São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003 |
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BIORRITMO RIBEIRINHO Segundo Joãosinho Trinta, os artistas de Parintins têm técnica acurada para movimentar alegorias RJ importa talentos, diz carnavalesco DA REPORTAGEM LOCAL
"Eles fizeram tão bem, que até o
Carnaval do Rio utiliza sua mão-de-obra", conta o carnavalesco
Joãosinho Trinta, 69, ao se referir
ao talento de artistas de Parintins.
Hoje, há uma troca de conhecimento entre os carnavalescos do
Rio e os artistas do Norte. ANTES - Há mais de dez anos,
duas pessoas que trabalhavam no
festival em Parintins me procuraram na escola de samba Beija-Flor, onde eu estava trabalhando,
e fizeram um estágio comigo, durante uns quatro meses. Depois
eles voltaram para Parintins. Eles
[Juarez Lima e Karu Carvalho]
vieram para conhecer a escola de
samba. DEPOIS - Cinco anos depois,
quando fui a Parintins, fiquei maravilhado com o que vi. Realmente é um espetáculo formidável,
um espetáculo grandioso, de muita imaginação, de muita criatividade. Completamente diferente.
Não é Carnaval, porque não acontece numa avenida, como o Carnaval do Rio, mas numa arena, o
bumbódromo, como eles dizem
lá. Não tem nada que ver com
Carnaval. É um espetáculo folclórico sobre o Amazonas. BIS - Devo ter ido três vezes seguidas, mas aí não pude mais ir,
porque tive isquemia, mas voltei
no ano passado. [O espetáculo]
Cresceu muito. Até fiz uma crítica, porque as alegorias tomaram
dimensões enormes e isso abafou
um pouco a presença das danças,
dos conjuntos que se apresentam,
e eu achei que desequilibrou um
pouquinho. As alegorias tomaram proporções gigantescas, uma
coisa inimaginável até. Difícil de
fazer. O povo mesmo ficou um
pouco diminuído, e as danças, o
conjunto, em segundo plano.
Procurei chamar a atenção para
esse desequilíbrio. Vamos ver se a
minha observação é válida. TÉCNICA - Eles adquiriram uma
técnica muito grande. Com a diferença que o Carnaval no Rio se
processa numa avenida, que é a
Marquês de Sapucaí. As alegorias
do Rio têm que se movimentar,
têm que caminhar, enquanto que,
em Parintins, as alegorias são fixas, acontecem no teatro de arena. São montadas em módulos. E
isso permitiu ao pessoal de Parintins desenvolver muitos movimentos. Eles adquiriram uma técnica tão grande, que as pessoas do
Rio começaram a importar as
pessoas de Parintins. Eu mesmo
trouxe, neste ano, vários artistas
de lá. Lá em Parintins, como a
apresentação é num teatro de arena, num local fixo, isso permitiu
que eles explorassem mais esse
movimento. No Rio, a situação é
outra. É um desfile, um cortejo. PREFERIDO - Meu coração bateu
pelos dois. Sou Garranchoso, uma
mistura de Garantido com Caprichoso. PADRINHO - Sou garoto-propaganda de Parintins. Levei a diretoria da Coca-Cola, que começou a
patrocinar a festa. Eu sou realmente o padrinho. Gosto muito
do festival, sou o maior admirador e um padrinho muito honrado. O festival de Parintins é um
dos maiores espetáculos da terra.
É longe das grandes capitais, numa pequena ilha. O trabalho é feito por eles. Não gosto de falar que
ajudei, porque eles sozinhos criaram tudo aquilo. Colaborei um
pouquinho. O talento dos artistas
é muito maior do que a ajuda que
eu dei. Eles fizeram tão bem, que
até o Carnaval do Rio utiliza sua
mão-de-obra. |
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