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UMA VIAGEM "PARTICULAR"
Visita breve a Cork motivou protesto na imprensa local
Jornal do sul do país ironizou passagem de "duas horas e um quarto" da comitiva imperial pela cidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje se sabe: a visita de d. Pedro 2º e comitiva a Cork, no sul
da Irlanda, foi motivo de protesto de um jornal local, registrado nos arquivos do "Irish Times". O artigo reclamava da
brevidade da passagem do imperador por aquela que, então,
era a "terceira cidade" da ilha.
A comitiva imperial passou
pouco mais de duas horas em
Cork, visitando o Queen's College, o asilo, o mercado de
manteiga e prédios religiosos
antes da parada para o almoço,
no hotel Imperial. Dali, o imperador voltou a Dublin.
Hoje a segunda maior cidade
da República da Irlanda, Cork
mantém uma certa rivalidade
com a capital, onde o imperador passou cerca de dois dias. É
nessa rivalidade que o jornal do
sul se baseia para reclamar de
que d. Pedro 2º dedicou "apenas duas horas e um quarto" a
Cork, tendo passado "dois dias
e um quarto" em Dublin.
A reportagem ironiza a energia do imperador, dizendo que,
em visita ao hoje extinto mercado da manteiga, que foi o
maior do gênero no mundo, d.
Pedro 2º "em cinco minutos
tornou-se mestre em um sistema de negociação que as inteligências combinadas do Clube
dos Fazendeiros e da Associação dos Agricultores não puderam entender após vários anos
de cogitação".
Outra alfinetada do jornal diz
que d. Pedro 2º prosseguiu em
"procissão solene" em torno da
estátua de padre Mathew, o
"apóstolo da Temperança" -
que liderava um movimento
pela abstinência total- em um
tipo de pedido de desculpas aos
abstêmios por ter "se comprometido na iniqüidade do comércio de bebidas em Dublin".
A provocação se deve ao interesse de d. Pedro 2º por uma
destilaria e pela cervejaria
Guinness na capital irlandesa,
para onde foi logo que desembarcou.
O mercado de manteiga de
Cork não existe mais, mas o famoso passado da cidade nessa
atividade comercial é preservado no Museu da Manteiga de
Cork (www.corkbutter.museum; ingresso: 3,50, R$
10,31), que aborda desde a origem da indústria de laticínios
na Irlanda até a indústria moderna do setor, passando, pelo
auge das exportações do produto no século 19.
Nessa seção é possível ver os
"firkins" (pronuncia-se "furquins") -barris de madeira
dentro dos quais a manteiga
era armazenada, em geral com
muito sal, para as longas viagens até outros países. O prédio
onde funcionava o mercado foi
restaurado e hoje abriga um
centro de convenções e eventos, o Firkin Crane (www.firkincrane.ie)
O Queen's College -que d.
Pedro 2º visitou por apenas 20
minutos, incluindo o encontro
com os professores e um tour
pelo prédio, de acordo com o
jornal do sul-, hoje University
College Cork (www.ucc.ie), é
aberto ao público e impressiona pela arquitetura - os prédios principais do conjunto
têm estilo gótico tudor.
O Imperial Hotel (www.flynn hotels.com/Imperial-Hotel), onde a comitiva real almoçou antes de partir para Dublin, continua aberto. É hoje
um quatro-estrelas com 130
quartos e um spa. O hotel, que
funciona desde 1813, tem ainda
em sua lista de hóspedes famosos o escritor Charles Dickens e
o compositor Franz Liszt.
O antigo manicômio -o prédio mais longo da Irlanda, de
1852, localizado ao lado do rio
Lee - hoje é um complexo de
moradias, chamado de Atkins
Hall, em homenagem a seu
criador, William Atkins, e tem
fama de mal-assombrado.
Duas horas e um quarto realmente não bastam para conhecer Cork. Fundada como um
mosteiro no século 7º por são
Finbarr, essa cidade vibrante
oferece uma série de atrações,
de prédios históricos e catedrais a um respeitado festival
de jazz, o Guinness Jazz Festival (www.corkjazzfestival.com), cuja próxima edição
ocorre entre os dias 24 e 27
deste mês.
Não deixe de visitar as igrejas, especialmente a catedral de
St. Finbarr, do séc. 19, em estilo
neogótico, e a igreja Shandon,
construída em 1722 - a torre,
erguida só em 1750, e os sinos
são símbolos da cidade.
(MARINA DELLA VALLE)
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