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ITÁLIA "PARTICOLARE"
Ligúria se aninha nas colinas e se volta ao mar
Em mais de 300 km de costas, região de tradição marítima é coberta de aldeias com ruelas e casas de pedras
LANE FERNANDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
NA LIGÚRIA (ITÁLIA)
Entre o mar e a montanha, a
Ligúria é freqüentada por lígures, bem como por italianos de
toda o país e por estrangeiros. A
região foi, ao longo de sua história atribulada, tema dos escritos de Dante Alighieri e de
Ariosto, e mencionada ainda
por Andersen e Nietzsche.
Os lígures, povo citado pela
primeira vez com o nome de
"ligyes" no século 7º a.C. pelos
gregos, se estabeleceram nessa
paisagem dominada por colinas hoje cobertas de aldeias,
onde há um pequeno porto em
cada lugar. Esses povoados estão aninhados nas encostas ou
distribuídos à beira-mar.
Para os romanos, que a duras
penas a conquistaram, a região
era zona de passagem, tanto
que as cidades romanas foram
levantadas nas suas poucas
áreas planas: Albenga, que
guarda o traçado ortogonal das
ruas, Luni e Gênova, a capital
-e o grande porto da região.
Após a queda do Império Romano, a região foi tomada pelos bizantinos e, sucessivamente, por longobardos e francos.
Em mais de 300 km de costas, há praias de areia e pedras,
rochedos e falésias, cidades
pintadas em tons pastel -e
pessoas orgulhosas da tradição
marítima. A Ligúria se volta para o mar Mediterrâneo (ou, como dizem os italianos, se abre
"verso al mare"). Do Ponente, a
oeste -até a fronteira com a
França, - ao Levante, a leste e
descendo ao mar, a paisagem
urbana é bastante variada.
O clima temperado favorece
a agricultura. Uns 30% do território constitui-se de faixas de
colinas, onde a economia se baseia no cultivo de videiras e oliveiras, bem como de flores e
plantas ornamentais.
As cidades nas montanhas
são singelas, têm traçado irregular, ruelas em degraus e casas de pedra. Hoje estão cada
vez menos povoadas, quando
não abandonadas por seus habitantes, que encontraram na
costa oportunidades de trabalho. O patrimônio artístico
concentra-se nas cidades
maiores. Nos centros menores,
houve difusão das edificações
religiosas românicas, com influências lombardas e pisanas,
ou até mesmo barrocas. Praças
ornamentadas com pedras como em Cervo, Deiva, Moneglia... ou os pórticos, em Noli.
Pátria de um turismo que
dura ininterrupto desde 1800,
freqüentada pela elite européia, a Ligúria só agora passou
a receber o turismo de massa,
como Albenga, um exemplo típico de cidade medieval construída em cima do antigo traçado romano, além de San Remo
e Ventimiglia, vizinhas à França. Há turismo chique na famosa Costa Azzura, especialmente em Portofino, Portovenere,
Santa Margherita e Rapallo.
Uma visita não deve esquecer a colorida Camogli, antigo
centro marítimo e berço de
destemidos capitães; ou das famosas Cinque Terre e outros
tantos povoados sobre o mar e
acessíveis somente por via férrea cavada na rocha; ou a romântica San Fruttuoso, que
guarda as tumbas da família
Doria, que dominou a região, e
a 20 m de profundidade, a estátua do Cristo dos Abismos, em
memória aos náufragos; ou,
ainda, de Bussana Vecchia, vilarejo destruído por um terremoto no fim de 1800 que se tornou centro de artistas.
A Ligúria é viva e bastante
cosmopolita. O importante é
não ter pressa: caminhar, respirar e se inspirar, para descobrir, quem sabe, em si mesmo,
uma alma sensível e poética.
Colaborou a Redação
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