São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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BRASIL/JAPÃO

Arrojado, país vive o embate da tradição

A 40 dias do centenário da imigração japonesa no Brasil, caderno fala de pioneirismo okinawano e sumô

Nancy Kennedy/Shutterstock
Castelo Shuri, sede administrativa do governo okinawano até 1879, quando a região se tornou Província do Japão

LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Hoje, no Brasil, estima-se que os nipo-descendentes somem 1,5 milhão de pessoas e, a 40 dias da data oficial em que se comemora o centenário da imigração japonesa no país, a presença pioneira -e culturalmente marcante- dos habitantes de Okinawa está contemplada em artigos e entrevistas que esta edição traz.
Metrópole vibrante, a ultracontemporânea Tóquio, com seus quase 13 milhões de habitantes, também é enfocada na edição, com destaque para o sumô, esporte nipônico tradicional que, lá, é quase tão popular quanto o futebol por aqui.
Se para o observador precipitado, o sumô pode aparentar apenas dois atletas corpulentos e seminus trocando tapas e empurrões, os iniciados no tema mostram que, além de modalidade esportiva, ele é o exemplo vivo do passado remoto do Japão a permear a história atual do país do sol nascente.
O sumô, tradicionalíssimo, é cultivado em pleno século 21, embora seus atletas vivam conforme costumes e legados ancestrais, seguindo o rígido código da meritocracia.

Passado é presente
A primeira menção ao sumô por escrito está imortalizada no "Kojiki", que é o mais antigo livro sobre a história japonesa.
Segundo esse relato, a posse das ilhas do arquipélago nipônico foi decidida numa luta de sumô entre dois deuses.
Como são raros os registros por escrito da história japonesa antes do século 8º, não se pode afirmar se o sumô teve origem no Japão ou se foi "importado" de outro lugar. O fato é que, nos primeiros registros, a prática já é narrada.
Da mesma forma, há relatos de que os primeiros mestres desenvolveram o jiu-jitsu (que mais tarde deu origem ao judô) a partir de alguns movimentos das técnicas de sumô.
Escrituras ancestrais, datadas de 720 d.C., contam o que é considerada a primeira luta de sumô entre homens. Segundo esse relato, em 23 a.C., o imperador Suinin testemunhou o combate, vencido por Nomi no Sukune, que entrou para a história como o "pai do sumô".
Posteriormente, com o advento do xogunato -sistema similar ao feudalismo ocidental, em que o mandatário (xogum) acumulava poderes de governante e líder militar-, no início do século 12, o sumô passou a ser praticado por guerreiros.
Naquele tempo, mesmo antes da introdução do juiz, as regras já eram bastante parecidas com as atuais: o vencedor é o lutador que empurra o rival para fora da área de luta ou o obriga a tocar o solo com alguma parte do corpo além das solas dos pés.
E foi graças a um grande senhor de terras e líder militar, Oda Nobunaga (1534-1582), que o sumô ganhou seu "ringue" redondo, chamado dohyo.
Até ele organizar um torneio envolvendo 1.500 atletas em 1578, os limites da área de luta eram estabelecidos por outros lutadores que circundavam os combatentes aguardando a hora de entrar em ação.
Com a popularidade do esporte entre os senhores feudais, a atividade começou a ser mais incentivada. Os principais lutadores recebiam títulos de samurai -e ostentavam no alto da cabeça o cabelo preso.

Moderno e tradicional
Mesmo com a modernização do Japão, a partir da era Meiji (1868), os rikishi (como são conhecidos os praticantes do sumô) mantiveram a tradição, que segue viva até hoje.
Outro costume que não foi modificado com o tempo é a roupa usada pelos rikishi em público. Quando não estão em competição com o mawashi (cinta-quimono-tapa-sexo), os lutadores saem pelas ruas com quimonos e outras roupas tradicionais -quase nunca com vestimentas ocidentais.
Os trajes para competir e andar em público e a forma de amarrar o cabelo são apenas dois dos inúmeros rituais que fazem do sumô um mergulho no passado do Japão.


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