São Paulo, quinta-feira, 08 de novembro de 2007

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FRESTA PARA TURISTA

Pretensioso, projeto quer fazer do país eco-modelo

Acredita-se, porém, que idéia serve a intenções políticas, e comunidades nem teriam sido consultadas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA LÍBIA

No dia 10 de setembro de 2007 foi anunciado, em meio às ruínas de Cyrene, o "maior projeto regional de desenvolvimento sustentável do planeta". Chamado de Declaração de Cyrene, o plano pretende conservar e desenvolver uma região de 5.500 km2 entre a costa mediterrânea e as Montanhas Verdes (Jebel al-Akhdar).
Quem assinou a declaração foi Saif al-Islam Gaddafi, filho e provável herdeiro político de Muammar Gaddafi.
O projeto é pretensioso. Saif estabeleceu a Autoridade de Conservação e Desenvolvimento Montanhas Verdes (GMCDA, na sigla em inglês) para supervisionar a criação, o desenvolvimento e a manutenção de um parque nacional, sítios de conservação arqueológica, áreas de uso misto para o comércio e turismo cultural e ecológico, infra-estrutura sustentável, geração de energia renovável, planejamento urbano ecologicamente responsável, educação, microfinanciamentos e biocombustíveis.
Seu objetivo principal é desenvolver o potencial turístico da região de forma sustentável, preservando o ambiente natural e os sítios arqueológicos. Por enquanto, porém, a julgar pelo folheto do evento e pelas maquetes apresentadas, o projeto se resume a três luxuosos hotéis, ao menos integrados aos princípios ecológicos.
Um deles ficará próximo às ruínas, sobre as fundações de um antigo hotel construído pelos ocupantes italianos nos anos 1930. Outro será construído de forma a camuflar-se na beira de um cânion. Todos devem aproveitar a ventilação natural e a energia solar, minimizando o impacto na paisagem.
No litoral, a idéia é preservar o ambiente praticamente intocado, proibindo qualquer construção na costa. Pretende-se criar zonas controladas de floresta e agricultura nas encostas das montanhas. Novas vilas seriam baseadas nos moldes de uma medina árabe tradicional, minimizando o uso de veículos.
O governo líbio prometeu investir no projeto cerca de US$ 3 bilhões, enquanto uma companhia privada do ramo petrolífero financiará a construção dos resorts. Também estão envolvidos especialistas em tecnologia verde, conservação, agricultura e arqueologia.
Porém ficam dúvidas. Se o projeto for todo posto em prática, a Líbia pode se tornar um modelo de ecoturismo. Mas muitos acreditam que tudo serve mais para divulgar a imagem reformista de Saif do que para beneficiar o ambiente e as comunidades locais, que, dizem, sequer foram consultadas. (PEDRO CARRILHO)


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