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MESA E MONTANHA
No Sukalde, nem tudo é o que parece ser
Matías Palomo, ex-aprendiz dos chefs Daniel Boulud e Ferran Adrià, transforma iogurte e laranja em ovo
DA ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
No Sukalde (www.sukalde.cl), o ovo não é ovo, o caviar
não é caviar, e o sushi não é
sushi. Parece esquisito. E é.
Mas só se for "exquisito", em
castelhano, termo com significado positivo, de exótico. Comer no restaurante de Matías
Palomo, 30, é delicioso.
Para provar as criações do jovem chef mexicano -que trabalhou no El Bulli, do catalão
Ferran Adrià, na Costa Brava
espanhola, há três anos abriu o
seu restaurante e em 2007 foi
considerado o chef do ano pelo
Círculo de Cronistas Gastronômicos do Chile-, faça reserva.
Sem ela, nada de mesa. Se a
fizer pela internet, leve o comprovante. Quando a reportagem da Folha esteve lá, sem se
identificar, há duas semanas,
quase ficou sem jantar por causa de uma falha do serviço, que
anotou o horário errado. Ainda
bem -mesmo!- que a reserva
estava impressa e na carteira.
Depois do jantar, Palomo foi
à mesa, para se desculpar. A entrevista abaixo é, em parte, o
bate-papo no restaurante e, em
parte, uma conversa posterior
via e-mail.
(PRISCILA PASTRE-ROSSI)
FOLHA - Em que momento da sua
carreira você trabalhou no El Bulli?
PALOMO - Depois de estudar
gastronomia em Santiago, voltei ao México e estagiei no Costa Vasca, com Luis Marcet e o
chef Iñaki Aguirre. Retornei ao
Chile, onde trabalhei no Marriott e no Arzak (www.arzak.info), com Juan Mari Arzak.
De lá, fui para o Daniel (www.danielnyc.com), de Daniel
Boulud, em Nova York, onde fiquei por um ano e meio. Nessa
época, o Juan Mari me apresentou ao Ferran Adrià. Em
quatro meses, eu começava o
estágio no El Bulli (www.elbulli.com), que durou seis meses.
FOLHA - Que influências de Adrià
você carrega?
PALOMO - Todos que trabalham
com Ferran aprendem coisas
fundamentais, que são o cuidado com os produtos, com a matéria-prima, e o interesse de desenvolver novas técnicas. Além
da importância de dar toques
de surpresa em cada prato.
FOLHA - Como define sua cozinha?
PALOMO - Arte com ciência e
pitadas de magia e surpresa.
FOLHA - Que ingredientes não podem faltar na sua cozinha?
PALOMO - Sal, batata, cebola,
pescados frescos, azeite de oliva... A verdade é que, com a
quantidade de produtos de primeira qualidade que existe no
Chile, é difícil decidir por um.
FOLHA - Seu cardápio muda de
quanto em quanto tempo?
PALOMO - Ele muda a cada três
ou quatro meses. O próximo
entrará na metade deste mês.
FOLHA - O prato de pato vem com
um ovo que não é ovo. Pode nos
contar o segredo?
PALOMO - A clara é uma espuma de cardamomo, mel, creme
e um iogurte com lactobacilos.
A gema é feita de laranja fresca
com goma xanthana e açúcar. A
mistura é congelada em moldes
de formato esférico e banhada
em gelatina.
FOLHA - E quanto ao prato com
sushis, entre as sobremesas?
PALOMO - Para o molho, usa-se
caramelo, calda de açúcar e
baunilha. Para o wasabi (raiz
forte), usamos azeite de menta
e açúcar. Para o nori, fazemos
um papel de damascos com tinta de lula. No lugar do gengibre,
maçãs em compota. E para o
rolinho usamos arroz, kiwi,
creme de queijo e marmelo.
FOLHA - Como é o movimento dos
chefs da nova geração do Chile, do
qual você faz parte?
PALOMO - É um movimento de
jovens cozinheiros que voltaram da Europa com conhecimento, novas técnicas e vontade de mostrar o que aprenderam. Encontramos aqui produtos de igual ou melhor nível do
que os encontrados na Europa.
Inclusive alguns sem visibilidade, mas com muito potencial,
como os pescados chilenos, que
são famosos, mas dos quais só
são conhecidas 15 das 95 espécies. Ou as batatas, que têm entre 350 e 900 variedades. E os
cogumelos, dos quais existem
25 variedades -15 delas só no
Chile. Sem contar os vinhos, o
salmão e o azeite de oliva, esse,
aliás, a nova jóia chilena.
FOLHA - Qual é o objetivo da união
desses chefs?
PALOMO - Mudar os hábitos alimentares do Chile, aproveitando melhor nossos recursos e
apoiando a nossa gastronomia.
O próximo passo será reunir
chefs latinos, para desenvolver
a cozinha latino-americana.
FOLHA - Planeja ir a São Paulo?
PALOMO - Tenho dois convites,
para jornada gastronômica do
Chile no InterContinental SP,
de 26 a 30/8, e para o encontro
da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, em 9 e 10/9.
FOLHA - O que você conhece da cozinha brasileira?
PALOMO - Feijoada, caipirinha,
farofa, cajuzinhos.
FOLHA - Como você reinterpretaria
a feijoada?
PALOMO - (Rindo) Com tempo,
tentaria fazer espuma de laranja e crocante de feijão preto.
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