São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

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CASAS-MUSEU EM SP
Se não fossem moradores da Vila Mariana, espaço teria sido destruído para dar lugar a um condomínio

Imóvel modernista dá aula de arquitetura

DA REPORTAGEM LOCAL

Como ocorre com outros bens arquitetônicos, a primeira casa de arquitetura modernista do país estava abandonada- até há cinco anos.
Além da pintura desgastada, faltavam janelas, azulejos e cerâmica na Casa Modernista (www.museudacidade.sp.gov.br/casamodernista.php), projetada pelo arquiteto de origem ucraniana Gregori Warchavchik (1896-1972) e construída em 1928 na rua Santa Cruz, na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.
Mas, após uma investida do poder público, o imóvel foi restaurado e reaberto à visitação em meados do ano passado.
"A casa é um marco para a arquitetura moderna no Brasil", afirma o arquiteto Mauro Claro, responsável pela curadoria da exposição "O Ambiente Moderno", que está em cartaz na Casa Modernista.
No andar de baixo do imóvel, com exceção da cozinha, todos os cômodos têm uma ligação com o jardim. "Uma das ideias da arquitetura modernista é essa relação com a natureza", afirma a educadora Mariana Homem de Mello.
Por isso, paredes e janelas dão lugar às portas de vidro, que levam ao jardim. Como na sala de jantar, que, com uma porta de vidro onde seria a parede externa, tem total comunicação com o lado de fora da casa. E essa porta tinha uma outra inovação: era elétrica. A guia aperta um botão e a porta se abre vagarosamente. "Imagina isso nos anos 30", diz ela. "Era muita novidade."
O jardim, aliás, também era novidade na época em que Mina Klabin, mulher de Warchavchik e filha de um industrial judeu-russo da elite paulista, o projetou. "Ela quebra o padrão do jardim em estilo europeu que imperava em São Paulo e coloca cactos, costela de adão", diz a educadora. Mina havia feito um teatro a céu aberto em seu enorme jardim, mas o tempo e o descuido fizeram o espaço quase desaparecer.
Uma "gracinha" da casa são duas plantas que ficam uma de cada lado do imóvel. Do lado direito, uma árvore "parente da araucária", chamada Mina. Do outro lado, exatamente na mesma reta, um mandacaru enorme apelidado de Gregori.
Também do lado de fora da casa está a piscina, em total abandono. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a piscina e todo o entorno da casa está em estudo pela Divisão de Preservação do Departamento do Patrimônio Histórico.
Sabendo que o seu projeto era inovador para a época, Warchavchik -cunhado do pintor Lasar Segall- colocou uma fachada cheia de detalhes para conseguir a aprovação da prefeitura para construir.
Ao final das obras, com a fachada reta, limpa e sem ornamentos, o arquiteto alegou falta de recursos para concluir o projeto.
Detalhes mais tradicionais, como o teto de telhas aparentes, foram construídos, mas poucos anos depois de se mudar, o casal fez reformas na casa, e esse telhado desapareceu.
Nos quartos, pias embutidas nas paredes. De acordo com Mariana, estão ali porque a família era judia e tinha o hábito de lavar as mãos sempre. Outra curiosidade é que todos os quartos do segundo andar da casa são interligados. Uma das hipóteses é que isso facilitaria uma rota de fuga caso o imóvel fosse invadido na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A família de Warchavchik morou na casa até meados dos anos 1970, quando a vendeu. Na década de 1980, uma construtora queria erguer ali um condomínio, mas a população do bairro protestou, criando a Associação Pró-Parque Modernista. Anos depois, o terreno, tombado após guerra judicial, foi adquirido pelo Estado.

No Pacaembu
Outro símbolo da arquitetura moderna é assinado também por Warchavchik. É a Casa Modernista do Pacaembu. Inaugurada em 1930, logo abrigou a "Exposição de uma Casa Modernista", que, além da arquitetura inovadora, trazia obras dos pintores Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Em seguida foi alugada e só recentemente foi aberta à visitação, com a mostra "Casa Modernista 80 Anos", em cartaz até dia 21. Depois, o neto do arquiteto, Carlos Eduardo Warchavchik, deve morar lá. (LUISA ALCANTARA E SILVA)


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