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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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Lado ocidental do Bósforo proporciona visão de palácios e de mesquitas, como a Azul, do séc.17

Dourado de Istambul "acorda" passageiro

DO ENVIADO ESPECIAL AO MEDITERRÂNEO

A lembrança da chegada a Istambul num transatlântico imenso como o Costa Atlantica é dourada, marcada pela visão das cúpulas rasas e dos incontáveis minaretes dos dois lados do estreito de Bósforo -a cidade tem perto de 2.000 mesquitas.
Metrópole dividida, com metade do território no sudeste da Europa e outra no centro-oeste da Ásia, Istambul, onde vivem oficialmente 8 milhões de habitantes, foi historicamente abalroada por um mundo de influências.
O poeta e ensaísta russo Joseph Brodsky, no livro "Menos Que Um", anota que a maior cidade turca é um lugar onde "a história é inescapável, como um acidente de estrada", local "em que a geografia provoca a história".
Assentada sobre colinas, banhada pelo mar Negro e pelo mar de Mármara, Istambul, que já foi Constantinopla e também já foi Bizâncio, não é hoje a capital da Turquia -primazia reservada a Ancara. Assim, a antiga sede dos impérios Bizantino, Romano e Otomano é importante destino turístico, servido por empresas aéreas da Europa e dos EUA.

Sol na janela
Os transatlânticos de cruzeiro aportam no Salê Bazar, no lado oriental do Bósforo (cuidado, o porto é onde atracam navios de carga), e, como chegam em geral bem cedo a Istambul, depois de uma noite atravessando o mar de Mármara -o "mar entre mares", que liga o Egeu ao Negro-, revelam a cidade recebendo o Sol da manhã, recompensando com uma visão mágica o passageiro que pula da cama antes da 8h.
Ao longe, no lado ocidental, dá para avistar a silhueta da mesquita Azul, do palácio Topkapi e do museu Santa Sofia. Esses três locais, ao lado do Grande Bazar, onde há de tudo, e do mercado Egípcio, especializado em especiarias, encerram enorme interesse.

Lua e estrela
Edificada de 1609 a 1616 pelo sultão Ahmet 1º, a mesquita Azul é, para os muçulmanos, a própria imagem do islã: tem o interior revestido com azulejos de Iznik, caracterizados pelos tons de azul e inscritos com versos do Corão -escritos em árabe, embora a Turquia adote, desde 1923, caracteres ocidentais. O conjunto é único, rodeado por seis minaretes, com a cúpula central sustentada por quatro colunas de mármore, de 5 m de diâmetro cada uma. Além da cúpula, as "patas de elefante" (apelido das colunas) sustentam quatro meias cúpulas.
Nas paredes internas, as peças dos vitrais multicoloridos não são as originais do século 17; tampouco as lampadinhas, instaladas nos pequenos lustres para iluminar timidamente o espaço destinado às orações, que tomaram o lugar dos velhos candeeiros a óleo.
Mas nem por isso a mesquita Azul, criticada pela opulência por ter sido construída no sultanato de Ahmet, quando a riqueza otomana declinava, deixa de transportar o visitante no tempo -isso diariamente, das 9h às 17h, quando o templo fica aberto. Na entrada, uma fila leva até o terraço onde é preciso tirar os sapatos.
Mais de 95% dos turcos são muçulmanos -e os islamitas rezam voltados para a cidade de Meca (atualmente na Arábia Saudita).
Cada pequeno tapete serve para uma pessoa orar e, antes de entrar no templo, o fiel lava numa fonte as mãos, os pés e o rosto.

Santa Sofia
Atravessando um jardim espetacular e o local onde ficava o hipódromo, marcado por um obelisco egípcio e pela enigmática coluna das serpentes, chega-se à Santa Sofia, concebida para ser uma igreja na época bizantina ou "o espelho terrestre do céu", na imaginação dos homens que a criaram no século 6º.
Logo na entrada há um mosaico cristão do século 9º. Os mosaicos foram, aliás, tapados com cal pelos muçulmanos -e redescobertos, intactos, apenas em 1936.
Construída pelo imperador romano Constantino e por seu filho entre 314-360 d.C. e reconstruída por Justiniano no ano 540, a estrutura da Santa Sofia foi modelo de basílicas em todo o mundo.
Em 1453, quando os turcos conquistaram Constantinopla, a Santa Sofia foi transformada em mesquita, teve seu piso mudado e seus mosaicos bizantinos ocultados. Como a tradição muçulmana reza que é proibido representar figuras humanas, a decoração do templo ganhou motivos florais.
Na Santa Sofia, que fica aberta das 9h às 16h, de terça a domingo, os mármores de cores vibrantes, por vezes em tons de vermelho com veios brancos, foram usados na área interna. Vale notar que as pedras foram montadas com os veios encaixados para que parecessem flores ou ondas, dotando o ambiente de um mágico sentido de continuidade. (SILVIO CIOFFI)


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