São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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ITÁLIA "PARTICOLARE"

Ligúria se aninha nas colinas e se volta ao mar

Em mais de 300 km de costas, região de tradição marítima é coberta de aldeias com ruelas e casas de pedras

LANE FERNANDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA LIGÚRIA (ITÁLIA)

Entre o mar e a montanha, a Ligúria é freqüentada por lígures, bem como por italianos de toda o país e por estrangeiros. A região foi, ao longo de sua história atribulada, tema dos escritos de Dante Alighieri e de Ariosto, e mencionada ainda por Andersen e Nietzsche.
Os lígures, povo citado pela primeira vez com o nome de "ligyes" no século 7º a.C. pelos gregos, se estabeleceram nessa paisagem dominada por colinas hoje cobertas de aldeias, onde há um pequeno porto em cada lugar. Esses povoados estão aninhados nas encostas ou distribuídos à beira-mar.
Para os romanos, que a duras penas a conquistaram, a região era zona de passagem, tanto que as cidades romanas foram levantadas nas suas poucas áreas planas: Albenga, que guarda o traçado ortogonal das ruas, Luni e Gênova, a capital -e o grande porto da região.
Após a queda do Império Romano, a região foi tomada pelos bizantinos e, sucessivamente, por longobardos e francos.
Em mais de 300 km de costas, há praias de areia e pedras, rochedos e falésias, cidades pintadas em tons pastel -e pessoas orgulhosas da tradição marítima. A Ligúria se volta para o mar Mediterrâneo (ou, como dizem os italianos, se abre "verso al mare"). Do Ponente, a oeste -até a fronteira com a França, - ao Levante, a leste e descendo ao mar, a paisagem urbana é bastante variada.
O clima temperado favorece a agricultura. Uns 30% do território constitui-se de faixas de colinas, onde a economia se baseia no cultivo de videiras e oliveiras, bem como de flores e plantas ornamentais.
As cidades nas montanhas são singelas, têm traçado irregular, ruelas em degraus e casas de pedra. Hoje estão cada vez menos povoadas, quando não abandonadas por seus habitantes, que encontraram na costa oportunidades de trabalho. O patrimônio artístico concentra-se nas cidades maiores. Nos centros menores, houve difusão das edificações religiosas românicas, com influências lombardas e pisanas, ou até mesmo barrocas. Praças ornamentadas com pedras como em Cervo, Deiva, Moneglia... ou os pórticos, em Noli.
Pátria de um turismo que dura ininterrupto desde 1800, freqüentada pela elite européia, a Ligúria só agora passou a receber o turismo de massa, como Albenga, um exemplo típico de cidade medieval construída em cima do antigo traçado romano, além de San Remo e Ventimiglia, vizinhas à França. Há turismo chique na famosa Costa Azzura, especialmente em Portofino, Portovenere, Santa Margherita e Rapallo.
Uma visita não deve esquecer a colorida Camogli, antigo centro marítimo e berço de destemidos capitães; ou das famosas Cinque Terre e outros tantos povoados sobre o mar e acessíveis somente por via férrea cavada na rocha; ou a romântica San Fruttuoso, que guarda as tumbas da família Doria, que dominou a região, e a 20 m de profundidade, a estátua do Cristo dos Abismos, em memória aos náufragos; ou, ainda, de Bussana Vecchia, vilarejo destruído por um terremoto no fim de 1800 que se tornou centro de artistas.
A Ligúria é viva e bastante cosmopolita. O importante é não ter pressa: caminhar, respirar e se inspirar, para descobrir, quem sabe, em si mesmo, uma alma sensível e poética.


Colaborou a Redação


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