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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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San Marco é epicentro da cidade

Frágil, Veneza paira acima da Laguna

DO ENVIADO ESPECIAL AO MEDITERRÂNEO

O ditado "todos os caminhos levam a Roma" não vale para Veneza, onde os passeios começam na piazza San Marco. Edificada sobre ilhotas do Adriático com técnica que usou estaqueamento de madeira a partir de 600 d.C. e ocupando um décimo da região da Laguna, de 55 mil hectares, a cidade é tão bela quanto frágil, com seus 150 canais e 400 pontes.
Assim, Veneza nasceu debruçada nas águas, à beira do Grande Canal, que, de troça, o poeta futurista -e protofascista- Filippo Tommaso Marinetti propôs asfaltar no início do século 20.
No "molo", onde ficam ancoradas diversas gôndolas, tem início a Piazzetta, espécie de marco zero da cidade. Duas colunas marcam o local, e o leão alado, símbolo onipresente, encima uma delas.
À direita de quem entra na direção da piazza San Marco, o palácio Ducal, projeto de Felipe Calendário, foi edificado a partir de 1309. Símbolo do poder quando a cidade era sede da República Sereníssima, é o mais importante prédio público veneziano.

Revolucionário
O arquiteto Oscar Niemeyer afirma que a obra é revolucionária até hoje, pois "antecipa a arquitetura moderna, com a estrutura cheia de arcos e curvas, o contraste da fachada quase cega e, no interior, o grande salão sem colunas e o vão enorme". Para o arquiteto brasileiro, que imprimiu lirismo à arquitetura moderna, o palácio Ducal, concluído no Renascimento, inovou ao inverter conceitos: a parte mais pesada fica em cima; os arcos, na parte inferior.
À esquerda, pouco antes da praça se revelar por inteiro, fica o Campanário, torre de 99 m que, erguida em 1173 para ser um farol, desmoronou em 1902 e foi reinaugurada em 1912, ano, aliás, em que o romancista alemão (de mãe brasileira) Thomas Mann publicou "Morte em Veneza".
O passeio pela praça continua até a basílica de San Marco, na verdade, quase uma mesquita. Com detalhes românicos do século 13, a igreja ganhou uma aparência próxima da atual já no século 11, misturando estilos do Oriente e do Ocidente -é cravejada de mosaicos bizantinos. Na fachada, os cavalos de bronze vieram de Constantinopla, hoje Istambul, onde ornamentavam o hipódromo ao lado da mesquita Azul.
Mais à frente, a torre dell'Orologio, com seu mostrador complexo e os sinos tocados por duas estátuas, está lá desde o século 15.
Finalmente, à esquerda, a piazza San Marco se descortina, emoldurada por galerias cobertas onde estão lojas e cafés caríssimos (caso do Florian, onde um expresso custa 7,50).

Veneza em tela
Além da Veneza feita de pedra e cal, há outra, feita de tinta a óleo e de tela, plasmada em pinturas de mestres como Antonio Canal, dito o Canaletto (1696-1768), e Francesco Guardi (1712-1793).
Essa pintura, de cavalete, na verdade não era tão reconhecida pela Accademia di Belle Arte, que valorizava artistas que produziam inspirados pela obra de Tiziano Vecelli, pintor que, ao morrer, em 1576, havia influenciado artistas como Jacopo Robusti, Tintoretto (1512?-1594); Paolo Caliari, o Veronese (1528-1588); e Giambatista Tiepolo (1696-1770) -pintores que, no entanto, não retrataram a cidade propriamente dita.
Mas certamente foi Canaletto, aceito pela Accademia apenas em 1763, pouco tempo antes de morrer, o pintor que mais ajudou a divulgar a imagem de Veneza como um lugar único no mundo.
Outro monumento quase artístico de Veneza são as gôndolas, embarcações típicas que conservam as mesmas formas desde pelo menos 1490.
(SILVIO CIOFFI)


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