São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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BRASIL/JAPÃO

Okinawanos são 10% dos nikkeis no Brasil

No navio Kasato Maru, o primeiro com nipônicos a aportar no Brasil, 42% vinham das ilhas de Okinawa

MAURÍCIO KANNO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dos 785 pioneiros imigrantes japoneses que vieram ao Brasil no navio Kasato Maru, há cem anos -em 18 de junho de 1908-, 325 deles, ou 42%, vieram da Província de Okinawa, no extremo sul do Japão.
Hoje, os originários dessa região e seus descendentes representam 10% da comunidade nikkei (denominação dos japoneses e descendentes) no país, o que totaliza cerca de 150 mil pessoas, diz o professor Koichi Mori, responsável pela disciplina "História, Sociedade e Cultura de Okinawa", ministrada na pós-graduação da USP.
De acordo com Shinji Yonamine, vice-presidente da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, no país há 44 associações okinawanas, o que é quase o mesmo número de todas as outras associações de nikkeis.
As outras 46 Províncias do Japão, de acordo com a Kenren (Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil), costumam ter apenas uma associação no Brasil cada uma.
Com isso, é possível ter uma noção da importância da representatividade no país dos okinawanos. Apesar disso, eles não são nipônicos típicos.
As principais razões para a imigração desproporcional da Província insular foram a pobreza e a discriminação do povo da região, que começou a ser incorporada ao Japão apenas em 1869. Havia ainda a língua diferente e a baixa qualificação. É o que explica a antropóloga Célia Sakurai, pesquisadora da história da imigração japonesa.

Um Japão tropical
Para a pesquisadora, a impressão de quem visita o arquipélago de 169 ilhas de Okinawa, até hoje, é de estar fora do Japão. Ela considera a região a "Flórida do Japão", com praias de águas mais quentes, e recomenda a viagem.
"Tem um clima tropical! Lá você encontra cana-de-açúcar, abacaxi, coco... Até mesmo tapioca já vi lá", conta, esclarecendo que a presença da tapioca deve ter origem na época das grandes navegações, não do retorno dos okinawanos do Brasil no século 20.
Ela compara com a diferença entre São Paulo e Salvador. "As pessoas são mesmo muito mais soltas, afetivas, comunicativas". É por essa reputação que Nilson Eijo Kamiya, 24 anos, diz se orgulhar pela descendência okinawana.
"Também falam que sou japonês preto, que tenho olho grande, que sou mestiço", descreve ele, que considera isso interessante, por estar no Brasil.
Até mesmo a língua original de Okinawa é diferente. Havia lá o dialeto uchinaguchi, apesar de, atualmente, prevalecer na Província o japonês.
A arquitetura também é diferente: nos templos e palácios, a impressão é de algo mais chinês do que japonês. E isso tem lógica, devido ao grande intercâmbio da região com a China tempos atrás.
"Na época do xogunato [governos militares centralizados], o Japão era fechado. Mas Okinawa era um reino independente, com muitas misturas, um lugar muito mais cosmopolita", conta Sakurai. Ficava no meio de rotas comerciais.
Para Yonamine, os okinawanos são mais caseiros, sem tanto empreendorismo, vivendo numa sociedade de cunho mais voltado ao lado familiar.
Quanto à religião, o budismo teve influência apenas na ilha principal japonesa, bem pouco em Okinawa, onde há a figura do xamã, ou yutá, semelhante ao xintoísmo e até ao candomblé. Havia a crença em espíritos, relacionada com o animismo: qualquer coisa teria um espírito.
A tradição ligada aos funerais, por exemplo, também é diferente do costume japonês de cremar o corpo. Na Província de Okinawa é realizado o enterro do corpo que, depois, é retirado para ter os ossos lavados. Depois disso, os restos mortais são então enterrados junto aos despojos de outros familiares.
Outra curiosidade são alguns sobrenomes comuns, pelos quais os okinawanos são identificados pelos japoneses e especialmente por seus conterrâneos- entre esses, Shiroma, Oshiro, Arakaki e Nakamura.


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