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DANUZA LEÃO
O Rio sempre foi lindo, mas mudou
COLUNISTA DA FOLHA
Até o início dos anos 50 a cidade era dividida entre as zonas
sul e norte, ligadas só por dois
túneis estreitos, que davam
mão para um carro que ia e outro que vinha. E é preciso lembrar que os automóveis eram
pouquíssimos, naquela época.
A classe média alta e os ricos
moravam na zona sul, e dizer
que morava na zona norte já dizia tudo. Havia um grande preconceito entre os dois lados da
cidade, que aliás ainda existe.
Afinal, era na zona sul que estavam todas as praias, os cinemas, as meninas mais bonitas.
E pegar um bonde para vir passear em Copacabana não passava pela cabeça de quem morava
do outro lado da cidade (ônibus
quase não havia).
Era bom morar na zona sul;
além dos cinemas Metro e Rian
- os únicos refrigerados -, depois do jantar as famílias saíam
para dar um "giro" na calçada
da praia, de braços dados, e
atrás iam as filhas, de olho nos
rapazes que ficavam de pé, em
grupo, também de olho nelas.
Nesse tempo quem tinha carro deixava ele aberto, alguns até
com a chave, e não havia perigo
de nada acontecer. Quando as
meninas saíam à noite tinham
que chegar às 22h, nem um minuto a mais. E não podiam sair
sozinhas, claro.
Mas o mundo se modernizou; os carros se multiplicaram
nas ruas, os ônibus também, foi
aberta a linha vermelha, depois
a linha amarela, os túneis se
alargaram e foi aberto o Rebouças. Com isso a população itinerante da zona sul cresceu loucamente, e nos dias de hoje
quem mora em Copacabana ou
Ipanema não ousa dar um mergulho aos sábados e domingos
por não ter lugar para passar, e
por medo dos arrastões. A baixada da zona norte nas praias
democratizou a cidade.
A tal ponto que sair para
comprar um botão hoje dá medo, pois pode-se levar uma bala
perdida na Visconde de Pirajá
ou encontrar um "presunto" na
porta de sua casa.
E quando as linhas do metrô
chegarem a Ipanema e ao Leblon, o Rio vai ficar mais democrático ainda. E aí vai ser preciso mudar para o mato, pois não
vai ter espaço para tanta gente.
"Foi aberta a linha vermelha, depois
a linha amarela, os túneis se alargaram e foi
aberto o Rebouças. A
população itinerante
da zona sul cresceu, e
quem mora em Copacabana ou Ipanema
não ousa dar um mergulho aos sábados e domingos por não ter lugar para passar, e por
medo dos arrastões. A
baixada da zona norte
nas praias, democratizou a cidade".
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