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Lado ocidental do Bósforo proporciona visão de palácios e de mesquitas, como a Azul, do séc.17
Dourado de Istambul "acorda" passageiro
DO ENVIADO ESPECIAL AO MEDITERRÂNEO
A lembrança da chegada a Istambul num transatlântico imenso como o Costa Atlantica é dourada, marcada pela visão das cúpulas rasas e dos incontáveis minaretes dos dois lados do estreito
de Bósforo -a cidade tem perto
de 2.000 mesquitas.
Metrópole dividida, com metade do território no sudeste da Europa e outra no centro-oeste da
Ásia, Istambul, onde vivem oficialmente 8 milhões de habitantes, foi historicamente abalroada
por um mundo de influências.
O poeta e ensaísta russo Joseph
Brodsky, no livro "Menos Que
Um", anota que a maior cidade
turca é um lugar onde "a história é
inescapável, como um acidente
de estrada", local "em que a geografia provoca a história".
Assentada sobre colinas, banhada pelo mar Negro e pelo mar de
Mármara, Istambul, que já foi
Constantinopla e também já foi
Bizâncio, não é hoje a capital da
Turquia -primazia reservada a
Ancara. Assim, a antiga sede dos
impérios Bizantino, Romano e
Otomano é importante destino
turístico, servido por empresas
aéreas da Europa e dos EUA.
Sol na janela
Os transatlânticos de cruzeiro
aportam no Salê Bazar, no lado
oriental do Bósforo (cuidado, o
porto é onde atracam navios de
carga), e, como chegam em geral
bem cedo a Istambul, depois de
uma noite atravessando o mar de
Mármara -o "mar entre mares",
que liga o Egeu ao Negro-, revelam a cidade recebendo o Sol da
manhã, recompensando com
uma visão mágica o passageiro
que pula da cama antes da 8h.
Ao longe, no lado ocidental, dá
para avistar a silhueta da mesquita Azul, do palácio Topkapi e do
museu Santa Sofia. Esses três locais, ao lado do Grande Bazar, onde há de tudo, e do mercado Egípcio, especializado em especiarias,
encerram enorme interesse.
Lua e estrela
Edificada de 1609 a 1616 pelo
sultão Ahmet 1º, a mesquita Azul
é, para os muçulmanos, a própria
imagem do islã: tem o interior revestido com azulejos de Iznik, caracterizados pelos tons de azul e
inscritos com versos do Corão
-escritos em árabe, embora a
Turquia adote, desde 1923, caracteres ocidentais. O conjunto é único, rodeado por seis minaretes,
com a cúpula central sustentada
por quatro colunas de mármore,
de 5 m de diâmetro cada uma.
Além da cúpula, as "patas de elefante" (apelido das colunas) sustentam quatro meias cúpulas.
Nas paredes internas, as peças
dos vitrais multicoloridos não são
as originais do século 17; tampouco as lampadinhas, instaladas nos
pequenos lustres para iluminar timidamente o espaço destinado às
orações, que tomaram o lugar dos
velhos candeeiros a óleo.
Mas nem por isso a mesquita
Azul, criticada pela opulência por
ter sido construída no sultanato
de Ahmet, quando a riqueza otomana declinava, deixa de transportar o visitante no tempo -isso diariamente, das 9h às 17h,
quando o templo fica aberto. Na
entrada, uma fila leva até o terraço
onde é preciso tirar os sapatos.
Mais de 95% dos turcos são muçulmanos -e os islamitas rezam
voltados para a cidade de Meca
(atualmente na Arábia Saudita).
Cada pequeno tapete serve para
uma pessoa orar e, antes de entrar
no templo, o fiel lava numa fonte
as mãos, os pés e o rosto.
Santa Sofia
Atravessando um jardim espetacular e o local onde ficava o hipódromo, marcado por um obelisco egípcio e pela enigmática coluna das serpentes, chega-se à
Santa Sofia, concebida para ser
uma igreja na época bizantina ou
"o espelho terrestre do céu", na
imaginação dos homens que a
criaram no século 6º.
Logo na entrada há um mosaico
cristão do século 9º. Os mosaicos
foram, aliás, tapados com cal pelos muçulmanos -e redescobertos, intactos, apenas em 1936.
Construída pelo imperador romano Constantino e por seu filho
entre 314-360 d.C. e reconstruída
por Justiniano no ano 540, a estrutura da Santa Sofia foi modelo
de basílicas em todo o mundo.
Em 1453, quando os turcos conquistaram Constantinopla, a Santa Sofia foi transformada em mesquita, teve seu piso mudado e seus
mosaicos bizantinos ocultados.
Como a tradição muçulmana reza
que é proibido representar figuras
humanas, a decoração do templo
ganhou motivos florais.
Na Santa Sofia, que fica aberta
das 9h às 16h, de terça a domingo,
os mármores de cores vibrantes,
por vezes em tons de vermelho
com veios brancos, foram usados
na área interna. Vale notar que as
pedras foram montadas com os
veios encaixados para que parecessem flores ou ondas, dotando
o ambiente de um mágico sentido
de continuidade.
(SILVIO CIOFFI)
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