São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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BRASIL/JAPÃO

Cultura da região foi preservada no Brasil

Dialeto da Província continuou a ser falado, e há quem venha de Okinawa para o país para aprendê-lo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma estratégia marcante dos okinawanos para buscar evitar a discriminação pelos japoneses foi a assimilação da cultura japonesa, tanto no Japão como no Brasil. Ou seja, aprender a língua japonesa e ocultar e restringir seus costumes próprios.
Em sua terra natal, na primeira metade do século 20, precisaram abandonar seus costumes. Mas, dentro da comunidade brasileira, conseguiram mantê-los melhor. Tanto que ocorreu um processo invertido quanto ao idioma.
Como o Brasil não passou pelo processo de supressão da língua de Okinawa, o uchinaguchi, como aconteceu na Província, há pessoas -como a cantora okinawana Megumi Ogushi, 28- que vêm ao Brasil para aprender a língua, que mal é falada hoje lá. Assim, o Brasil se tornou uma espécie de "celeiro" do dialeto de Okinawa.
Entre os líderes das comunidades okinawanas no Brasil, o discurso era de assimilação dos costumes japoneses. Na escola, falavam e aprendiam japonês. Entre a família, falavam seu dialeto e mantinham seus costumes. "Isso ocorreu porque eram minoritários, mas uma minoria de minorias", diz Koichi Mori, professor de antropologia da USP. Reduzida, essa dualidade "acontece até hoje".
Nilson Eijo Kamiya, 24, formado em educação física e morador do Tremembé, em São Paulo, outra região que concentra descendentes de okinawanos, diz que as associações de japoneses e descendentes no Brasil promovem campeonatos só de okinawanos, dos quais participou. Mas não acha que okinawanos sejam fechados: "Simplesmente a família não conhece muito o que tem fora".
Foi na década de 1970 que os okinawanos começaram a recuperar a sua identidade, afirmando-se como realmente diferentes dos japoneses, descendentes do reino de Ryu-Kyu, com influência chinesa de fato.
Assim, conseguiram até representação política. "Quase todos os políticos nikkeis são de Okinawa", diz Mori. Exemplos são o ex-deputado federal e ex-ministro Luiz Gushiken; e Ushitaro Kamiya, ex-deputado e vereador em São Paulo.
Mesmo com a busca por uma identidade própria, há ao menos dois exemplos de okinawanos que lideram a comunidade de japoneses e descendentes: Kokei Uehara, presidente da Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa e do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), e Akeo Uehara Yogui, presidente do Kenren (Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil). (MK)


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