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FRONTEIRA VERDE
Passeio por rio bisbilhota o cotidiano ribeirinho
Flutuantes são ponto de encontro; ali, locais vêem TV, dançam no fim de semana e compram água mineral
DA ENVIADA ESPECIAL À AMAZÔNIA
Os passeios de barco pelos
rios amazônicos permitem que
o visitante testemunhe fragmentos da rotina na floresta e
contemple a geografia regional.
A primeira constatação é a de
que as voadeiras, nessa área,
equivalem aos carros, e os rios,
às ruas. A garagem das casas é o
pequeno píer improvisado
diante de seus terrenos. E o banho, no entardecer, é na água
do rio, com direito a sabão.
Enquanto circulam pelos
rios, todos se cumprimentam,
quem está na margem dá tchau
para quem vai de barco. Quem
está a bordo saúda quem passa.
Os flutuantes, de onde partem os passeios, são como lojas
de conveniência da floresta. Ali
é vendido de tudo, de água mineral a fósforo, de chave de fenda a pó de café. Acompanhar o
movimento dos moradores da
região chegando com voadeiras
vazias e saindo cheios de compras diz muito sobre a vida nessa região, em que, volta e meia,
os botos vêm à tona causando
comoção mesmo em quem está
lá todos os dias.
À noite, um punhado de gente se reúne no flutuante para
assistir ao "Jornal Nacional" e à
novela das oito e colocar a conversa em dia. E, nos finais de semana, a partir da noite de sexta-feira, o brega, o arrocha e o
forró -prepare-se para ouvir
CDs inteiros da banda Calypso- servem de trilha sonora
para animados arrasta-pés que
se estendem noite adentro.
Os arredores de um flutuante
concentram outros serviços.
No que foi visitado pela Folha,
no rio Preto da Eva, além da
vendinha havia posto de gasolina e um improvável consultório de dentista.
Nas casas às margens dos
rios, os moradores plantam
mandioca e frutas -como maracujá e caju. É comum que as
casas ou as comunidades tenham fornos de farinha, onde
preparam a farinha de mandioca e a tapioca, muito consumidas na região. A pesca também
é parte do cotidiano.
A comunicação entre os moradores é feita por rádio. Uma
central funciona como telefonista. A privacidade é pouca.
Onde há um rádio ligado, ouvem-se as conversas entre os
usuários do sistema.
A água
Na cheia, o rio enche de 7 cm
a 10 cm por dia. Portanto, se estiver lá durante o período de
chuvas, essa água toda vai cair
sobre a sua cabeça.
A navegação pelo rio Amazonas é tranqüila e recheada de
explicações sobre o percurso do
rio, desde o Peru até sua foz, e
sobre a composição da água.
Os rios de água branca, caso
do Amazonas, têm aspecto barrento e são ricos em vida. Têm
pH alto, ou seja, são alcalinos.
Neles, não é recomendado
nadar, pela grande quantidade
de cobras que circulam pelas
águas. Os rios de água negra,
como o rio Negro, têm, como o
nome diz, água escura e ácida,
menos vida e são, portanto,
aqueles em que se pode nadar.
Um desses rios é o Urubu,
onde os hotéis que ficam a leste
de Manaus costumam fazer
passeios e onde está sendo erguido o hotel-flutuante do
Amazonat Jungle Lodge.
O passeio por esse rio tem
uma vantagem sobre o passeio
no Amazonas. As margens são
mais acidentadas, há mais
ilhas, mais coisas acontecem.
Há casas de caboclos e aldeia de
índios. Igapós e ilhas.
O mergulho no rio é recomendável. É curioso nadar na
água escura e o fundo do rio é
de areia, como na praia, o que
dá alguma tranqüilidade.
(HL)
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