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CORES DA CIDADE
Obras produzidas no fim da vida de Goya são destaque dessa coleção reunida pelo milionário do aço
Frick retrata um homem, sua fortuna e sua época
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Henry Clay Frick cresceu em
West Orveton, no Estado da
Pensilvânia, na segunda metade do século 19. Diferentemente de Pierpont Morgan, cuja família acumulava dois séculos
de riqueza, ele tinha poucas
possibilidades de encontrar
obras de arte de alguma qualidade. Contudo, após ganhar os
primeiros milhões de dólares
com a indústria do aço, ainda
aos 30 anos e depois de uma ida
à Europa, a paixão pelo colecionismo se manifestou.
E, para ele, a palavra arte significava principalmente pintura. Em 1895, comprou 30 quadros. E, nos cinco anos seguintes, mais de 90. Em 1907, Isabella Stewart Gardner, desejando
obras que não poderia mais
comprar, escreveu a Bernard
Berenson, seu consultor: "Pobre de mim! Por que não sou
Morgan ou Frick?".
Nos últimos anos de sua vida,
Frick mandou construir uma
mansão, em estilo proto-renascentista, já com a intenção de
abrir sua coleção ao público.
Quando as portas foram abertas, em 1935 (com Frick já falecido), Lewis Mumford escreveu para a revista "New Yorker": "Os quadros estão perdidos no cenário. Isso pode satisfazer o gosto dos principais renascentistas ou até dos milionários americanos da primeira
metade do século, mas não alcança mais o moderno padrão
de apresentação". Essa crítica,
embora lúcida, parece hoje um
tanto drástica, pois o que podia
ser um pecado naqueles anos
tornou-se, com o passar do
tempo, uma virtude: a Frick
Collection, tanto a mansão como as obras são o retrato de um
homem e de sua época.
É possível admirar Bellini,
Ticiano, Vermeer, Fragonard,
Ingres, Constable, Turner... Escolhas meio obrigatórias, talvez, para um milionário norte-americano. Sem grandes surpresas. Mas a surpresa é uma
obsessão de nossos dias e Mister Frick, não diferente de Mister Morgan, buscava solidez.
Goya
Na Frick Collection há um
admirável retrato de dama, que
antecipa muitos retratos de
Manet, pintado por Goya já velho. A partir dessa peça, foi organizada, entre fevereiro e
maio deste ano, uma mostra sobre o último período do pintor.
Com 78 anos, depois de ter
superado duas graves doenças,
Goya mudou-se da Espanha
para a França, onde morreu
quatro anos mais tarde. Um dos
últimos desenhos mostra um
velho num balanço, voando
bem alto. Outro, um velho com
barba longa, muletas e uma escrita: "Ainda aprendo".
Obra após obra, fica claro que
o artista quis, e conseguiu, colocar suas doenças e sua velhice a
serviço da arte, sem autopiedade, porém com assombrosa
energia e obscura ironia. Pintou-se como um Cristo morto
nos braços de seu médico. Retratou-se após curado com cabelos longos e olhar severo. O
desenho foi comparado ao retrato de Beethoven. Recentemente foi sugerido que ele se
representou como um leão.
(VINCENZO SCARPELLINI)
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