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BRASIL/JAPÃO
Okinawanos são 10% dos nikkeis no Brasil
No navio Kasato Maru, o primeiro com nipônicos a aportar no Brasil, 42% vinham das ilhas de Okinawa
MAURÍCIO KANNO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dos 785 pioneiros imigrantes japoneses que vieram ao
Brasil no navio Kasato Maru,
há cem anos -em 18 de junho
de 1908-, 325 deles, ou 42%,
vieram da Província de Okinawa, no extremo sul do Japão.
Hoje, os originários dessa região e seus descendentes representam 10% da comunidade
nikkei (denominação dos japoneses e descendentes) no país,
o que totaliza cerca de 150 mil
pessoas, diz o professor Koichi
Mori, responsável pela disciplina "História, Sociedade e Cultura de Okinawa", ministrada
na pós-graduação da USP.
De acordo com Shinji Yonamine, vice-presidente da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, no país há 44 associações
okinawanas, o que é quase o
mesmo número de todas as outras associações de nikkeis.
As outras 46 Províncias do
Japão, de acordo com a Kenren
(Federação das Associações de
Províncias do Japão no Brasil),
costumam ter apenas uma associação no Brasil cada uma.
Com isso, é possível ter uma
noção da importância da representatividade no país dos okinawanos. Apesar disso, eles não
são nipônicos típicos.
As principais razões para a
imigração desproporcional da
Província insular foram a pobreza e a discriminação do povo da região, que começou a ser
incorporada ao Japão apenas
em 1869. Havia ainda a língua
diferente e a baixa qualificação.
É o que explica a antropóloga
Célia Sakurai, pesquisadora da
história da imigração japonesa.
Um Japão tropical
Para a pesquisadora, a impressão de quem visita o arquipélago de 169 ilhas de Okinawa,
até hoje, é de estar fora do Japão. Ela considera a região a
"Flórida do Japão", com praias
de águas mais quentes, e recomenda a viagem.
"Tem um clima tropical! Lá
você encontra cana-de-açúcar,
abacaxi, coco... Até mesmo tapioca já vi lá", conta, esclarecendo que a presença da tapioca deve ter origem na época das
grandes navegações, não do retorno dos okinawanos do Brasil
no século 20.
Ela compara com a diferença
entre São Paulo e Salvador. "As
pessoas são mesmo muito mais
soltas, afetivas, comunicativas". É por essa reputação que
Nilson Eijo Kamiya, 24 anos,
diz se orgulhar pela descendência okinawana.
"Também falam que sou japonês preto, que tenho olho
grande, que sou mestiço", descreve ele, que considera isso interessante, por estar no Brasil.
Até mesmo a língua original
de Okinawa é diferente. Havia
lá o dialeto uchinaguchi, apesar
de, atualmente, prevalecer na
Província o japonês.
A arquitetura também é diferente: nos templos e palácios, a
impressão é de algo mais chinês
do que japonês. E isso tem lógica, devido ao grande intercâmbio da região com a China tempos atrás.
"Na época do xogunato [governos militares centralizados], o Japão era fechado. Mas
Okinawa era um reino independente, com muitas misturas, um lugar muito mais cosmopolita", conta Sakurai. Ficava no meio de rotas comerciais.
Para Yonamine, os okinawanos são mais caseiros, sem tanto empreendorismo, vivendo
numa sociedade de cunho mais
voltado ao lado familiar.
Quanto à religião, o budismo
teve influência apenas na ilha
principal japonesa, bem pouco
em Okinawa, onde há a figura
do xamã, ou yutá, semelhante
ao xintoísmo e até ao candomblé. Havia a crença em espíritos, relacionada com o animismo: qualquer coisa teria um espírito.
A tradição ligada aos funerais, por exemplo, também é diferente do costume japonês de
cremar o corpo. Na Província
de Okinawa é realizado o enterro do corpo que, depois, é retirado para ter os ossos lavados.
Depois disso, os restos mortais
são então enterrados junto aos
despojos de outros familiares.
Outra curiosidade são alguns
sobrenomes comuns, pelos
quais os okinawanos são identificados pelos japoneses e especialmente por seus conterrâneos- entre esses, Shiroma,
Oshiro, Arakaki e Nakamura.
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