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San Marco é epicentro da cidade
Frágil, Veneza paira acima da Laguna
DO ENVIADO ESPECIAL AO MEDITERRÂNEO
O ditado "todos os caminhos levam a Roma" não vale para Veneza, onde os passeios começam na
piazza San Marco. Edificada sobre ilhotas do Adriático com técnica que usou estaqueamento de
madeira a partir de 600 d.C. e ocupando um décimo da região da
Laguna, de 55 mil hectares, a cidade é tão bela quanto frágil, com
seus 150 canais e 400 pontes.
Assim, Veneza nasceu debruçada nas águas, à beira do Grande
Canal, que, de troça, o poeta futurista -e protofascista- Filippo
Tommaso Marinetti propôs asfaltar no início do século 20.
No "molo", onde ficam ancoradas diversas gôndolas, tem início
a Piazzetta, espécie de marco zero
da cidade. Duas colunas marcam
o local, e o leão alado, símbolo
onipresente, encima uma delas.
À direita de quem entra na direção da piazza San Marco, o palácio Ducal, projeto de Felipe Calendário, foi edificado a partir de
1309. Símbolo do poder quando a
cidade era sede da República Sereníssima, é o mais importante
prédio público veneziano.
Revolucionário
O arquiteto Oscar Niemeyer afirma que a obra é revolucionária até
hoje, pois "antecipa a arquitetura
moderna, com a estrutura cheia
de arcos e curvas, o contraste da
fachada quase cega e, no interior,
o grande salão sem colunas e o
vão enorme". Para o arquiteto
brasileiro, que imprimiu lirismo à
arquitetura moderna, o palácio
Ducal, concluído no Renascimento, inovou ao inverter conceitos: a
parte mais pesada fica em cima;
os arcos, na parte inferior.
À esquerda, pouco antes da praça se revelar por inteiro, fica o
Campanário, torre de 99 m que,
erguida em 1173 para ser um farol,
desmoronou em 1902 e foi reinaugurada em 1912, ano, aliás, em que
o romancista alemão (de mãe
brasileira) Thomas Mann publicou "Morte em Veneza".
O passeio pela praça continua
até a basílica de San Marco, na
verdade, quase uma mesquita.
Com detalhes românicos do século 13, a igreja ganhou uma aparência próxima da atual já no século
11, misturando estilos do Oriente
e do Ocidente -é cravejada de
mosaicos bizantinos. Na fachada,
os cavalos de bronze vieram de
Constantinopla, hoje Istambul,
onde ornamentavam o hipódromo ao lado da mesquita Azul.
Mais à frente, a torre dell'Orologio, com seu mostrador complexo e os sinos tocados por duas estátuas, está lá desde o século 15.
Finalmente, à esquerda, a piazza
San Marco se descortina, emoldurada por galerias cobertas onde
estão lojas e cafés caríssimos (caso
do Florian, onde um expresso
custa 7,50).
Veneza em tela
Além da Veneza feita de pedra e
cal, há outra, feita de tinta a óleo e
de tela, plasmada em pinturas de
mestres como Antonio Canal, dito o Canaletto (1696-1768), e
Francesco Guardi (1712-1793).
Essa pintura, de cavalete, na verdade não era tão reconhecida pela
Accademia di Belle Arte, que valorizava artistas que produziam
inspirados pela obra de Tiziano
Vecelli, pintor que, ao morrer, em
1576, havia influenciado artistas
como Jacopo Robusti, Tintoretto
(1512?-1594); Paolo Caliari, o Veronese (1528-1588); e Giambatista
Tiepolo (1696-1770) -pintores
que, no entanto, não retrataram a
cidade propriamente dita.
Mas certamente foi Canaletto,
aceito pela Accademia apenas em
1763, pouco tempo antes de morrer, o pintor que mais ajudou a divulgar a imagem de Veneza como
um lugar único no mundo.
Outro monumento quase artístico de Veneza são as gôndolas,
embarcações típicas que conservam as mesmas formas desde pelo menos 1490.
(SILVIO CIOFFI)
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