São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2002

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MUSEUS HELVÉCIOS

Nazistas taxaram de "arte degenerada" a obra do pintor que viveu na Suíça de 1917 até a sua morte, em 1938

Kirchner legou à pintura cores dramáticas

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

A história da arte não fez a devida justiça à obra de Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), pintor que, radicado na Suíça, legou à pintura óleos de formas rudes -e cores tão estranhas quanto vibrantes.
Nascido na Alemanha, Kirchner legou ao mundo uma pintura tortuosa, difícil de classificar. Talvez por isso tenha sido execrado pelo regime nazista.
Inicialmente, participou de um movimento artístico batizado de Die Brüecke (ou A Ponte). Mas sua obra, que pelas cores se associa ao fauvismo e cuja solidão lembra o expressionismo nórdico de Edvard Munch, faz, de fato, uma ponte entre o que de mais visceral aconteceu nas artes plásticas no período entreguerras.
Dentro do grupo Die Brüecke, Kirchner rivalizava com Erich Heckel (e há quem diga que ambos antecipavam a data de suas obras para parecerem ainda mais inovadores).
Atrás de mudanças, Kirchner morou em Dresden, a partir de 1905, e, em 1911, passou a viver em Berlim, duas das maiores metrópoles culturais alemãs.
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o pintor virou soldado -e acabou por sucumbir ao estresse e à tuberculose, mudando, em 1917, para a Suíça, famosa por seus sanatórios.
E foi lá que a sua arte deitou raízes, sofrendo ainda influências da obra de gênios tão díspares como Pablo Picasso, Vincent van Gogh e Paul Gauguin.
O curioso é que mesmo as paisagens invernais mais helvécias assumem, na pintura viva e angulosa de Kirchner, cores berrantes, estranhas, quase improváveis.
Opositores da invenção artística, adeptos de uma padronização que seria clássica, se não fosse mecânica, em 1937 os nazistas organizaram em Munique uma exposição para criticar o que chamaram de "arte degenerada".
Kirchner, que não cabia na forma cinzenta dos tempos de chumbo que se enunciavam, cometeu suicídio um ano depois, em 1938, na localidade de Fauenkisch, nos arredores de Davos.
A Segunda Guerra (1939-1945) eclodiu e a Suíça permaneceu neutra durante o conflito.
Talvez neutra demais para projetar a obra desse pintor que, desprezado pelos nazistas, ainda não foi devidamente reconhecido.



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