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PODER HELVÉCIO
No centro da Europa, nação que desfruta de paisagem alpina decide mês que vem se adere ou não à ONU
Suíça coloca sua neutralidade à prova
PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL À SUÍÇA
Os suíços vão votar no próximo
dia 3 de março uma possível adesão à Organização das Nações
Unidas (ONU), o que para alguns
põe em risco a imagem de neutralidade de que o país desfruta.
O governo da Suíça, formado
por uma coalizão de centro-direita e socialistas, vem exortando
abertamente os cidadãos a aprovarem a proposta, apesar da oposição de um setor da direita populista. "Chegou a hora de a Suíça se
tornar um membro da ONU",
afirmou Kaspar Villiger, ministro
das Finanças que atualmente ocupa a Presidência rotativa anual da
Confederação Helvética, nome
oficial do país.
Na opinião de Villiger, a Suíça
precisa abandonar qualquer tipo
de isolacionismo e compartilhar
com outros Estados a tentativa de
solucionar problemas contemporâneos, o que, segundo ele, seria
"perfeitamente compatível com
nosso conceito de neutralidade".
A Suíça e o Vaticano são os dois
únicos Estados do mundo que
não fazem parte das Nações Unidas, embora ambos tenham status de observador. Apesar disso, a
Suíça é um dos principais colaboradores da ONU e integra diversas de suas agências. O país participou e abrigou, após a Primeira
Guerra (1914-1918), a Sociedades
das Nações, embrião da ONU.
Atualmente, fica em Genebra a
sede européia da ONU e uma dezena de agências especializadas
dessa organização internacional,
como o Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e a Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Estrategicamente situada no
centro da Europa, a Suíça não é
neutra somente quando se trata
de exibir belas paisagens emolduradas por montanhas nevadas riscadas por pistas de esqui (leia
mais nas págs. F3 e F4).
Maioria a favor
Pesquisas de opinião demonstram que 57% dos suíços aprovam a idéia de adesão à ONU, mas
o resultado do referendo ainda
não está definido. De acordo com
o sistema suíço de democracia direta, integrar a ONU requer não
apenas a maioria dos votos dos
eleitores como também a aprovação da maioria dos 26 Cantões
(Estados) suíços. Em 1986, uma
proposta semelhante foi rejeitada.
Atualmente, mais de 10% da população continua indecisa.
O empresário Christoph Blocher, da União Democrata de
Centro (UDC, direita), lidera os
que se opõem à proposta. Blocher
alega que integrar a organização
abalaria a neutralidade suíça e o
sistema de democracia direta,
além de colocar o país à mercê do
restrito clube do Conselho de Segurança da ONU, cujo direito de
veto (exercido por apenas cinco
países) ele descreveu como uma
"abominação".
O empresário se destacou na
campanha contra a adesão à
União Européia (UE). A Suíça
também não integra a Otan
(aliança militar ocidental, liderada pelos EUA).
Em março de 2001, 76,8% dos
suíços rechaçaram qualquer negociação para aderir à UE. Em
maio de 2000, 67,2% aprovaram
acordos firmados com a organização. Nunca houve um referendo cogitando a possibilidade de
uma integração à Otan.
O governo argumenta que a
Suíça já participou de missões de
paz lideradas pela ONU. Afirma
ainda que a adesão só custaria
cerca de US$ 42 milhões, enquanto o país doa US$ 280 milhões
anualmente a agências das Nações Unidas. Os que pedem "não"
ao referendo dizem que a burocracia e as viagens diplomáticas
não foram inclusas no cálculo.
Com o respaldo do Ministério
das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa, o presidente
diz que a ONU não poderia forçar
a Suíça a participar de operações
militares ou reduzir sua alegada
neutralidade. "Já está mais do que
na hora de que os que apresentaram a proposta se dediquem com
mais coragem a integrar a ONU
-e com argumentos convincentes", comentou o jornal liberal
"Tages-Anzeiger".
A comunicação certamente não
será um problema caso a Suíça se
torne o 190º membro das Nações
Unidas. O país tem quatro idiomas oficiais (alemão, francês, italiano e reto-romano), e o monolinguismo é incomum.
Talvez ensaiando para um envolvimento maior com a comunidade internacional, a Suíça permitiu que grupos rebeldes e representantes governamentais do
Sudão se reunissem ali, no início
do ano, para negociar um cessar-fogo à guerra que já dura mais de
18 anos e que deixou um saldo de
ao menos 2 milhões de mortos
naquele país africano.
Outro sinal de abertura são as
cada vez mais comuns quebras de
sigilo bancário no país.
Neonazistas
Um dos fenômenos que preocupam o governo suíço é a participação política de grupos de extrema direita. O Partido Nacional da
Suíça (neonazista) já anunciou a
intenção de participar das próximas eleições legislativas, no ano
que vem. Alguns membros de outro grupo neonazista, o Partido
dos Suíços da Orientação Nacional, também vêm tentando entrar
em partidos suíços.
A polícia tem o registro de 950
neonazistas (segundo dados do final do ano passado).
Paulo Daniel Farah viajou a convite do
Centro Oficial de Turismo Suíço (ST) e da
companhia aérea TAM
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