São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2002

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Gastos e insegurança levam a discussão sobre papel do Exército

DO ENVIADO ESPECIAL

Os suíços discutiram, no final do ano passado, uma proposta para pôr fim ao Exército. Tanto os que votaram a favor quanto os que se manifestaram contra a proposta de eliminação do Exército declararam que os atentados contra o World Trade Center, em Nova York, e contra o Pentágono, nos arredores de Washington, em 11 de setembro do ano passado, aumentaram a sensação de insegurança no país.
O aeroporto de Zurique (um dos cinco internacionais que existem na Suíça) teve sua segurança reforçada nos últimos meses. Atualmente, vêem-se submetralhadoras no local.
Embora o país não tenha sofrido nenhum ataque nos últimos séculos, todos os homens devem passar por um treinamento militar anual. A Suíça se declarou neutra em 1515, e sua última batalha contra uma potência estrangeira foi em 1798, quando Napoleão a invadiu.
O país, que conservou uma certa neutralidade durante as duas grandes guerras mundiais, não é membro nem da Organização das Nações Unidas nem da Otan (aliança militar ocidental).
Os que se opõem à manutenção do Exército afirmam que é dispendioso demais e que o governo não tem nenhuma estratégia para reduzir os custos no médio prazo. Por volta de US$ 5,4 bilhões são gastos anualmente com o Exército -um quinto do Orçamento.
Além disso, afirmam que não há necessidade de manter um Exército porque a Suíça está rodeada de países da União Européia. "Nenhuma potência militar nos ameaça... Contra quem as pessoas supõem que nós nos defenderemos? A União Européia? A Otan?", dizem. A iniciativa (rejeitada) propunha incluir na Constituição federal a frase "A Suíça não tem Exército" e o conceito de que a segurança nacional se constrói com a redução das "injustiças que provocam conflitos" em várias partes do mundo.
"A insegurança provocada pelos ataques de 11 de setembro dificultou uma discussão mais racional da política de defesa", disse Jo Lang, porta-voz da coalizão Suíça sem Exército.
Já para o ministro da Defesa da Suíça, Samuel Schmid, o resultado foi um "voto em prol da segurança e contra a aventura". Na opinião de Schmid, "a eliminação do Exército suíço não teria feito nada por um mundo mais seguro, mas definitivamente teria deixado a Suíça menos segura".
Em documento oficial, o governo incentivou os votantes a rechaçar a proposta. "Para garantir o direito de vida em um país onde reinam a paz, a liberdade e a independência, a Suíça deve estar em condições de rejeitar um ataque militar", dizia o documento suíço.

Democracia direta
Segundo uma lei suíça, qualquer cidadão tem o direito de convocar um referendo caso colete ao menos 100 mil assinaturas de respaldo. Foi o que permitiu a discussão da proposta -apresentada antes dos atentados nos EUA.
Mas, para haver uma eventual implementação, todas as resoluções têm de ser aprovadas pela maioria dos 26 Cantões suíços e por uma maioria absoluta de eleitores. Desde 1980, das 66 resoluções apresentadas por pessoas sem ligação com o governo para referendo, apenas cinco foram aprovadas. (PDF)


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