São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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ANÁLISE ARTE PÚBLICA NA PAULICEIA

SP tem, pelas ruas, obras dignas do Louvre

Para autor dos painéis da estação Sumaré do metrô de São Paulo, a população precisa dar valor ao que é seu

ALEX FLEMMING
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para mim, como artista plástico, São Paulo tem muitos monumentos, mas precisa cuidar melhor deles. Os três mais importantes são de Victor Brecheret (1894 -1955).
São eles: o "Monumento às Bandeiras" (um dos maiores e mais belos conjuntos escultóricos do século 20 no mundo), a estátua de Caxias (a maior estátua equestre do mundo, tendo inclusive uma pequena sala na barriga do cavalo) e o escondido e extremamente belo "Pan", que fica no parque Trianon.
Brecheret faz exatamente o que eu considero que grandes artistas devem fazer: obras bem diferentes entre si e até em materiais diferentes (o "Empurra-Empurra" e o "Pan" são em pedra lavrada; o Caxias é em metal fundido).
Outro grande artista (embora não tão reconhecido, e até menosprezado pelos "intelligentsia nacional" -aos quais eu chamaria melhor de "burritcia tupiniquim") foi Júlio Guerra (1912 - 2001), autor de duas das estátuas mais emblemáticas da Pauliceia: o "Borba Gato", na avenida Santo Amaro, e a "Mãe Preta", no largo Paissandu.
Aliás, sobre esta última há o fenômeno de devoção e interação veramente popular, ao verificarmos que no Dia das Mães pessoas depositam montanhas de flores e acendem velas ao seu redor.
Porém, há muita arte pública destruída, e que necessitaria de restauração: é o caso das estátuas em homenagem às óperas de Carlos Gomes, no vale do Anhangabaú, bem como a linda estátua em granito de uma índia chamada Guanabara, cujo nariz foi partido a marteladas, por vândalos, também no Anhangabaú.
A população precisa de mais informações sobre arte, história e seu próprio país, para dar valor ao que, afinal, é seu. O poder público deveria intervir nisso.
A maior concentração de obras de arte públicas está nos cemitérios, onde antigamente grandes artistas faziam túmulos para as famílias abastadas (infelizmente, uma prática que se perdeu).
O mais importante é o cemitério São Paulo, na rua Cardeal Arcoverde, onde a instalação "O Pão", de Galileo Emendabile, poderia estar no MoMA em Nova York.
Para elogiar uma cidade brasileira com arte pública que não seja São Paulo, vou citar Ribeirão Preto, onde, na praça em frente ao Pinguim e ao Teatro Dom Pedro 2º, há o deslumbrante "Monumento ao Soldado Constitucionalista", também de Galileo Emendabile. Nele, um soldado paulista com as duas pernas abertas e um dos braços estendidos se prepara para lançar uma granada de mão. MoMA? Este monumento poderia estar até no Louvre!


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