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Vampiro suga água-de-coco no Rio
da Reportagem Local
Um ensolarado dia de verão em
uma praia de Copacabana. Uma
obrigação para o turista que chega
ao Brasil, cumprida, no início dos
anos 70, por um vampiro.
"Nosferatu no Brasil", filme
realizado pelo cineasta Ivan Cardoso em 1971, ajudou a tirar os
vampiros do restrito espaço das
sombras e da Transilvânia.
Um pouco como consequência
do que já havia acontecido nos
EUA, o vampiro, no Brasil, tornou-se um símbolo para a contracultura. Isso, no país, significou
uma radical carnavalização.
"Nosferatu foi um projeto da
mais pura experimentação", conta Cardoso. E nada mais experimental do que filmar a história de
um vampiro que toma banho de
mar no incrível verão carioca.
"Ele é único vampiro que usa
sunga e bebe água-de-coco." Necessário dizer que, nessa visão tropicalista, resultando em um sugador de sangue bem mais solar, o
Nosferatu, ainda que na praia, não
abandona a capa escura.
E por que um vampiro consegue
passar de vilão a ícone da rebeldia,
tão brasileiro -e internacional-
quanto Carmen Miranda e Oswald
de Andrade?
Com certeza por uma nova leitura do mito. Sai a imagem de monstro assustador e entra a de jovem
revolucionário, um estranho no
corpo social, obrigado sempre a
estar à margem e que possui, de
maneira inegável, uma atração irresistível pela diferença.
Não por acaso, foi adotado também como tema entre músicos
brasileiros que pretendiam a originalidade, como Jorge Mautner e
Rita Lee.
Mas essa "nacionalização" não
se restringe aos anos 60. Cardoso
promete, com produção do norte-americano Roger Corman,
"Drácula no Carnaval", enquanto o cineasta Walter Rogerio filma
"Olhos de Vampa", sobre um
vampiro obcecado por nádegas de
mulheres.
Uma das mais reconhecidas traduções da alma brasileira.
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