São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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CORES DA CIDADE

Arranha-céus abrem ruas com largos corredores; no pós-11/9, monumentalidade ganhou ar catastrófico

Sombras de prédios são ora sagradas, ora cúmplices

ENVIADO ESPECIAL A FOLHA, EM NY

Com seus edifícios lançados ao assalto do céu, Nova York é uma cidade monumental. Já era completa no início do século, maravilhava, assombrava e entusiasmava seus visitantes.
Em certas áreas, os arranha-céus são tão próximos uns dos outros que fecham as ruas como muros, dando ao pedestre a sensação de estar no corredor de uma casa desmensurada.
O protagonista de "Viagem ao Fim da Noite" (1932), de Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), ao passar por Nova York levanta o nariz e prova uma "vertigem ao contrário", como se o céu fosse um abismo e fosse possível cair nele da calçada.
"Naquele ambiente diferente demais daquele em que cultivava meus mesquinhos hábitos -diz o narrador- tinha-me dissolvido no instante. Sentia-me pertíssimo a não-existência, simplesmente." Hoje essas reações são menos freqüentes, pois em quase todas as metrópoles a convivência com arranha-céus e volumes arquitetônicos desproporcionais se tornou corriqueira. Porém, após o 11 de Setembro, a monumentalidade nova-iorquina tem um sabor catastrófico, e isso a faz, de novo, diferente das outras.
Sombras e penumbras são parte da paisagem. Longas e profundas, dividem a calçada em segmentos e, num dia de sol, ao andar de uma área de luz a uma de sombra, experimenta-se também a passagem do calor para o frio. As penumbras são guardadas como pérolas em bares e restaurantes: servem para manter uma atmosfera meio sagrada, cúmplice e protetora. (VINCENZO SCARPELLINI)


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