São Paulo, segunda, 11 de agosto de 1997.



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Vampiro suga água-de-coco no Rio

da Reportagem Local

Um ensolarado dia de verão em uma praia de Copacabana. Uma obrigação para o turista que chega ao Brasil, cumprida, no início dos anos 70, por um vampiro.
"Nosferatu no Brasil", filme realizado pelo cineasta Ivan Cardoso em 1971, ajudou a tirar os vampiros do restrito espaço das sombras e da Transilvânia.
Um pouco como consequência do que já havia acontecido nos EUA, o vampiro, no Brasil, tornou-se um símbolo para a contracultura. Isso, no país, significou uma radical carnavalização.
"Nosferatu foi um projeto da mais pura experimentação", conta Cardoso. E nada mais experimental do que filmar a história de um vampiro que toma banho de mar no incrível verão carioca.
"Ele é único vampiro que usa sunga e bebe água-de-coco." Necessário dizer que, nessa visão tropicalista, resultando em um sugador de sangue bem mais solar, o Nosferatu, ainda que na praia, não abandona a capa escura.
E por que um vampiro consegue passar de vilão a ícone da rebeldia, tão brasileiro -e internacional- quanto Carmen Miranda e Oswald de Andrade?
Com certeza por uma nova leitura do mito. Sai a imagem de monstro assustador e entra a de jovem revolucionário, um estranho no corpo social, obrigado sempre a estar à margem e que possui, de maneira inegável, uma atração irresistível pela diferença.
Não por acaso, foi adotado também como tema entre músicos brasileiros que pretendiam a originalidade, como Jorge Mautner e Rita Lee.
Mas essa "nacionalização" não se restringe aos anos 60. Cardoso promete, com produção do norte-americano Roger Corman, "Drácula no Carnaval", enquanto o cineasta Walter Rogerio filma "Olhos de Vampa", sobre um vampiro obcecado por nádegas de mulheres.
Uma das mais reconhecidas traduções da alma brasileira.



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