São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2007

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internacional

Ushuaia, a "cidade no fim do mundo", transborda de navios

BOOM TURÍST ICO Sem estrutura, cidade a 3.000 km ao sul de Buenos Aires enfrenta problemas como a ameaça ambiental

DA REUTERS

Turistas estrangeiros desembarcam de luxuosos navios de cruzeiro loucos para comer um pouco da suculenta carne de caranguejos gigantes. Logo ali, crianças maltrapilhas observam o movimento a partir de acampamentos improvisados.
Os turistas chegam aos montes a Ushuaia, cidade que fica 3.000 km ao sul de Buenos Aires, espremida entre uma límpida baía e montanhas cobertas de neve dos Andes, atraídos pelos glaciares azuis, pelos pingüins da Antártica e pela queda no peso desde a sua desvalorização, ocorrida em 2002.
Mas o boom do turismo no lugar conhecido como "cidade no fim do mundo" não teve os resultados positivos esperados por causa da falta de estrutura. Com as levas de turistas ocorreu, por exemplo, uma caótica onda de migrantes em busca de trabalho. O fenômeno aumentou a população em 30% nos últimos seis anos. Atualmente, Ushuaia tem 60 mil habitantes.
A combinação de fatores como espaço limitado, burocracia do governo e pouco planejamento forçou os recém-chegados a ocupar terrenos e a passar pelo inverno em cabanas improvisadas. Alguns se instalaram em regiões de floresta, gerando alertas ambientais.
"Ao mesmo tempo que criou postos de trabalho, o turismo trouxe problemas habitacionais, uma crise no hospital da cidade e problemas na área de educação", enumera Ruben Dominguez, um migrante do centro da Argentina sobre o que ele chama de "problemas relacionados ao progresso".

Investimentos
As redes Sheraton e Hilton estão planejando implantar unidades e há previsão de construções de um shopping e de um complexo esportivo. Casas estão sendo erguidas para abrigar 3.500 famílias de uma lista de espera do governo.
Cerca de 350 navios de cruzeiro navegam para a Antártica a partir de Ushuaia -eram 15 dez anos atrás. E o turismo é responsável por um quarto da renda da cidade, segundo o escritório oficial de turismo local.
Os salários são relativamente altos na cidade que inspirou o romance "O Farol do Fim do Mundo", de Julio Verne, e muitos moradores convenceram amigos e familiares a sair dos seus locais de origem e se juntarem-se a eles.

Fora de controle
O atropelo do crescimento de Ushuaia, que tem um dos mais impressionantes complexos de esqui do mundo, pode ainda danificar o ambiente.
Outro problema são as invasões de terra que estão surgindo por todas as cercanias da cidade. Em uma comunidade, conhecida como "o lugar escondido", as pessoas vivem em uma espécie de cabana de plástico montada em uma clareira aberta no meio de um bosque.
"Os bosques têm papel fundamental na nossa comunidade por controlar as chuvas e os deslizamentos de terra. Ushuaia foi construída por migrantes e temos de incluir essas pessoas", fiz Hector Stefani, secretário do governo municipal.
Há pouca terra disponível e os proprietários de casas, que já alugaram quartos para os trabalhadores, agora abrigam turistas. Resultado: aluguéis mais escassos e preços mais altos.
Ushuaia é voltada para o canal Beagle, celebrizado por Charles Darwin em suas expedições pela América do Sul. O crescimento é limitado pela geografia, com pântanos cercando a cidade.
Como o governo é lento para conceder títulos de propriedade de terra, bairros inteiros crescem sem planejamento oficial. "As autoridades não querem que Ushuaia cresça, mas estão perdendo o controle, já que a cidade se desenvolve de qualquer forma", diz Fabricio Osuna, líder da comunidade.
"Muitas pessoas estão vindo para cá para trabalhar em hotéis, no transporte, como guias ou em agências de viagens", diz Miguel Ramirez, presidente do escritório de turismo local.


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