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CORES DA CIDADE
Arranha-céus abrem ruas com largos corredores; no pós-11/9, monumentalidade ganhou ar catastrófico
Sombras de prédios são ora sagradas, ora cúmplices
ENVIADO ESPECIAL A FOLHA, EM NY
Com seus edifícios lançados
ao assalto do céu, Nova York é
uma cidade monumental. Já
era completa no início do século, maravilhava, assombrava e
entusiasmava seus visitantes.
Em certas áreas, os arranha-céus são tão próximos uns dos
outros que fecham as ruas como muros, dando ao pedestre a
sensação de estar no corredor
de uma casa desmensurada.
O protagonista de "Viagem
ao Fim da Noite" (1932), de
Louis-Ferdinand Céline (1894-1961), ao passar por Nova York
levanta o nariz e prova uma
"vertigem ao contrário", como
se o céu fosse um abismo e fosse possível cair nele da calçada.
"Naquele ambiente diferente
demais daquele em que cultivava meus mesquinhos hábitos
-diz o narrador- tinha-me
dissolvido no instante. Sentia-me pertíssimo a não-existência, simplesmente." Hoje essas
reações são menos freqüentes,
pois em quase todas as metrópoles a convivência com arranha-céus e volumes arquitetônicos desproporcionais se tornou corriqueira. Porém, após o
11 de Setembro, a monumentalidade nova-iorquina tem um
sabor catastrófico, e isso a faz,
de novo, diferente das outras.
Sombras e penumbras são
parte da paisagem. Longas e
profundas, dividem a calçada
em segmentos e, num dia de
sol, ao andar de uma área de luz
a uma de sombra, experimenta-se também a passagem do
calor para o frio. As penumbras
são guardadas como pérolas
em bares e restaurantes: servem para manter uma atmosfera meio sagrada, cúmplice e
protetora.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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