São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2011

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Memória da imigração é preservada em igrejas

Em Dorizon, marceneiros da região ensinaram técnicas a restauradores

Igreja da Imaculada Conceição, na cidade de Antônio Olinto, possui cinco cúpulas em estilo bizantino ucraniano

FERNANDO HONESKO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para o viajante que avista a paisagem de longe, o cenário é o mesmo visto pelos camponeses ucranianos há cem anos: cinco cúpulas orientais, que surgem em meio à mata de pinheiros.
A curiosidade é que essa paisagem é brasileira: os pinheiros são araucárias, e os ucranianos estão longe de casa, são imigrantes. É esse o cenário natural e cultural que se preservou no sul do estado do Paraná.
A 137 quilômetros da capital paranaense, no município de Antônio Olinto, a igreja da Imaculada Conceição conserva as cinco cúpulas octogonais em estilo bizantino desde 1911, quando os imigrantes terminaram a construção do projeto enviado de Zhovkva, na Ucrânia.
Toda construída em madeira, a igreja se mantém como centro da vida social e cultural das 96 famílias de descendentes ucranianos que ainda a frequentam.
As visitas ao local são sempre guiadas por uma das irmãs da ordem das Servas de Maria Imaculada, que moram ao lado do templo. Não estranhe uma certa timidez no primeiro contato, pois os turistas são poucos por ali.
Uma vez que a visita começa, as freiras são gentis e explicam com muita dedicação a história do edifício e os significados das pinturas originais, que revestem todo o seu interior. O ambiente ainda conserva a atmosfera das primeiras comunidades ucranianas do país.

VISTA PARA O VALE
O mesmo acontece a 96 quilômetros dali, na cidade de Mallet, cujo distrito chamado Dorizon abriga a igreja de São Miguel Arcanjo.
Lá, 190 famílias ainda frequentam a igreja, segundo o padre Basílio Burko, responsável pela paróquia. Concluída em 1903, sua estrutura é feita de troncos de araucária apenas encaixados, sem a utilização de pregos, uma técnica introduzida no Paraná pelos imigrantes eslavos.
Atualmente, o prédio está em processo de restauração e, por isso, fechado à visitação -a inauguração está prevista para outubro de 2011.
Mesmo assim, a visita externa da igreja é fascinante por seus detalhes construtivos e também por sua localização, no alto da serra do Tigre, de onde se avista o vale do rio Iguaçu, um dos principais redutos da mata de araucárias do Brasil.
De acordo com a arquiteta Jussara Valentini, do instituto ArquiBrasil, responsável pela obra, uma curiosidade do processo de restauro é que ele inclui a participação da comunidade local, que orientou os arquitetos em muitos processos tradicionais de construção.
Foram os marceneiros da região, por exemplo, que ensinaram aos restauradores a técnica de fabricação do telhado de tabuinhas (telhas típicas feitas de madeira de araucária). Isso tudo, com a utilização dos mesmos tipos de ferramenta manuseados há mais de um século. Na década de 1940, as tabuinhas foram substituídas por telhas de barro, mas agora voltaram a fazer parte da igreja.
Se tiver oportunidade, converse com um dos agricultores que moram no entorno da igreja. Eles conhecem muito da história e demonstram orgulho pela participação de seus avós e bisavós na construção.

MAIS IGREJA
Partindo da serra do Tigre em direção ao município de General Carneiro (percorre-se cerca de 90 quilômetros), o visitante avistará no alto de uma colina a igreja do Divino Espírito Santo. Menos imponente que as anteriores, a pequena igreja é especial pelo conjunto do qual faz parte. Atrás dela, está o cemitério ucraniano, mais conhecido como "Marco V".
Um dos primeiros a serem construídos por esses imigrantes, nele estão antigos túmulos com cruzes ortodoxas e alfabeto cirílico. De lá, a vista para a mata nativa de araucárias completa o cenário paranaense.
Diferente das construções de Antônio Olinto e de Mallet, a igreja do Divino Espírito Santo ainda não é tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Paraná, mas existe a intenção de estender a área dos tombamentos para outras igrejas.
"As igrejas foram construídas em uma imensa dificuldade, são estruturas frágeis. O tombamento é um reconhecimento ao valor do bem que foi mantido nesses últimos cem anos. O restauro das igrejas é para a comunidade e para a cultura do país", afirma Rosani Parchen, coordenadora do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Paraná.


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