São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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UMA VIAGEM "PARTICULAR"

Visita breve a Cork motivou protesto na imprensa local

Jornal do sul do país ironizou passagem de "duas horas e um quarto" da comitiva imperial pela cidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje se sabe: a visita de d. Pedro 2º e comitiva a Cork, no sul da Irlanda, foi motivo de protesto de um jornal local, registrado nos arquivos do "Irish Times". O artigo reclamava da brevidade da passagem do imperador por aquela que, então, era a "terceira cidade" da ilha.
A comitiva imperial passou pouco mais de duas horas em Cork, visitando o Queen's College, o asilo, o mercado de manteiga e prédios religiosos antes da parada para o almoço, no hotel Imperial. Dali, o imperador voltou a Dublin.
Hoje a segunda maior cidade da República da Irlanda, Cork mantém uma certa rivalidade com a capital, onde o imperador passou cerca de dois dias. É nessa rivalidade que o jornal do sul se baseia para reclamar de que d. Pedro 2º dedicou "apenas duas horas e um quarto" a Cork, tendo passado "dois dias e um quarto" em Dublin.
A reportagem ironiza a energia do imperador, dizendo que, em visita ao hoje extinto mercado da manteiga, que foi o maior do gênero no mundo, d. Pedro 2º "em cinco minutos tornou-se mestre em um sistema de negociação que as inteligências combinadas do Clube dos Fazendeiros e da Associação dos Agricultores não puderam entender após vários anos de cogitação".
Outra alfinetada do jornal diz que d. Pedro 2º prosseguiu em "procissão solene" em torno da estátua de padre Mathew, o "apóstolo da Temperança" - que liderava um movimento pela abstinência total- em um tipo de pedido de desculpas aos abstêmios por ter "se comprometido na iniqüidade do comércio de bebidas em Dublin". A provocação se deve ao interesse de d. Pedro 2º por uma destilaria e pela cervejaria Guinness na capital irlandesa, para onde foi logo que desembarcou.
O mercado de manteiga de Cork não existe mais, mas o famoso passado da cidade nessa atividade comercial é preservado no Museu da Manteiga de Cork (www.corkbutter.museum; ingresso: 3,50, R$ 10,31), que aborda desde a origem da indústria de laticínios na Irlanda até a indústria moderna do setor, passando, pelo auge das exportações do produto no século 19.
Nessa seção é possível ver os "firkins" (pronuncia-se "furquins") -barris de madeira dentro dos quais a manteiga era armazenada, em geral com muito sal, para as longas viagens até outros países. O prédio onde funcionava o mercado foi restaurado e hoje abriga um centro de convenções e eventos, o Firkin Crane (www.firkincrane.ie)
O Queen's College -que d. Pedro 2º visitou por apenas 20 minutos, incluindo o encontro com os professores e um tour pelo prédio, de acordo com o jornal do sul-, hoje University College Cork (www.ucc.ie), é aberto ao público e impressiona pela arquitetura - os prédios principais do conjunto têm estilo gótico tudor.
O Imperial Hotel (www.flynn hotels.com/Imperial-Hotel), onde a comitiva real almoçou antes de partir para Dublin, continua aberto. É hoje um quatro-estrelas com 130 quartos e um spa. O hotel, que funciona desde 1813, tem ainda em sua lista de hóspedes famosos o escritor Charles Dickens e o compositor Franz Liszt.
O antigo manicômio -o prédio mais longo da Irlanda, de 1852, localizado ao lado do rio Lee - hoje é um complexo de moradias, chamado de Atkins Hall, em homenagem a seu criador, William Atkins, e tem fama de mal-assombrado.
Duas horas e um quarto realmente não bastam para conhecer Cork. Fundada como um mosteiro no século 7º por são Finbarr, essa cidade vibrante oferece uma série de atrações, de prédios históricos e catedrais a um respeitado festival de jazz, o Guinness Jazz Festival (www.corkjazzfestival.com), cuja próxima edição ocorre entre os dias 24 e 27 deste mês.
Não deixe de visitar as igrejas, especialmente a catedral de St. Finbarr, do séc. 19, em estilo neogótico, e a igreja Shandon, construída em 1722 - a torre, erguida só em 1750, e os sinos são símbolos da cidade.
(MARINA DELLA VALLE)


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