São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

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Revitalização de Luxor preocupa especialistas

HISTÓRIA De acordo com críticos, o patrimônio mais recente não é levado em conta e vem sendo destruído na obra

DA REUTERS

Nas ruas poeirentas, escavadeiras e empilhadeiras trabalham na cidade onde Agatha Christie encontrou inspiração e Howard Carter desenterrou Tutancâmon.
O Egito já retirou o velho bazar de Luxor e demoliu centenas de casas e dezenas de edifícios belle époque num esforço para transformar a cidade em um imenso museu a céu aberto.
Autoridades afirmam que o projeto vai preservar templos e atrair mais turistas, mas os trabalhos escandalizaram arqueologistas e arquitetos que afirmam que o patrimônio mais recente de Luxor foi destruído.
"Eles basicamente querem botar tudo abaixo", disse um estrangeiro que vive em Luxor durante parte do ano -ele exigiu anonimato para falar. "Eles querem isso tudo asfaltado, com lojas e centros de compras. Essa é a ideia de moderno e progressivo deles", completou.
Ele ressaltou a destruição da casa do século 19 do arqueologista francês Georges Legrain, demolida para dar espaço a uma praça do lado de fora do templo de Karnak, e planos de botar abaixo a vila de 150 anos do paxá Andraos.
Mais conhecida por seus templos e tumbas, os prédios da Era Vitoriana de Luxor e suas vielas poeirentas atraíram egiptologistas, estadistas e escritores por décadas.
Samir Farag, ex-general egípcio que agora lidera o plano bilionário para reinventar Luxor, despreza as críticas. Segundo ele, melhorias na cidade reduziram o trânsito e trouxeram educação e assistência médica de melhor qualidade. "Umas poucas pessoas, que talvez tiveram suas casas removidas ou algo assim, querem criticar", disse Farag. "Apenas limpamos as casas, as ruas. Você não encontra outra cidade limpa como Luxor agora no Egito."
De acordo com Farag, seu trabalho foi elogiado por Francesco Bandarin, chefe do Centro de Patrimônio Mundial na Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas. "Ele mora em Veneza. Eles têm lá uma grande área de favelas", afirmou Farag. "Quando ele veio e viu o que fiz com as casas, as áreas de favela, ele disse: "Devíamos ter alguém como você em Veneza também'", completou.
De acordo com o projeto, a cidade e as áreas do entorno terão, até 2030, campos de golfe, hotéis cinco estrelas e quilômetros de novas vias, enquanto uma grande quantidade de luzes vai iluminar as montanhas e os vales onde Tutancâmon foi enterrado.
O Conselho Supremo de Antiguidades do Egito está restaurando uma avenida de 2,7 km com esfinges que liga os templos de Luxor e Karnak.
De acordo com as autoridades, os prédios removidos não eram historicamente importantes e os proprietários receberam compensação monetária ou um apartamento.
No entanto, arqueologistas afirmam que o trabalho pode estar danificando antiguidades e avança por dezenas de prédios clássicos com a desatenção das organizações internacionais que financiam o projeto.
Enquanto muitos reclamam do projeto de modo privado, ninguém concorda em criticá-lo publicamente, por medo de represálias. "Muitos prédios de vários períodos foram derrubados, ou serão, e isso é totalmente negativo", disse um arquiteto com experiência em projetos de patrimônio do Egito.


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