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CASAS-MUSEU EM SP
Se não fossem moradores da Vila Mariana, espaço teria sido destruído para dar lugar a um condomínio
Imóvel modernista dá aula de arquitetura
DA REPORTAGEM LOCAL
Como ocorre com outros
bens arquitetônicos, a primeira
casa de arquitetura modernista
do país estava abandonada-
até há cinco anos.
Além da pintura desgastada,
faltavam janelas, azulejos e cerâmica na Casa Modernista
(www.museudacidade.sp.gov.br/casamodernista.php), projetada pelo arquiteto de origem ucraniana Gregori Warchavchik (1896-1972)
e construída em 1928 na rua
Santa Cruz, na Vila Mariana, na
zona sul de São Paulo.
Mas, após uma investida do
poder público, o imóvel foi restaurado e reaberto à visitação
em meados do ano passado.
"A casa é um marco para a arquitetura moderna no Brasil",
afirma o arquiteto Mauro Claro, responsável pela curadoria
da exposição "O Ambiente Moderno", que está em cartaz na
Casa Modernista.
No andar de baixo do imóvel,
com exceção da cozinha, todos
os cômodos têm uma ligação
com o jardim. "Uma das ideias
da arquitetura modernista é
essa relação com a natureza",
afirma a educadora Mariana
Homem de Mello.
Por isso, paredes e janelas
dão lugar às portas de vidro,
que levam ao jardim. Como na
sala de jantar, que, com uma
porta de vidro onde seria a parede externa, tem total comunicação com o lado de fora da
casa. E essa porta tinha uma
outra inovação: era elétrica. A
guia aperta um botão e a porta
se abre vagarosamente. "Imagina isso nos anos 30", diz ela.
"Era muita novidade."
O jardim, aliás, também era
novidade na época em que Mina Klabin, mulher de Warchavchik e filha de um industrial judeu-russo da elite paulista, o
projetou. "Ela quebra o padrão
do jardim em estilo europeu
que imperava em São Paulo e
coloca cactos, costela de adão",
diz a educadora. Mina havia
feito um teatro a céu aberto em
seu enorme jardim, mas o tempo e o descuido fizeram o espaço quase desaparecer.
Uma "gracinha" da casa são
duas plantas que ficam uma de
cada lado do imóvel. Do lado
direito, uma árvore "parente da
araucária", chamada Mina. Do
outro lado, exatamente na
mesma reta, um mandacaru
enorme apelidado de Gregori.
Também do lado de fora da
casa está a piscina, em total
abandono. De acordo com a
Prefeitura de São Paulo, a piscina e todo o entorno da casa
está em estudo pela Divisão de
Preservação do Departamento
do Patrimônio Histórico.
Sabendo que o seu projeto
era inovador para a época,
Warchavchik -cunhado do
pintor Lasar Segall- colocou
uma fachada cheia de detalhes
para conseguir a aprovação da
prefeitura para construir.
Ao final das obras, com a fachada reta, limpa e sem ornamentos, o arquiteto alegou falta de recursos para concluir o
projeto.
Detalhes mais tradicionais,
como o teto de telhas aparentes, foram construídos, mas
poucos anos depois de se mudar, o casal fez reformas na casa, e esse telhado desapareceu.
Nos quartos, pias embutidas
nas paredes. De acordo com
Mariana, estão ali porque a família era judia e tinha o hábito
de lavar as mãos sempre. Outra
curiosidade é que todos os
quartos do segundo andar da
casa são interligados. Uma das
hipóteses é que isso facilitaria
uma rota de fuga caso o imóvel
fosse invadido na Segunda
Guerra Mundial (1939-1945).
A família de Warchavchik
morou na casa até meados dos
anos 1970, quando a vendeu.
Na década de 1980, uma construtora queria erguer ali um
condomínio, mas a população
do bairro protestou, criando a
Associação Pró-Parque Modernista. Anos depois, o terreno,
tombado após guerra judicial,
foi adquirido pelo Estado.
No Pacaembu
Outro símbolo da arquitetura moderna é assinado também
por Warchavchik. É a Casa Modernista do Pacaembu. Inaugurada em 1930, logo abrigou a
"Exposição de uma Casa Modernista", que, além da arquitetura inovadora, trazia obras dos
pintores Tarsila do Amaral e Di
Cavalcanti. Em seguida foi alugada e só recentemente foi
aberta à visitação, com a mostra "Casa Modernista 80 Anos",
em cartaz até dia 21. Depois, o
neto do arquiteto, Carlos
Eduardo Warchavchik, deve
morar lá.
(LUISA ALCANTARA E SILVA)
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