que funciona até hoje. A cidade está intacta, ou pelo menos grande parte. As águas contornam as cidades em canais perfeitos. Lembro de gente falando sobre o sistema de vapor d'água que cria bolhas e um microclima para as plantações. E as pessoas, descendentes diretas dos incas, roupas com tecidos que eles mesmos fiam, com motivos geométricos e coloridos.
Há estruturas de engenharia impressionantes no vale inca: pontes, sistemas de comunicação, mirantes.
Aguas Calientes é uma cidade sem graça, mas é a base da montanha, da subida para Machu Picchu. De certa forma, chegar aos "portões-catraca" de Machu Picchu foi como chegar em um parque de diversões. Senti a exploração do turismo, o que tirou um pouco do encanto. É belíssimo, mas eu queria ter um encontro solitário com o Machu Picchu. Esse encontro silencioso seria muito mágico.


Texto Anterior: Hospedagem: Hotel localizado a 50 metros das ruínas é o único em Machu Picchu
Próximo Texto: Pacotes para Machu Picchu
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.