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ENTREVISTA
ARY PEREZ
"Borba Gato" é obra feia, mas tem a ver com SP
Artista plástico que tem esculturas públicas na capital paulista e em Chicago fala do papel da arte na rua
RAFAEL MOSNA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O engenheiro e artista
plástico brasileiro Ary Perez,
56, tem, em parceria com a
mulher, Denise Milan, esculturas públicas em São Paulo
e Chicago -esta última, considerada por ele cidade-referência em arte pública.
Pela capital paulista,
quem anda pelo jardim das
esculturas do MAM (Museu
de Arte Moderna), passeia no
parque do Carmo ou dá uma
paradinha na estação Clínicas do Metrô se depara com
instalações permanentes do
casal.
Em entrevista à Folha, Perez fala sobre como a arte deve conversar com a cidade, e
elege as esculturas mais feias
e mais bonitas de São Paulo.
Folha - O que é arte pública?
Ary Perez - Antigamente,
arte pública era aquela coisa
estática, autoritária. Encomendava-se, por exemplo, o
busto de Getúlio Vargas ou
de Duque de Caxias ao Ramos de Azevedo. Era um trabalho muito interessante no
ponto de vista neoclássico,
mas hoje esse conceito evoluiu. Agora há um diálogo
com o entorno, onde não se
procura, de uma forma personalista, colocar a marca do
artista, mas, sim, criar um
diálogo no contexto urbano.
A ideia é proporcionar um espaço de reflexão subjetiva.
E qual é o objetivo dessa arte?
A arte pública não deve ser
feita para deixar o lugar mais
bonitinho. Isso de arte decorativa eu acho complicado.
Porque aí fica aquela questão
de gosto. Precisa ser um trabalho, uma intervenção artística. E isso é bem difícil.
Qual obra em São Paulo o senhor acha que dialoga melhor com a cidade?
A obra de Brecheret, que é
uma maravilha, no parque
Ibirapuera, tem identidade
com a história da cidade. Ali
ocorre um diálogo completo.
O Obelisco, do [Galileo]
Emendabili é outra referência. Dá pra citar obras feias
também. Feias, mas que fazem parte da cidade.
Quais são feias?
O "Borba Gato" [de Júlio
Guerra] é uma delas. Uma
que é medonha é o monumento fascista [referindo-se
ao monumento "Heróis da
Travessia do Atlântico", de
1929, que retrata uma estética fascista e incorpora uma
coluna romana doada pelo
ditador italiano Benito Mussolini], na represa de Guarapiranga. Aquela do Ayrton
Senna, em cima do túnel Ayrton Senna, mostra a arte utilizada de forma populista e autoritária. Essa não agrega nada à cidade. Pelo contrário,
cria uma referência de péssima qualidade na educação.
E as mais bonitas?
As do Brecheret. Gosto
muito dos trabalhos de Tomie Ohtake, tanto a da av. 23
de Maio quanto aquela na
entrada do aeroporto de Guarulhos. Gosto das obras que
ficam no parque de esculturas do MAM, como as de Nuno Ramos e José Resende.
Tem uma do Carlito Carvalhosa e uma do Vergara no
Jardim da Luz. Valem a pena.
Qual cidade é referência em
arte na rua?
Chicago. A cidade trata a
questão como prioridade entre as políticas públicas, com
participação da população.
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