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internacional
Ushuaia, a "cidade no fim do mundo", transborda de navios
BOOM TURÍST ICO Sem estrutura, cidade a 3.000 km ao sul de Buenos Aires enfrenta problemas como a ameaça ambiental
DA REUTERS
Turistas estrangeiros desembarcam de luxuosos navios de
cruzeiro loucos para comer um
pouco da suculenta carne de
caranguejos gigantes. Logo ali,
crianças maltrapilhas observam o movimento a partir de
acampamentos improvisados.
Os turistas chegam aos montes a Ushuaia, cidade que fica
3.000 km ao sul de Buenos Aires, espremida entre uma límpida baía e montanhas cobertas
de neve dos Andes, atraídos pelos glaciares azuis, pelos pingüins da Antártica e pela queda
no peso desde a sua desvalorização, ocorrida em 2002.
Mas o boom do turismo no
lugar conhecido como "cidade
no fim do mundo" não teve os
resultados positivos esperados
por causa da falta de estrutura.
Com as levas de turistas ocorreu, por exemplo, uma caótica
onda de migrantes em busca de
trabalho. O fenômeno aumentou a população em 30% nos últimos seis anos. Atualmente,
Ushuaia tem 60 mil habitantes.
A combinação de fatores como espaço limitado, burocracia
do governo e pouco planejamento forçou os recém-chegados a ocupar terrenos e a passar
pelo inverno em cabanas improvisadas. Alguns se instalaram em regiões de floresta, gerando alertas ambientais.
"Ao mesmo tempo que criou
postos de trabalho, o turismo
trouxe problemas habitacionais, uma crise no hospital da
cidade e problemas na área de
educação", enumera Ruben
Dominguez, um migrante do
centro da Argentina sobre o
que ele chama de "problemas
relacionados ao progresso".
Investimentos
As redes Sheraton e Hilton
estão planejando implantar
unidades e há previsão de construções de um shopping e de
um complexo esportivo. Casas
estão sendo erguidas para abrigar 3.500 famílias de uma lista
de espera do governo.
Cerca de 350 navios de cruzeiro navegam para a Antártica
a partir de Ushuaia -eram 15
dez anos atrás. E o turismo é
responsável por um quarto da
renda da cidade, segundo o escritório oficial de turismo local.
Os salários são relativamente
altos na cidade que inspirou o
romance "O Farol do Fim do
Mundo", de Julio Verne, e muitos moradores convenceram
amigos e familiares a sair dos
seus locais de origem e se juntarem-se a eles.
Fora de controle
O atropelo do crescimento de
Ushuaia, que tem um dos mais
impressionantes complexos de
esqui do mundo, pode ainda danificar o ambiente.
Outro problema são as invasões de terra que estão surgindo por todas as cercanias da cidade. Em uma comunidade, conhecida como "o lugar escondido", as pessoas vivem em uma
espécie de cabana de plástico
montada em uma clareira aberta no meio de um bosque.
"Os bosques têm papel fundamental na nossa comunidade por controlar as chuvas e os
deslizamentos de terra. Ushuaia foi construída por migrantes e temos de incluir essas
pessoas", fiz Hector Stefani, secretário do governo municipal.
Há pouca terra disponível e
os proprietários de casas, que já
alugaram quartos para os trabalhadores, agora abrigam turistas. Resultado: aluguéis mais
escassos e preços mais altos.
Ushuaia é voltada para o canal Beagle, celebrizado por
Charles Darwin em suas expedições pela América do Sul. O
crescimento é limitado pela
geografia, com pântanos cercando a cidade.
Como o governo é lento para
conceder títulos de propriedade de terra, bairros inteiros
crescem sem planejamento oficial. "As autoridades não querem que Ushuaia cresça, mas
estão perdendo o controle, já
que a cidade se desenvolve de
qualquer forma", diz Fabricio
Osuna, líder da comunidade.
"Muitas pessoas estão vindo
para cá para trabalhar em hotéis, no transporte, como guias
ou em agências de viagens", diz
Miguel Ramirez, presidente do
escritório de turismo local.
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